segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Vá em Paz



Ron Cobb, o cartunista que virou um dos designers de produção mais célebres de Hollywood, morreu em Sydney, na Austrália, nesta segunda (21/9), dia em que completou 83 anos, em decorrência de demência corporal de Lewy. O trabalho do mesmo influenciou a criação do clássico ET, o Extra-Terrestre, além de ajudar a moldar o visual de franquias icônicas, como Star Wars, Alien, Indiana Jones, Conan, o Bárbaro e De Volta para o Futuro.

O mesmo começou sua carreira aos 17 anos na Disney, como um animador “intermediário” já de um clássico: A Bela Adormecida, de 1959. Mas logo ele foi convocado pelo exército e mudou de profissão, virando assim cartunista num jornal militar durante a Guerra do Vietnã. Ao dar baixa, começou a distribuir seus desenhos em mais de 80 publicações underground de todo o mundo, e fez tanto sucesso que sua arte foi colocada em livros e lhe rendeu contratos como ilustrador de diversas obras – de capas de revistas à cartazes de filmes.
Com isso em mente, o primeiro filme em que Cobb trabalhou foi no longa-metragem de estreia de John Carpenter, o sci-fi “Dark Star” (1974), escrito por Dan O’Bannon. O roteirista inclusive foi quem chamou o mesmo para trabalhar com ele em seu próximo projeto: Alien, o Oitavo Passageiro (1979), como contraponto ao artista suíço H.R. Giger, que criou a iconica criatura alienígena. Naquela situação, Ron era considerado "malucão" pelos produtores, já que ele chegou em Alien já cacifado por ter trabalhado em dois dos filmes mais influentes do sci-fi da época: Star Wars (1977, onde tinha concebido as criaturas da cantina) e Contados Imediatos do Terceiro Grau (1977, de Steven Spielberg), onde concebeu a nave-mãe. Graças a essa experiência, ele foi ouvido quando sugeriu ao diretor Ridley Scott que o sangue da criatura de seu filme deveria ser corrosivo, resolvendo assim um possível buraco na trama, que justificava porque a tripulação simplesmente não atirava para matar o alienígena.
Ele também criou o exterior e o interior da espaçonave Nostromo, e depois do sucesso do primeiro filme, continuou ligado à franquia, ao desenvolver a nave Sulaco e o complexo da colônia espacial em Aliens – O Resgate (1986), dirigido por James Cameron – e os dois ainda trabalhariam juntos em O Segredo do Abismo (1989) e em True Lies (1994). Embora já tivesse prestado serviços para Spielberg em Contados Imediatos do Terceiro Grau, ele só se tornou amigo do diretor muito depois, e por acaso, na época em que Cobb iniciava a pré-produção de “Conan, o Bárbaro” (1982), de John Milius, mesma época em que Spielberg estava filmando Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981) na “porta” ao lado do mesmo complexo cinematográfico.
Com isso em mente, num encontro durante uma folga nos trabalhos de ambos, Cobb teria sugerido ideias para a produção do primeiro filme de Indiana Jones que impressionaram Spielberg, que contratou o artista imediatamente, e dando-lhe o cargo de artista de produção de Caçadores da Arca Perdida. Na época, Spielberg tinha lançado sua produtora Amblin, e já vinha apadrinhando muitos cineastas, como Tobe Hooper (Poltergeist), Joe Dante (Gremlins) e Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro) e queria que Cobb também se tornasse diretor, onde a ideia era que ele dirigisse o projeto sci-fi “Night Skies”, baseado num incidente de 1955 no Kentucky, no qual uma família afirmava ter tido contato com cinco alienígenas em sua casa de fazenda. No entanto, o filme nunca saiu do papel porque a família retratada ameaçou entrar com um processo para impedir a produção (mas Cobb se ofereceu para desenvolver uma ideia similar), sobre alienígenas que estariam abandonados na Terra.

Essa história agradou Spielberg, mas o orçamento para criar cinco alienígenas se provou proibitivo para a época, até que o cineasta teve a ideia de filmar apenas um extraterrestre perdido, que seria protegido por um menino....sim, você sabe como isso termina: apesar de ter sido a semente que originou E.T. (1982), Cobb só teve uma participação especial no filme, como médico. Na verdade, ele não aprovou o roteiro nem gostou do longa, chamando-o de “uma versão banal da história de Cristo, sentimental e auto-indulgente, um tipo de história patética de cachorro perdido”. Anos mais tarde, ele foi compensado pela ideia, quando sua mulher percebeu que havia uma multa de US$ 7,5 mil caso a Universal não filmasse “Night Skies”, mais 1% do que o filme poderia render. Ao receber a queixa, o estúdio percebeu do que se tratava, e enviou um cheque de mais de US$ 400 mil para Cobb.

Mas apesar desses comentários, Spielberg não levou pro pessoal e manteve a parceria que firmou com Cobb, ao lhe encomendar o design dos créditos da série “Histórias Maravilhosas” (Amazing Stories), que ele produziu entre 1985 e 1987 na TV americana, além da concepção visual do clássico DeLorean transformado em máquina do tempo em De Volta para o Futuro (1985). Cobb também desenhou todas as espaçonaves de O Último Guerreiro das Estrelas (1984) e foi artista conceitual de várias outras produções, como O Vingador do Futuro (1990), de Paul Verhoeven, a animação Titan A.E. (2000), o terror apocalíptico O 6º Dia, com Arnold Schwarzenegger, a sci-fi Southland Tales (2006), com o ainda novato Dwayne “The Rock” Johnson, e a cultuada série Firefly (2000), de Joss Whedon.

Ele acabou se mudando para a Austrália onde dirigiu seu único filme, “Garbo”, uma comédia de 1992 sobre dois colecionadores de lixo que compartilhavam uma paixão pela atriz Greta Garbo. 

Por: Riptor

Fonte: Pipoca Moderna

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