quarta-feira, 1 de julho de 2020

Jurassic World é mais Fiel aos Livros da Franquia do que Você pode Imaginar

* Esse é um Post que foi feito Originalmente no CinePop,e que eu achei uma boa compartilhar aqui.


Ainda que Jurassic Park já traga na mente  Steven Spielberg, muitos se esquecem do fato de que a franquia nasceu nos livros. O 1°, escrito por Michael Crichton (em 1990) tem pouco mais de 500 páginas, e discute bastante a [falta de] ética no meio científico, e de como a ganância empresarial é responsável por diversos incidentes que a humanidade poderia evitar.  E quando a história virou filme 3 anos depois do lançamento, Spielberg chamou o próprio Crichton para ajudar na transição,e com o mesmo cortando diversas passagens importantes.

Claro, o resultado final foi uma adaptação primorosa (que continua sendo o melhor filme da série), mas que acabou prezando mais pela aventura & suspense do que pela ficção. Alguns dos fragmentos deixados de lado até acabaram entrando por exemplo em O Mundo Perdido (vide o ataque dos Procompsognatos a uma menina na praia), e uma perseguição de um grande predador dentro de um rio, naquele filme que prefiro não citar o nome. Porém, ironicamente, quem melhor aproveitou as ideias descartadas do primeiro livro foi justamente a nova trilogia da saga, em especial o 1° Jurassic World (e alguns momentos dele criticados por uns), vieram justamente do livro. Então, que tal conhecer esses momentos?

🦖 Lidando com o divórcio

No primeiro Jurassic Park, Lex & Tim vão para o parque porque seu avô (John Hammond) diz que eles são “o tipo de público que eles querem no parque” (o que no filme faz sentido), já que com certeza uma das maiores rendas do lugar (se tivesse sido aberto) seriam mesmo crianças. No entanto, no livro, a dupla vai para a ilha porque os pais dos mesmos estão se divorciando (e com isso), John, na tentativa de ajudar, achou que os netos poderiam lidar melhor com esse processo se tivessem um "fim de semana divertido" (além de ajudar no relatório de aprovação), para tentar abrir legalmente o parque.
E parte dessa ideia foi incluída justamente em Jurassic World, na forma dos irmãos Zach (Nick Robinson) e Gray (Ty Sympkins) que vão passar um fim de semana no parque porque os pais acreditam que isso vai ajudá-los a lidar com o divórcio iminente. Inclusive, há alguns traços de personalidade dos irmãos do livro que foram colocados na dupla de 2015 (com Zach sendo o mais velho, frio e mais interessado nas meninas), e com Gray sendo o caçula, mais dislumbrado com tudo ao seu redor, e mais inocente se comparado ao outro.

🦖 O Centro de Visitantes
Na versão do filme de 93, o centro de visitantes parece uma mistura entre um bangalô & um hotel 5 estrelas (com o centro do livro sendo descrito como uma construção piramidal), com diversas peças de vidro na parte superior. Já o centro de visitantes de Jurassic World é justamente isso (a única diferença é que o T-Rex robô localizado no meio do prédio foi substituído por um holograma interativo), que dá informações sobre o parque.

🦖 O Herói de Ação
Qualquer fã de JP gosta do Dr. Alan Grant. O paleontólogo de Sam Neil é ranzinza, não gosta de crianças, é todo certinho, não se dá bem com máquinas, mas é apaixonado pela profissão que exerce. Mas apesar de Neil ter dado muita personalidade para sua atuação, o Grant do livro é bem diferente: ele lá é um
clássico herói de ação (despojado, forte e ostentando uma bela barba), ele vai para o passeio da Ilha Nublar usando bermuda e uma camisa havaiana. E ah, ele aqui adora crianças.

No fim das contas, o Owen Grady de Chris Pratt acabou herdando assim bastante do protagonista do livro. Tirando a parte da barba, ele se encaixa mais naquilo que Crichton escreveu para o seu personagem.

🦖 O Assessor de Imprensa
No livro, Ed Regis (que no filme acabou tendo seu papel pego por Donald Gennaro, que foi modificado para tal função) é um personagem bem importante. Chefe de Relações Públicas do parque, ele fica encarregado de servir de “babá” dos irmãos (e obviamente fica muito frustrado com seu papel e passa o tempo todo reclamando disso), ao mostrar claramente que está insatisfeito com a função e sendo um mala com as crianças por consequência. Ele até aparece no primeiro filme em uma ponta muita rápida, na cena em que os cientistas estão chegando ao parque (ele é o rapaz de rosa que aparece dirigindo o Jeep).
Já em Jurassic World, temos a coitada Zara Young (Katie McGrath) assumindo esse papel de Ed. Assim como no livro, ela é uma assessora frustrada por ter sido designada para servir de babá dos sobrinhos da chefe. Além de ser dona de uma morte bastante trágica (se é que uma morte pode não ser trágica pro morto).

🦖 O Treinador de Raptores
 Uma das cenas mais emblemáticas – e criticadas – de Jurassic World...mas que olhe só pedidores de fidelidade, existe desde 1990! O fato de Owen treinar um bando de Velociraptores como se fosse uma alcateia (algo criticado por biólogos por ser "impossível" desenvolver uma relação praticamente afetiva com um réptil, já que esses animais supostamente não demonstram essa capacidade) bate com a ideia de tratar esses animais como os mais inteligentes desse universo FICTÍCIO, em que é dito que a ideia base do parque é que os animais respondam às ações dos tratadores, assim como os animais de um zoológico, ao não atacar seus tratadores na hora da alimentação ou do banho. Além disso, ao desenvolver essa relação, eles poderiam ainda ser treinados e utilizados em atrações do parque.
Além disso, em Reino Ameaçado, Owen ainda é mostrado treinando a velociraptor Blue ainda filhote. Ele dá agrados, faz carinho, e ela aos poucos vem se aproximando de forma dócil do treinador. Já no livro, enquanto eles fazem o tour e passam pelo setor de biotecnologia, Tim entra no berçário e prontamente um bebê Velociraptor pula em seu colo, cheio de chamego. FIDELIDADE.

🦖 A Obsessão de Wu
 O cientista Henry Wu é um personagem importantíssimo na mitologia do Jurassic Park. Afinal, ele é o responsável por descobrir como trazer os dinossauros de volta à vida. Ok,no livro ele morre estripado por um Velociraptor (mas sua versão cinematográfica, vivida por BD Wong) não apenas sobreviveu aos eventos do parque, como também virou o grande vilão da nova trilogia. Obcecado pela perfeição, ele cria novas espécies “melhoradas” e “sem defeitos”, e causando assim uma série de catástrofes, como a destruição do parque e a liberação dos dinossauros pelo mundo. E essa sede por “melhorar” os animais já é mostrada no livro.

Chamado “versão 4.4”, esse capítulo traz Wu tentando convencer John Hammond a deixar que ele altere geneticamente o comportamento das próximas ninhadas para que elas viessem mais lentas e domesticadas, e mais parecidas assim com animais de um zoológico. John no entanto nega (e dá ainda uma humilhada básica no jovem), que segue tratando os dinossauros como itens de laboratório.

 🦖 O logo do Parque
A logo de Jurassic Park é icônica, isso é fato (e dificilmente hoje seria possível ver outras cores nele do que as amarela, preta) e vermelha. Mas no livro, o logo era na verdade azul (e o próprio parque é descrito com um visual mais voltado para o azul). E o logo do 1° Jurassic World é o que? Sim, azul.

🦖 As Atrações
É inegável que um dos maiores atrativos de Jurassic World foi poder ver um mundo em que o Jurassic Park conseguiu no fim contornar as mortes e a tragédia de 1993, e ser enfim aberto para o público. E vê-lo funcionando como um verdadeiro parque temático foi realmente legal (e com a equipe de produção fazendo um bom trabalho ao montar a caracterização dos funcionários), dos brinquedos, do merchandising…Enfim, eles realmente criaram um parque de diversões para a gravação do filme. E olhe só: algumas das atrações já haviam sido citadas por Ed Regis e John Hammond no próprio livro.
O passeio no rio, por exemplo (que foi retratado de forma breve como o “Cruzeiro no Cretáceo"), é citado inúmeras vezes no livro. Já o vale da girosfera, em que os turistas passeiam entre os dinossauros em uma bola de vidro, também já foi comentado por Ed Regis, que diz: “Em algum momento, esperamos poder dirigir entre os animais, como eles fazem nos parques de caça na África”.

🦖 Gigantes Gentis
Em JW, você deve se lembrar da atração “Gigantes Gentis” (que funciona como uma fazendinha de dinossauros), onde crianças de até 1,20m podem entrar nos cercados e montar nos bebês dinossauros mais parrudinhos. No livro, logo após os eventos causados pelo primeiro ataque do Tiranossauro, Grant e as crianças se escondem em um galpão para poderem descansar (e em dado momento, Lex, que é a caçula no livro), aparece brincando com um bebê Triceratops, a quem ela chama de Ralph, já que segundo ela, ele se parece com um amiguinho da escola que se chama Ralph.

Ela então diz que ele é mansinho e poderia até mesmo montar nele se quisesse (mas obviamente Grant não aprova isso), e pede para que a menina deixe Ralph em paz. E em Jurassic World, lá está uma menina montando um bebê triceratops.

🦖 “Matando por Esporte“
Outro momento emblemático de Jurassic World é quando Owen e Claire (Bryce Dallas Howard) chegam a um vale e encontram alguns Apatossauros vítimas da Indominus Rex. Observando o padrão das mortes, que não mostrava nenhuma marca do predador ter se alimentado dos animais que matou, Owen diz que o dinossauro híbrido “está matando por esporte”. E no livro, o perito em predadores Robert Muldoon, interpretado – no filme de 93 – por Bob Peck, alerta os cientistas sobre o perigo dos velociraptores, dizendo que eles nunca recusam uma presa e "caçam mesmo sem estar com fome". Ou seja, já havia a ideia de alguns desses animais caçarem por esporte.

🦖 "Pequeno Contratempo"
Diferentemente do 1° Jurassic Park, no livro, quando os bugs no sistema inseridos por Dennys Nedry começam a fazer efeito, a equipe não fica achando que foi tudo por água abaixo. Na verdade, assim que eles conseguem restabelecer a energia, a primeira atitude dos cerca de 20 funcionários presentes no parque é identificar os animais que haviam se soltado para capturá-los, recolocá-los nas jaulas, e consertar o que tivesse sido quebrado durante a falha. Ou seja, o parque não para de funcionar, e com Hammond e John Arnold – que foi vivido por Samuel L. Jackson nos cinemas – lidando com a situação como se tivesse sido apenas um "pequeno contratempo" no cronograma....claro, mais pra frente, a situação ficaria ainda pior e terminaria com a morte de ambos, mas aí não vem ao caso.

Da mesma forma, em JW, quando a Indominus sai por aí matando tudo e todos que aparecem pela frente, a direção do Jurassic World lida com isso como se fosse  apenas um "pequeno (GRANDE) contratempo", ao mostrar total desrespeito pela vida humana e uma soberba absurda diante da criatura que eles mesmo fizeram em laboratório. Por conta disso, milhares de pessoas morrem ou saem feridas, inclusive o Sr. Masrani (Irrfan Khan), até então dono do parque.

🦖 Norman Atherton
No livro, mesmo sem aparecer em forma física – ele é apenas citado em um flashback -, Atherton é um personagem muito importante nos livros. Mentor de Wu, ele era um geneticista que ajudou a criar e fazer a InGen crescer. Tanto, que quando Hammond saía para reuniões com possíveis investidores, sempre levava junto um elefante em miniatura criado por Norman por meio da biotecnologia (o animalzinho chamava a atenção de todos, que ficavam chocados com o poder da manipulação do DNA), o que faziam com que acabassem investindo na empresa.

No entanto, Atherton falece de um problema cardíaco antes que Hammond pudesse iniciar o projeto dos dinossauros. Já em Jurassic World: Reino Ameaçado, somos apresentados a um antigo sócio de Hammond, chamado Benjamin Lockwood (James Cromwell). Ele foi parceiro de Hammond, e com os primeiros dinossauros tendo sido criados no porão de sua propriedade (apesar de não ter confirmação, é quase certo que Lockwood seria o Atherton da versão cinematográfica da série), já que os dois personagens são muito parecidos. A diferença é que ao em vez de clonar um elefante, Lockwood clonou a própria filha em segredo.

🦖 O Vulcão Nublar
Apesar de ser constantemente chamada de "Ilha Nublar", a região em que o Jurassic Park/World é construído não é exatamente uma ilha: uma das primeiras coisas que é falada quando os personagens do livro chegam ao parque é que ele foi construído em uma região vulcânica (por isso havia bastante vegetação e vários pontos em que os turistas poderiam ver jatos de gás saindo do chão), e que aquilo não era uma figuração colocada para dar um ar mais “jurássico”, e sim efeito do vulcão do local. Isso nunca foi mencionados nos filmes, até que o diretor J. Bayona resolveu enfim mostrar na prática isso quando o vulcão entrou em erupção em Reino Ameaçado.

🦖 “A Vida encontra um Meio”
E pra fechar, vamos falar da icônica frase do Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum), que virou um sinônimo da franquia nos cinemas. No livro, ele explica várias vezes sobre seu trabalho com as equações não-lineares e a teoria do caos (e acaba que, independentemente da versão), ele está sempre certo. E em um dos milhares de momentos em que ele para pra explicar para Gennaro como funciona a teoria do caos, ele diz que as pessoas consideram eventos como uma batida de carro como um desvio da normalidade, mas que o caos previa isso como parte do todo. No 1° Jurassic Park, a cena em questão acabou reduzida, e virou um momento em que Malcolm tenta dar uma cantada na Dra. Ellie Sattler (Laura Dern) dentro do carro.

Já o trecho descartado, que fala sobre a interferência humana e a batida de carro, é utilizado justamente, palavra por palavra, no discurso de Malcolm no encerramento de Reino Ameaçado.
No fim, sobraram poucas coisas do primeiro livro para serem exploradas pelo 3° filme da nova fase da série (Jurassic World: Dominion), que estreia em 2021. Ainda assim, como relatado aqui, parece que Lewis Dodgson (personagem que aparece no início do primeiro Jurassic Park, ao ser interpretado por Cameron Thor) deve retornar para este,ao ser interpretado por Campbell Scott. No filme, ele é quem contrata Dennis Nedry para roubar DNA de dinossauros da InGen,o que fez com que o gordo sabotasse o parque para tentar fugir com as amostras (e nos livros, ele tem um plot um pouco maior) ao trabalhar para a rival da InGen (a Biosyn), que nunca foi realmente mostrada nos filmes até agora. E levando em conta a trama de tráfico internacional de dinossauros para uso bélico que foi estabelecida em Reino Ameaçado, não seria de se estranhar que Lewis (à mando da Biosyn) tenha conseguido criar seus próprios animais para tais atos. Veremos!

Por: Riptor 

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