domingo, 12 de abril de 2020

Saitama Critica #13: Makeup to Breakup - Minha vida dentro e fora do KISS



Leão Lobo estaria orgulhoso.


KISS

Você não precisa ter ouvido a música deles, nem saber quem é quem mas é impossível não conhecê-los seja através de suas inconfundíveis maquiagens ou algumas de suas canções bastante conhecidas do Rock And Roll. Neste livro temos a visão de Peter Criss, o baterista original, sobre a própria vida antes, durante e depois de suas estadias na banda que ajudou a criar. Neste livros temos suas opiniões contundentes, por vezes controversas, polêmicas e todo o sofrimento que teve em sua vida pessoal com sexo e drogas.

🐱EDIÇÃO FÍSICA🐱

Makeup to Breakup – Minha vida dentro e fora do KISS tem 384 páginas, foi escrito por Larry Sloman  (Mas não era um livro do PETER CRISS???)  e publicado em 2012 pela Editora Lafonte. Acompanha capa cartonada, páginas soft pólen e foram encontrados três erros de ortografia. No geral, um livro fisicamente modesto.

🐱CRÍTICA🐱

Pelos meados de 2002 eu tive uma banda e fazíamos uma brincadeira interna dizendo que “baterista não tem que dar pitaco porque baterista não fala”. Obviamente era uma mentira deslavada. Os ensaios eram na casa DELE, os instrumentos eram emprestados por causa DELE, na cidade DELE. Óbvio que baterista não apenas opinava, mas como o tornávamos o líder informal da banda. 


Mas em Makeup to Breakup, me lembrei constantemente desta piada da minha banda. Por que Peter Criss teria lugar de fala, sendo uma fala tão acusativa, tão vitimista e ao mesmo tempo fortemente prepotente

Da esquerda para a direita: Ace Frehley, Gene Simmons, Paul Stanley e Peter Criss: A formação original do KISS

Ao se tratar de uma autobiografia, uma das coisas que as pessoas inicialmente esquecem é como a fala do autor é contaminada pelas próprias impressões e sentimentos. Não se iludam, todo o livro é ditado desta forma por seus idealizadores, seja biográfico ou ficcional. Todo livro passa por um filtro moral próprio sobre o que vai ou não em suas páginas. E isto não é necessariamente errado afinal, seu livro e suas regras.

Mas por que aqui, no livro de um baterista tecnicamente simples, a visão particular pesa tanto e de maneira negativa?

De início, é preciso relembrar – ou falar disso pela primeira vez a algumas pessoas – que a banda KISS sempre foi extremamente egocêntrica. Todos os seus integrantes, sem exceção, sempre tiveram altas doses de estrelismo e presunção. A partir disso, há muito de duvidoso quando um destes se coloca como vítima de perseguição em praticamente todos os âmbitos de sua vida.

O sexo com a esposa não ia bem? A culpa era dela que não gostava. O sexo com a segunda esposa não ia bem? É porque ela só se apegava ao seu dinheiro. O pessoal da sua ex-banda não lhe mandou um cartão na clínica de internação para viciados em cocaína e heroína? É porque eles eram sadistas e manipuladores que te ferraram a vida toda. Você está recebendo menos depois da volta da sua banda? É porque seu advogado passou-lhe a perna.


Peter Criss unmasked
Acusar Paul Stanley e Gene Simmons de maquiavélicos, manipuladores e sádicos (e mais, pelo menos e literalmente, vinte adjetivos pejorativos) é algo que faz muito sentido dentro da história da banda que passou quase duas décadas apenas com estes dois membros originais e que mantiveram a roda funcionando. Eles se tornaram a cara “oficial” do grupo, posteriormente seus donos, inclusive das maquiagens de todos que passaram por lá, portanto, são as estrelas. Por mais que tenha havido gente talentosa como Eric Carr (baterista e já falecido), Vinnie Vincent, Mark St. John, Bruce Kulick (guitarristas), e atualmente Eric Singer e Tommy Thayer, sempre foi claro como todos ali eram empregados de Stanley e Simmons. KISS sempre foi uma empresa, seus donos sempre foram extremamente conhecidos no mundo da música e visavam o lucro extremo.

Ace Frehley, o guitarrista original, também é execrado no livro. Seja quando é acusado de nazista ou viciado em masturbação, há muito de Peter Criss destilando seu próprio ranço, mesmo que ele diga diversas vezes como gosta do ex-colega. Infelizmente, a obra em diversos momentos acaba sendo um “nós vs eles” amador. Nem mesmo Tommy Thayer e Eric Singer, que substituíram Ace e Peter respectivamente, para a última versão do KISS, escapam dos apontamentos negativos do ex-baterista. Assim, o simplismo dos sentimentos apresentam quase nenhuma dicotomia, porém, se apresentados não passam da primeira camada. Nitidamente, esta é uma autobiografia feita para denegrir.

Existe um momento em que eu engasguei comigo mesmo ao ler Peter se colocar como melhor cantor do que Paul Stanley. Vá lá, Paul é limitado e os últimos anos não foram bondosos com sua voz, mas Peter, nem mesmo em seus tempos de glória com a banda – fora dela não houve glória alguma – chegaria perto de superar seu colega. Chega a ser cômico, mas de maneira involuntária.

Há também trechos onde Peter Criss é reducionista. Ao falar de uma pessoa, se ela fosse negra, ele precisa citar a negritude, como se isso fosse algo muito importante ao leitor, ainda que este fato não seja explorado sob a ótica do racismo no livro. Se é uma mulher, precisa descrevê-la fisicamente, dando ênfase aos seus atributos mais... pungentes. Seios, nádegas, vagina, cabelos. É como se Criss fosse um eterno adolescente ranhento que é incapaz de falar de certas coisas sem apontar características físicas. Em tempo: Na época do lançamento do livro ele tinha 66 anos, atualmente está com 74. 

Talvez o pior disso tudo sejam as páginas que Peter Criss dedica para especular sobre as sexualidades de Paul Stanley e Ace Frehley. É sabido que muitos músicos se escondem no armário por anos a fio (a menos que você seja George Michael, que foi arrancado dele sem a menor dó pela imprensa), então, forçar assuntos privados como preferências na cama e até mesmo divórcios e esposas alheias com vícios de maneira pública prova que, de fato, Peter queria não apenas chocar, mas também chamar atenção.  

O livro tem seus bons momentos engraçados. Ajudam a dar um certo frescor diante de tanto hedonismo e vícios destruidores. Mas também estes momentos de leveza são extremamente rasos, tornando-se esquecíveis. Se eu não as tivesse marcado durante a leitura, sequer me lembraria.

As partes que Peter trata de sua vida pessoal de seu período mais recente, citando os cânceres que acometeram simultaneamente tanto a ele quanto sua atual esposa são mais palatáveis. Ainda que contenham uma dose cavalar de egocentrismo de Peter Criss ao se colocar como precursor e salvador indireto de centenas de vidas por falar sobre o tema abertamente.

Partindo para outra vertente, os raros momentos em que Peter assume suas culpas são rápidos, descritos de forma clara, porém, sem aprofundamento. Evidentemente que isto tira a credibilidade da sinceridade da obra já que ela se presta muito mais a falar mal de outras pessoas, ainda mais sabendo que ela foi extraída de áudios gravados pelo músico, filtradas por um escritor que trabalha com artistas como Howard Stern, Anthony Kieds e Mike Tyson. Então, o mínimo de bom senso exige que o leitor compreenda todo o bom tratamento que Larry Sloman precisa dar ao seu cliente para que prossiga com seu trabalho em futuros livros. Sinceridade, sim, porém maquiada, sem mostrar a verdadeira face.

Larry Sloman: O "autor" do livro. 

Já que falei de Larry no parágrafo acima, vamos falar da escrita do livro. Tecnicamente, é pobre. Não chega a ser ruim, não impressiona, sequer agrega. Isso faz de Makeup to Breakup um livro difícil de ser assimilado, pois é nítido que foi escrito de maneira extremamente formulaica e à toque de caixa. Alguns acontecimentos não são datados, o que também confunde. A menos que você seja versado em KISS (Eu sou da banda, não fanboy ou presidente de fã-clube) ou viciado em Google, fica quase impossível dizer com exatidão quando determinada situação houve. Aos interessados de plantão, todas estas dificuldades foram parte dos motivos dos quais eu levei 15 dias para terminá-lo. Junto com o vitimismo sexualizado de Peter e seus delírios literários, a metodologia de escrita de Larry “Ratso” Sloman foi o maior vilão da obra toda.

Isto posto, Makeup to Breakup – Minha Vida Dentro e fora do Kiss soa mais como uma obra especulativa, quase uma distopia ruim e altamente questionável. Desmentido e desacreditado por todos os outros membros da banda, inclusive suas ex-mulheres, Peter Criss parece mesmo disposto a chamar atenção com páginas sórdidas não apenas sexualmente ou com drogas, mas como um garoto mimado que não enxerga suas próprias limitações ao ter problemas de aceitação com rigorosamente tudo que lhe afronte. Seja como instrumentista, vocalista, ou autobiógrafo, é mais do que notório que Peter Criss prossegue um talento mediano que joga apenas com o peso do próprio nome diante de uma plateia de convertidos.


Baterista não dá pitaco porque baterista não fala. Ao menos, o eterno Catman não deveria.   

🐱NOTA: 3,0

Então é isso.
Espero que tenham gostado.
Abraços e boas leituras.
Saitama de R'lyeh.

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