Em qualquer cultura, existem personagens que acabam se tornando clássicos. No Brasil, a Turma do Mônica talvez seja o melhor exemplo disso, já que ainda continuam firmes e fortes no dia a dia da sociedade pelo carisma dos mesmos,e por suas histórias. Mas...é claro: nem todos tem tanta sorte, e precisam esperar um tempo antes de conseguirem uma fama, ao menos, consideravelmente maior.
Esse é o caso de Paddington
Criado por Michael Bond em 1958, Paddington (ou 'Paddington Bear', no original) acabou se tornando um personagem clássico da literatura infantil do Reino Unido. O livro de estreia do Ursinho (“Um Urso chamado Paddington”) foi traduzido para mais 40 idiomas, e a sua série de livros já vendeu mais de 35 milhões ao redor do mundo. Ainda assim, ele teve grande parte de sua fama contida ainda no Reino Unido,até a StudioCanal decidir adaptar o personagem em um filme, que foi imensamente vendido com a frase:
"Do Produtor de Harry Potter" (no caso), David Heyman. E não me leve a mal,eu mesmo gosto de Harry Potter (o cara ainda produziu outros filmes bons)...mas o filme de Paul King (o primeiro real "grande" projeto dirigido por ele),não se sustenta felizmente apenas por isso. Pelo contrário.
Acho que na época de anúncio e propaganda do mesmo, eu devia ser um dos poucos nessas terras que sabiam quem era Paddington (e isso),é muito por conta da TV Cultura. Em tempos até recentes, a emissora passava, em certos tempos, episódios de uma antiga série do personagem,que havia sido feita na década de 70, na BBC One. Além de leve, descontraída e gostosa de se acompanhar, o mais legal dela era que ela misturava stop-motion (o próprio Paddington era feito assim) com animação, o que dava todo um charme a mais. Eu adorava, sinceramente. Então, apenas imaginem minha satisfação ao ver que aquele urso ganharia espaço em Hollywood, em uma época onde filmes assim (que não fossem da Disney claro) já eram excassos. E agora, irei falar dele.
Bom, felizmente falar do filme é bem simples, na verdade. Assim como na história original, nos é apresentado a terra natal de Paddington (no caso,no Peru), onde em um clima de época até em preto e braco, vemos um explorador se aventurando na selva,e que acaba conhecendo e fazendo amizade com um casal de ursos muito inteligentes (Lucy e Pastuzo) que, com a ajuda dele, logo começam a saber falar.
Um tempo depois, o casal de ursos, já idosos, enfrenta um terremoto, com Lucy decidindo mandar seu sobrinho para Londres (a tal cidade que o explorador garantiu a ela que todos são sempre bem vindos). Mas a realidade é sempre mais difícil do que parece, já que Paddington percebe que está sozinho e não tem ninguém para ajuda-lo, como acontece com muitos imigrantes (de qualquer forma, o prólogo ainda aproveita esse tempo para evidenciar como o filme se passa em um universo alternativo) que segue a mesma linha de outros projetos similares, como Stuart Little, já que ninguém parece estranhar que ursos falem, usem chapéus e se contentem com sanduíches de marmelada.
Isso também ainda remonta as origens do personagem, que foi baseado em um urso de pelúcia solitário notado por Michael Bond em uma prateleira de uma loja em Londres, perto da Estação Paddington, na véspera do Natal (ele o comprou como um presente para sua esposa), com o mesmo inspirando o autor a escrever uma história. Falando nisso, acho legal dizer que, embora Paddington pareça um Urso Pardo, se levarmos em conta sua origem peruana, ele é na verdade um Urso de Óculos:
Provavelmente essa mudança visual foi feita pelo fato de Ursos Pardos serem mais conhecidos.
Enfim: por sorte, Paddington acaba sendo acolhido pela família Brown (ele teve inclusive esse nome escolhido pela Sr. Brown), pelo fato da família não saber pronunciar seu "nome de urso". Mas a família acaba tendo bastante prejuízo com ele, visto que o mesmo é bem atrapalhado, o que acaba deixando a situação dele ali meio difícil, ao mesmo tempo que ele procura saber mais sobre o tal explorador que conheceu seus tios. No entanto, nosso herói está sendo caçado por uma megera taxidermista (Nicole Kidman), que não medirá esforços para ter ele na sua sala.
Enfim, eu acabei "engordando" o texto pra render mais, porque realmente Paddington é um filme simples. E isso, acaba sendo na verdade um dos prós do mesmo, que sabe que não precisa reinventar a roda: o filme abraça o foco de mostrar os pesares que o ursinho tem que ultrapassar, para conquistar seu lugar na sociedade.
O filme até flerta com temas assim, mas sem se aprofundar na maioria deles – como o a vida precária de quem vive à margem da sociedade – mas quase sempre com leveza, bom humor e acompanhada das trapalhadas do protagonista.
Mas isso não deixa de mostrar que estamos diante de um filme com mentalidade de querer flertar com isso,minimamente (e Paddington, mesmo sendo atrapalhado), não é um idiota. Ele é, realmente, um "menino" inocente, que está tentando se encaixar no mundo...ainda que no meio da jornada, ele acabe quebrando algumas coisas (o fato do diretor já ter currículo com comédia ajuda nisso),já que ele sabe o que funciona e, principalmente, o que não funciona com um personagem como Paddington. Logo, nada de piadas "atuais".
Quanto ao elenco, ele vai bem (a própria Nicole Kidman aceita que o seu papel não precisa ser exagerado) ainda que simples, enquanto que Ben Whishaw passa muito bem o que a voz de Paddington precisa. A direção de Paul King ainda é agradável, ainda mais com a ótima caracterização do elenco e o realismo na relação de Paddington com os atores (aquele clima com ambientes coloridos e com tudo sendo bem chamativo) também influência o clima alegre do projeto, com aquele clima de positivismo.
No fim, Paddington é um filme eficaz em divertir não apenas seu público alvo (crianças), como também adultos. Ele não tenta reinventar a roda, mas sim prefere seguir o caminho de sucesso de filmes como esse, ao mostrar que uma boa e velha aventura digna de Sessão de Tarde nunca perde a graça e,principalmente, espaço com o público.
Ainda mais se ela envolver um devorador de sanduíches de marmelada.
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