quarta-feira, 13 de maio de 2020
Não se pode Vencer Todas
Em entrevista ao de The New York Times, Jeffrey Katzenberg (fundador da plataforma Quibi) assumiu estar lidando com uma decepção diante dos números de pessoas interessadas no seu produto, lançado durante a pandemia de Coronavírus. O aplicativo teve 1,7 milhão de downloads em sua primeira semana. Mas desde a estreia em 6 de abril, ele manteve uma base de apenas 1,3 milhão de “usuários ativos” (e graças à baixa demanda), ele saiu rapidamente da lista dos 50 aplicativos gratuitos mais baixados da Apple Store. E pior que isso: não está nem entre os 100 (atualmente, encontra-se encalhado em 125º lugar).
E mesmo com uma campanha que oferece teste gratuito por 90 dias, e prometendo um dos custos mais baixos dos streamings (US$ 4,99 por mês com anúncios), a plataforma não emplacou de jeito nenhum. “Atribuo tudo que deu errado ao Coronavírus”, disse Katzenberg. "Mas nós assumimos nossa parte”. O ex-presidente da Disney durante a época de alguns de seus maiores clássicos (e fundador da DreamWorks) disse que o público do Quibi realmente não é “a avalanche de pessoas que queríamos”. “Não é nem perto do que queríamos”, admitiu.
Vale lembrar que o Quibi pretendia ser uma espécie de 'Netflix de Celular',tanto que seu conteúdo original foi feito exclusivamente para dispositivos móveis. A proposta faz parte do próprio nome da plataforma, formado pela junção das primeiras sílabas das palavras “quick” (ligeiro) e “bites” (pedaços), que também foi transformado em sinônimo de "conteúdo rápido" nos comerciais americanos de seu lançamento. O conceito era assim apresentar programas de até 10 minutos, e tendo como público-alvo todos que têm um celular e que consomem vídeos curtos em transportes públicos ou durante pausas no expediente para tomar um café, ou ir ao banheiro. Só que é aquilo, né: é recomendado que essas pessoas nesses tempos não usem (se possível) transportes públicos. E o ambiente de trabalho, virou home office.
E embora o tempo gasto em plataformas de streaming tenha disparado à medida que os consumidores se distanciam socialmente (vide os aumentos de assinantes da Netflix ou mesmo da Disney+),a opção de lazer para quem está em quarentena tem sido é assistir filmes e maratonar séries pela televisão, e não ver vídeos curtos pelo celular. O sucesso do Quibi dependia, basicamente, disso: mudar os hábitos de consumo de séries influenciados pela popularização da Netflix com suas maratonas. Já era uma opção arriscada só por ir contra um padrão bem-sucedido (e agora), se tornou impraticável diante do aumento do número de horas disponíveis para o público se dedicar ao conteúdo de streaming.
A ideia de “filmes em capítulos”, que define a maioria das séries de ficção da empresa, também criou um vício narrativo, ao programar uma situação de perigo a cada 10 minutos, no fim de cada episódio. Nisso, o Quibi se provou mais retrô que moderno, por evocar os antigos seriados de aventura dos anos 30 ou 40 – que batizaram o termo “cliffhanger”. Mas apesar de todo o revés, Katzengerg disse não ter se arrependido de lançar o aplicativo durante esse tempo: “Se soubéssemos em 1º de março, quando tivemos que tomar a decisão, o que sabemos hoje, eu diria que não era uma boa ideia”, ele ponderou. “Mas estamos produzindo ouro suficiente com o feno que temos, de modo que não me arrependi”. Ele acrescentou: “Minha esperança, minha crença, era que ainda haveria muitos momentos intermediários enquanto nos protegíamos em casa…Ainda existem esses momentos, mas não é a mesma coisa. Estamos fora de sincronia”.
Por fim, Katzenberg declara ainda que espera "virar o jogo" com alguns complementos. O Quibi é muito criticado por não permitir que assinantes possam assistir a seu conteúdo na TV,já que não seria de sua natureza isso. Todavia, a plataforma agora já permite que usuários de iPhone vejam suas atrações em telas maiores, e a mesma atualização também chegará em breve aos usuários de Android.
Ao mesmo tempo, a empresa está trabalhando em novas projeções de receita com margens menores, e que já levaram a cortes de orçamento no marketing.
Por: Riptor
Fonte: Pipoca Moderna
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