quinta-feira, 19 de setembro de 2019

OPINIÃO: "Mate o Mensageiro"?




Tem algo nos emburrecendo quanto a crítica e acho que precisamos mesmo falar sobre isso. 

Pra início de conversa, vamos lá deixar duas coisas claras:

1) Não sou crítico profissional, apesar de estar me jogando de cabeça nas teorias literárias que me gabaritam a chamar o que faço de “crítica”;

2) Este texto não é endereçado a ninguém específico, mas posso citar algo que li, de qualquer forma, não se preocupem em se defenderem caso se sintam "atingidos".

A bem da verdade eu já estava pensando em fazer um texto sobre a importância da crítica alguns dias atrás para encher linguiça numa dessas noites à toa. Me enrolei e a feliz coincidência que tive ao ver o povo daqui, ontem, descendo o caceto no Thales de Menezes por causa de um texto que pode ser lido AQUI.


Não acho que o Thales esteja de todo errado. Tirando a parte em que ele usa o termo “asqueroso” e zoa a cara do ator Sylvester Stallone, é apenas um texto de alguém com opiniões sobre a falta de história e excesso de violência vazia que o filme sofre. A ele soma-se:

Observatório de Cinema

"Na tentativa de tornar-se sério no retrato desta violência, sem sacrificar o gore exagerado no final, o filme cria um paradoxo consigo mesmo e só acentua seu retrocesso. Ou seja, seus últimos instantes devem soar deslocados aos espectadores, isso se já não estiverem completamente entediados pela escassez de ação que os precede."

Cinema com Rapadura


"(...)há uma falha do roteiro em tentar transformá-lo em alguém conformado com a natureza da violência. Seguindo o estereótipo do sujeito que se transforma em anti-herói após tanto sofrer perdas pessoais, aqui ele é potencializado, ganhando cenas típicas de filmes “gore” nos quais a violência é o propósito e a natureza da ação."


"Há uma depressão subjacente, por isso, que consegue movimentar dramaticamente até mesmo os segmentos com as piores justificativas possíveis – o interesse de Gabrielle por rever o seu pai não tem muito respaldo. O longa, então, registra intensos segmentos de carnificina – (...)"


Colocar a violência gore de Rambo V: The Last Blood como algo negativo não é um problema. Existem alguns aspectos para que este veredicto possa ser dado e não é um pecado pensar nisso. Se o excesso se deu aqui, não é pelo gore, mas pelos fracos motivos que desencadeiam o gore. Portanto, se há "falha de roteiro, ou que "acentua seu retrocesso", até mesmo linkar a carnificina que perde sentido diante das "piores justificativas possíveis", por que destituímos o crítico de sua importância?


Não me cabe aqui julgar Rambo V. Perdi o interesse na franquia ao final do IV, onde ele me pareceu sem motivo para estar em tela. John Rambo já capengava desde o segundo filme, onde, apesar de tramas geopolíticas (rasas) que justificavam uma certa violência. Pra mim, ao menos, manter o protagonista vivo foi um mero capricho de Stallone que, espertamente tomou essa decisão pensando que Rocky, à época, poderia ter seu fim decretado logo.

Contextualizando: Rambo, originalmente, é o homem que perde o sentido da vida ao perceber que matar é o que lhe restou. Tanto que o final literário é o desfecho que amplifica a crítica á Guerra do Vietnã. Mas ok, Sylvester Stallone tomou uma decisão financeiramente correta ao mudar o final da adaptação (que seguiria fielmente o livro) e assim conseguiu uma nova franquia para se estabilizar enquanto filmava outras coisas.


Mas o problema que me incomodou foi como, em nome de uma sandice própria, odiamos o crítico. Todos têm o direito à opinião desde que resguarde o respeito. Como diz Otávio Ugá "Se discorda de mim, não diga, 'discordo por que sim', me dê um motivo, argumente, debata.". Por que não estamos debatendo, então?


Li alguns dizerem "Rambo sempre foi violento assim". Discordo. Violento, com certeza. Violento "assim" como Last Blood, não.


Em retrospecto, vamos analisar a Classificação Etária de cada filme do personagem até este último:


Rambo - Programado Para Matar — Não recomendado para menores de 14 anos

Rambo II - A Missão — Não recomendado para menores de 14 anos


Rambo III  Não recomendado para menores de 14 anos

Rambo IV — Não recomendado para menores de 18 anos

Rambo V: Até o Fim — Não recomendado para menores de 18 anos



Rambo nunca foi filme de pegar leve, mas não tão pesado quanto no IV e V. Mas precisamos diferenciar entre filme com violência e (como a crítica chama Rambo V) filme com "violência gore", "gore intenso" e "carnificina"

Óbvio que dentre essas minhas pontuações eu não posso me cegar à ideia de que existem críticos que usam dos filmes para escrever besteiras com proselitismo político ou mesmo que simplesmente errem em suas avaliações. Isso não é incomum, mas também não é passível de alguns julgamentos que tenho percebido com o que li ontem aqui que desdenham claramente de todo um trabalho que o profissional tem para ser "rebaixado" por internautas. 

Se o Thales errou, ok. O escárnio não vai resolver. Quantas vezes ele fez isso? Se ele estivesse em busca de seguidores, ou de ovelhas para seu rebanho (como certos Youtubers que fazem isso), eu seria o primeiro a dizer há algo de errado acontecendo. Mas não há. Ou começamos a pontuar os erros e paramos de diminuir o crítico de cinema porque a internet precisa destroçar quem não concorda dela, ou vamos acabar vivendo uma vidinha de "gostei, então é bom". Tudo que vemos no cinema, em sua linguagem, composição, Mise en scène, roteiro, fotografia, edição e atuação tem um porque. E é esse o papel do crítico: Explicar porque aqueles elementos funcionam na hora de te fazer sentir o que sentiu, ou porque aquilo pode ter falhado em sua intenção real. 

O filme não vai agradar o crítico porque o Rambo vai ser tornar amigo dos criminosos. Rambo vai agradar o crítico quando conseguir passar suas mensagens de uma forma que traga a ele o mesmo sentimento que trouxe ao público em geral, de uma forma mais técnica. E nem por isso precisamos diminuir seu papel. 

O crítico não é o dono da verdade. Mas por ele passam processos cinematográficos teóricos e práticos que podem ajudar a nós também na compreensão do que é mostrado em tela. Crítica é o início e não o final do ato de termos uma conclusão própria. 

Discordar é o processo de refinamento das próprias opiniões. Se você gosta da hiper-violência e acha que mesmo que outra pessoa discorde, ela lhe agrada, ok. Isso é válido. Mas nunca colocar sua opinião acima do outro porque aquilo em tela lhe fez bem.

Abraços, 
Saitama de R'lyeh


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