quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Review: Avengers Versão Beta

Os jogos de heróis chegaram em um nível muito interessante nos últimos anos. A Trilogia Batman da Rocksteady Studios/Warner Bros e o extremamente imersivo Spiderman da Insomniac Games/Sony Interactive são provas de que os acertos foram cravados no alvo. Então, Avengers da Crystal Dynamics e Eidos Montreal, deveria não apenas trazer o hype de seus “antecessores” do gênero, mas comprovar que já na sua versão beta há algo, ao menos inicialmente, de relevante a ser demonstrado.

Vou reiterar aqui, antes de mais nada: Vou falar da versão BETA do Avengers, que mesmo não sendo o jogo definitivo, habitualmente carrega muito do que apresentará em seu produto final. Então, sim, é altamente importante falar do que foi visto aqui. A versão disponível foi jogada no PS4.

A história ainda é aquela apresentada no trailer: Os Vingadores estão num dia de festa, mas um ataque surpresa altamente coordenado é fatal e, além de causar danos indizíveis a Nova York com milhares de mortos e um novo tipo de super-humano, além de vitimar o seu líder tático, Capitão América. Então, cinco anos depois, cabe a Kamala Khan, a personagem que no game está se tornando aos poucos a Ms. Marvel, reunir o que restou do grupo para enfrentar uma grande ameaça que ninguém mais pode.


O Beta apresenta diversas missões em vários momentos da equipe e é possível jogá-los tanto em Single Player quanto no modo Online com outros participantes. De início temos uma rápida pincelada do trágico ataque inicial onde experimentamos a jogabilidade de todos os personagens da equipe. Dentro disto, não há nenhuma surpresa: Thor é a divindade com golpes de martelo e outros que variam entre murros e raios; Hulk é uma força bruta imparável; Homem de Ferro é o armamentista com sua armadura cheia de tecnologia e golpes saídos quase que diretamente dos filmes eternizados por Robert Downey Jr.; Viúva Negra é a agilidade do grupo, com traquitanas de espiã e o Capitão América é cara dos golpes táticos militarizados que flertam os estilos das brigas de rua. Kamala também é jogável e é nítido o cuidado que os desenvolvedores tiveram em torná-la forte, porém ainda desengonçada, sem a agilidade de uma super-heroína, pois ainda está em formação. Isto é estendido aos outros personagens. Seus movimentos e a personalidade que cada um deles estão garantidos.

É importante dizer que visualmente Avengers está impressionante e, ao menos no meu PS4, não travou uma única vez. Isto é significativo já que parece exigir bastante dos processadores do console. Obviamente este game estará presente nos novos que estão por vir nos próximos meses, o que, ao menos em tese, mostra que o Cross-Gen está sendo bem respeitado aos fãs da futura geração passada.   

O que me leva a falar dos personagens. É fácil de perceber suas expressões e detalhamentos. Kamala está belissimamente paquistanesa, inclusive nas pequenas imperfeições de seu rosto. É uma personagem que se torna bonita muito mais pela sua realidade do que pela plasticidade, algo que é mais sentido nos Vingadores originais. Bruce Banner, Thor, Capitão América, Homem de Ferro e a Viúva Negra parecem ter saído de uma propaganda de modelos. São bonitos, perfeitos, sem as pequenas “humanidades” que fazem da Kamala a âncora emocional do meu tempo em jogo. É um defeito? Não necessariamente, porém, fiquei pensando porque apenas ela carrega esses pequenos detalhes. Talvez a ideia do jogo seja transformar os Vingadores originais em, primeiramente, Deuses e depois ir desmistificando isso aos poucos. Senti isso no Hulk. Ele é parcialmente diferente no ante e pós ataque inicial. Parece um pouco mais afetado fisicamente, incluindo partes de seu corpo que já não são verdes e ficam muito próximas de serem da cor da pele de Banner, o que significa que pode haver um escopo psicológico maior em alguns personagens.

Já que falei de skins, preciso dizer que o uniforme do Capitão América, tão criticado no trailer de lançamento por ser feio (e realmente é), soa melhor em batalha. E também é funcional já que ele, de todos, possui mais peso nos ataques e 90% do que desfere é no corpo a corpo. Falei isso anteriormente em off e direi de novo: Se houvesse um jogo com apenas ele com o pouco que foi mostrado ali, teriam meu dinheiro antecipadamente.

Já o cenário requer um pouco menos de babação de ovo. Quase tudo ali é destrutível ou ao menos deixa-se marcar por golpes ou mãos de um Hulk qualquer. A interatividade é bastante interessante, ao menos de início. Já a variedade dos cenários me dividiu um pouco mais. Se a Ponte do Brooklin e outros cenários abertos, seja na floresta ou na neve são belíssimos tanto pela destruição quanto pela beleza intrínseca, os ambientes fechados dos laboratórios são todos muito parecidos indiferente da fase que estejam. Por mais que a I.M.A. seja a tônica como um inimigo poderoso com várias ramificações, tudo soa tão semelhante que o que resta aos programadores é mudar paleta de cores: Ora esverdeadas, ora com tonalidades mais frias, ora com luz branca. Muda-se um pouco aqui e ali no cenário, mas o excesso destes locais também deixa tudo bem repetitivo. Como as fases são lineares, dá pra esperar um certo cansaço.

Agora me resta falar do problema que mais senti: Jogabilidade. Vamos à uma breve comparação: Tanto em Batman quanto em Spiderman o que se sente é uma organicidade seja nos golpes e igualmente nas movimentações. É fluído a ponto de você, muitas vezes, esquecer que está controlando um personagem e sim tendo a sensação de que o personagem está vivo e que tudo aquilo é um “filme interativo” em CGI de alta qualidade. Em Avengers isso não acontece. É quase tudo bem artificial. Há pouquíssimas mecânicas de combinação de golpes, pouquíssimas interações ao dar os golpes e principalmente, pouquíssimos golpes. De especiais conta-se três. Se não me engano, um é o R2, outro é o L2 e o outro, mais poderoso, aperta-se os dois juntos. Levam uma eternidade para carregar e quando carregam, não resolvem tanto quanto você gostaria. Há, de fato, pouco equilíbrio no tempo de espera do investimento e o investimento em si na hora da necessidade.

Outra questão é pareamento desses golpes para os momentos certos. O Hulk, como primeiro exemplo, é um tanque de guerra, mas que repete demais os mesmos movimentos. Essa sensação se agrava quando percebe-se que agarrar pedaços do chão e jogar na maioria dos inimigos resolve grande parte das confusões. Oponentes que atirem à distância (e que são muitos), são facilmente abatidos assim, o que permite muitos respiros para um personagem lento como este. Kamala também tem essa facilidade, mas como ela é ágil, sente-se um pouco menos. E isso vale para todos os outros, com exceção do Capitão América que eu joguei apenas o início, que foi uns dois cenários e com o pouco tempo, não deu para avaliar. Talvez o que mais teve esse problema tenha sido o Homem de Ferro. Ele já era truncado na geração passada no seu primeiro jogo solo e continua aqui. Tá difícil? Solta uns raios da mão. Hora do combo? Solta um raio do peito que resolve, mas se você tiver paciência já que o tempo que o raio dura é muito menor do que o tempo que ele leva para mover o corpo e acertas os inimigos. Sim, tem a Hulkbuster, mas acontece a mesma coisa. É pesado, difícil e entediante. A sensação de desafio de se mover com uma armadura continua ridícula nos games. Tanto o Thor quanto a Viúva Negra também têm esses defeitos de falta de golpes e agilidade e interação com oponentes, porém um pouco mais suavizados. Há realmente muito pouca fluidez.  

Outro problema que senti é a falta de uma mira fixa nos personagens. TODOS são difíceis de acertar um golpe à distância. Talvez o pior deles (de novo) seja o Homem de Ferro. E por quê? Simples. Baixe o beta, voe com ele (como às vezes é realmente necessário) em dois tipos de velocidades truncadas e tente atirar sem uma mira que fixe. Boa sorte. Obrigado, de nada.

E para terminar: Os inimigos. Dentro dos cenários eles são muitos, mas de poucos tipos. Eles se repetem e se repetem. Há os apelões e que vão te deixar irritado porque não parecem balanceados para todos os personagens, assim como há os fáceis demais. Existem os que atiram raios poderosos à distância, os que se teletransportam e os que batem. Agora coloque tudo isso num cenário relativamente pequeno contra um personagem mais lento como o Hulk ou duro como Homem de Ferro, ou de apoio como a Viúva-Negra em fases lineares em que ir para frente é o caminho que resta. Boa sorte. Obrigado, de nada.²

Mas há algo bem interessante durante as batalhas caso você jogue off-line. A I.A. dos companheiros é bem dedicada a ajudar você. Caso seu personagem caia (contei duas vezes por brigas em que isso é possível), um outro aparecerá logo em seguida para lhe “reviver”. É quase agradavelmente paternalista e você realmente se sente parte de uma equipe.

Existe a opção de aprimorar seu personagem durante o jogo com alguns itens encontrados durante o game. Fiz isso algumas vezes, mas não senti muita diferença na prática. Não vi customizações específicas, mas sim trajes alternativos. Mas admito que não fiquei ansioso procurando por isso.

Há outros bons detalhes como a equipe principal ser quase toda dublada pelas vozes dos filmes (isso é um mal em jogos de game, visto que fizeram a mesma coisa em Arkham City e nem todos ornaram lá) e aqui funciona bem. É sempre um prazer ver/ouvir Marco Ribeiro dando o tom como Tony Stark e suas tiradinhas durante as lutas. O resto, admito, não faz tanta falta assim, já que no caso do Capitão América, sempre preferi Clécio Souto em detrimento do Duda Espinoza (que o substituiu em 2016), por exemplo.

Isto posto, Avengers é um jogo visualmente impressionante e que tenta te trazer a nostalgia dos filmes, mas cria uma sensação muito particular. Nem tanto Marvel Studios, nem tanto Marvel Comics. Porém há uma pobreza de movimentação e ação truncada que busca compensar com golpes nostálgicos. O excesso de porradaria descerebrada cansa e no fim, dá alívio por terminar tamanha a regularidade na repetição e chatice de fazer sempre as mesmas coisas: bater, bater e bater sem, pelo menos nesta versão, um envolvimento real com os personagens e suas cargas dramáticas. No fim das contas, ao terminar o Beta de Avengers, fiquei com a sensação de ter jogado algo bem chato. Ambos os estúdios não fizeram jus, aos seus legados com Final Fantasy, Soul Reaver ou Tomb Raider. Vou te desestimular a comprar? Não. Porém, caso se arrisque a gastar mais de 300 Talkeys nisso, fica meu mais sincero desejo: Boa sorte. Obrigado, de nada.³

Abraços e bons jogos,

Saitama de R’lyeh.

Avengers está programado para ser lançado no dia 4 de Setembro 2020 e estará disponível para PC, Xbox One e PS4.

OBS: Este não é um review patrocinado pela Crystal ou pela Eidos, então não espere nada além do que minha sinceridade. Como sempre. 

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