domingo, 5 de janeiro de 2020

Aquele texto gostoso pro seu domingo gostoso, Bora?



Fiz uma baita crítica para o Formiga Elétrica de um livro chamado A Floresta Das Árvores Retorcidas, do Alexandre Callari e me orgulhei muito do que escrevi. Consegui condensar Teoria da Literatura com opinião de uma forma bem legal. Não sou de ficar regularmente feliz com o que escrevo, mas ali consegui algo inédito: algo memorável. Talvez saia essa semana ou na outra, não tenho certeza. Lembro de uma época que eu escrevia uma crítica e saía animado para entregar o texto às pessoas. Hoje, quando termino, edito, reviso e releio, a primeira coisa que eu penso é: eu escrevo exatamente para quem?

Escrever textos sobre literatura é sempre um tiro no escuro. Pode ser um sucesso, pode ser um fracasso. Leitura em geral é feita de forma pobre e rasa no país. Com uma média de 2,43 livros por ano, nem há muito o que esperar mesmo. Mas, todavia, porém, contudo, há um pouco de sentimentalismo no meu texto. Sinto falta do leitor. Sinto falta da pessoa disposta a ler uma opinião, discordar, concordar, se interessar, sair da caixinha do mundo geek que se resume a filmes/séries de heróis e discussões inúteis sobre inserções LGBT’s. Tenho a impressão que o pessoal meio que se emburreceu.

A função de um crítico literário (a qual me considero suavemente um, pois não sou formado na área), é discutível. Na minha visão, um crítico tem a obrigação de explanar, à luz da Teoria Literária, como um livro funciona ou não. Ou seja, apontar o dedo e dar sua opinião, de forma mais embasada do que um simples e pobre “gostei, não gostei”. Nunca me contentei com esse tipo de pensamento. Sempre senti a necessidade de dar um algo a mais pra explicar porque gosto ou não gosto de alguma coisa. Faço isso com livros, mas já fiz com filmes, séries e afins. Se eu vou dar minha opinião, ela precisa ter uma base que ao menos seja discutível a quem se interesse. Na minha cabeça, se QUALQUER UM vai dar uma opinião, precisa disso. Mas claro, respeito limitação de cada um.

Algumas pessoas me perguntaram/questionaram/julgaram o motivo pelo qual deletei o canal Buk Book algum tempo atrás. E são vários os porquês. Entre os pessoais e a porcaria de Transtorno de Personalidade havia também uma sensação de que o YouTube não abre espaço pra literatura detalhada. Também havia a sensação de inutilidade em mostrar minha cara lá e falar sobre algo que... bom... quase ninguém está interessado. Sempre fui melhor escrevendo do que falando. Sinceramente, também esperava algo a mais do que vi lá. Enfim, são motivos estritamente condenáveis, justamente por serem meus motivos.

Então, depois de todo esse mimimi, volto a pergunta do início do texto. Escrevo pra quem? Quem vai pegar um livro de terror nacional e se entregar a ele porque eu indiquei? Quem vai acompanhar isso? Quem vai abraçar a literatura depois de um texto meu?

A resposta é tão vazia quanto as perguntas.

Ler é uma dádiva. Se apropriar de uma obra temporariamente, vivê-la, senti-la e fazer parte dela é um mundo a parte. Não é um universo pronto, claro. Ela precisa do leitor, mas o leitor só percebe que precisa dela quando se apaixona. Há um certo platonismo na literatura. O autor precisa do leitor, mas o primeiro tem um certo medo da aproximação e ser ignorado. E ao contrário do sentimento de amar de longe, este precisa estar perto.

Então, amar – literariamente falando – é um sentimento fadado ao fracasso. Falar sobre esse amor é ainda mais retumbante. Simples.

Uma vez eu falei pra alguém aqui que escrever é a necessidade de ser lido. Ninguém escreve pra ser ignorado. Ninguém senta na frente de um computador ou celular, digita centenas de caracteres pra simplesmente ver o vácuo à sua frente. Quem escreve apenas pra si, faz isso num diário. Mas se tem algo que aprendi em 2019, quando saí das resenhas ao trazer um texto mais aprofundado, é que as pessoas, algumas vezes, tem medo de conhecer, ou preguiça. Às vezes os dois ao mesmo tempo. Talvez seja desinteresse também. Isso faz com que o vácuo acima citado seja extremamente sentido. Eu o absorvo, mas por vezes, o absorvo mal.

Fico com a impressão de que as pessoas estão interessadas nas obras ruins. E como se luta contra isso? Se for resiliente demais, é passivo. Se for incisivo demais, é prepotente. Se for um meio-termo, é ignorado. Então, sejamos um pouco prepotentes aqui. Pessoas tem medo de sair da caixinha por simples e pura ignorância intelectual. Vamos lidar com isso, ou sucumbir. Neste texto, estou lidando. Isso é mais do que a Marvel e a DC vai fazer por você. É mais do que o Kevin Feige vai se preocupar pela sua intelectualidade. Estou preocupado com você, leitor. Estou preocupado com minha sanidade diante da sua falta de capacidade em sair deste comodismo. Não te quero no comodismo e sim num mundo novo. Faça isso por você.

Ou não. Este país ainda é uma democracia. Escolha.   

Talvez eu esteja experimentando por empatia o que os críticos literários oficiais dizem ao afirmarem que estão sendo esquecidos. Talvez isto seja o que chamam de “perder espaço”. Olha só a ironia, nem formado na área sou mas já passo pelos mesmos dilemas. Escrever pra um público cada vez menor e desinteressado, preocupado com o Cavaleiro da Lua, ou com o novo Batman, é um desafio desestimulante.

Deve estar sendo uma merda ler isso, não é? Não falei do Thanos, ou não elogiei Guerra Infinita, ou não abracei um Joaquim Phoenix hoje. Nem trouxe nenhuma crítica contundente a Star Wars, ou não estou babando pelo Deadpool. Este é, assumidamente, texto autoindulgente sobre literatura e crítica. Talvez seja meus remédios que tomei mais tarde hoje, talvez isso já estivesse dentro de mim tantas dúvidas. Talvez seja tudo isso somado ao meu fim de ano que foi uma droga, ao meu início já conturbado e ao ano, que é par, o que significa que as coisas darão erradas pra mim. O que não é um problema porque anos ímpares também são meio nhé na minha vida. Talvez você nem tenha chegado até aqui. Se chegou, muito obrigado. Agora partimos da ideia que você tenha uma opinião sobre isso e que mais do que apenas reagir ao texto com smile aqui embaixo, há algo a ser dito. Eu adoraria saber o quê. Quem sabe eu até responda. Seria legal, não é?

Vou acabando este texto com pouco mais de 1200 palavras (1234, pra ser mais exato), quase a mesma quantidade de uma crítica do Formiga Elétrica (quando produzo para o FM, faço com 1500 palavras). Assumo toda a melancolia que carrega e como isso pode ser visto como um certo problema. E quer saber? Tudo bem cair nessa fúria incontida de vez em quando. Sou humano, Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração. Não aprendi a me render, que caia o inimigo então. Ou eu. Tanto faz.

E para terminar, responderei a pergunta que ninguém fez: por que ainda escrevo críticas?

Porque tenho uma necessidade séria de fazer isso. Porque ainda tenho esperança. Porque amo. Se as pessoas escolhem não ler, não comentar, não se interessar junto comigo, há o respeito por isso, mas fica a saudades que sinto do leitor.

Volte, você que lê. Tire seu livro da pilha e recomece. Que seja logo.
Abraços,
Saitama.
 


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