domingo, 8 de novembro de 2020

É Ruim, Mas eu Gosto - O Elo Perdido (2009)

Seja sincero: todo mundo (incluindo você) tem aquele filme que É ruim, você sabe que é ruim, mas que você ainda gosta dele por algum motivo. Provavelmente, porque você se divertiu com ele (ou quem sabe porque marcou a sua infância), e você não vai admitir que esse pedaço de sua nostalgia, quem sabe cheire mal hoje. Mas tudo bem! Quem nunca! Afinal, é pra isso que serve o termo Guilty Pleasure ("Prazer Culpado"), já que ninguém precisa ter seu histórico cinéfilo baseado apenas em Alfred Hitchcock, ou em Cidadão Kane.

E com base nisso, eis que eu trago para vocês um ("quadro" novo? Talvez) post pra cá, em contraste à aquele meu de recomendações: "É Ruim, Mas eu Gosto" (feito não só pra ser algo ainda mais descompromissado), mas também pra esmiuçar (quem sabe mais) filmes que eu não me arrependo de dizer que me divertiram, ainda que eu diga hoje que eles são mesmo ruins. E bom, nesse caso pra começar já com o chinelo cagado por baixo mesmo, vamos falar do gênero que mais é povoado por Guilty Pleasures: a comédia

Com vocês:

Bora então? Bora!

Antes de mais nada, é bom eu explicar, primeiramente, o que raios é "O Elo Perdido". Porque sim, a obra é mais antiga do que você quem sabe imagine, se por acaso não conheça (e isso vai explicar muito do que eu vou falar aqui). "Land of the Lost" foi criada originalmente como uma série de TV em 1974, ao ser criada por Sid e Marty Krofft (e durou até 1976), com 3 temporadas ao todo (ela chegou a ser exibida no Brasil nos anos 80 pelo SBT), e um pouco antes pela Globo entre 76 & 77. Nela, durante uma viagem de ratting (aquela descida em corredeiras via bote inflável), a família Marshall (o guarda florestal Rick Marshall, seu filho Will Marshall e sua filha Holly Marshal) caem em meio à uma enorme cachoeira após um violento terremoto, e se vêem então diante de um bizarro "mundo perdido" cheio de criaturas pré-históricas, primatas sub-desenvolvidos, e também cheio de Sleestaks (reptilianos humanóides extra-dimensionais) nativos daquele pedaço de fim de mundo. É, os caras acharam isso tudo por causa de um terremoto (mas lembrem-se, suspensão de descrença), a série (pelo que eu sei e vi) não ligava muito pra explicar essas coisas. Até ganhou, anos depois, um estatos de "cult", e levando em conta a época que foi feita, até que é legalzinha (destaque que os dinossauros eram feitos em stop-motion), e caso você ainda não saiba, eu adoro stop-motion.
E é aquilo, né gente: a emissora original da série (a NBC) é do mesmo conglomerado da Universal, alguém deu umas conversadas ali, e ai já viu: "Vamos fazer um filme dessa bagaça?" E pô, não seria má ideia (ainda mais nesses últimos tempos), onde tirando Jurassic World, é difícil achar filme com dinossauros, e esse tipo de coisa. E foi assim, que nasceu o tal Elo Perdido Versão Cinematográfica, em 2009. E protagonizada, pelo Will Ferrell. E bom, nada contra ele, eu mesmo gosto de uns punhados de filmes que ele fez, mas se chamaram ele, você já deve imaginar qual seria o (citado até já aqui) nipe do filme.

Pois bem: assim como na série, o protagonista da história aqui é Rick Marshall (interpretado pelo dito Ferrell), e no caso aqui um paleontologista atrapalhado e que é desacreditado por praticamente todo mundo, que acha que ele não bate bem das ideias. Ainda assim, o pateta aqui inventa uma máquina que consegue transportar pessoas à outra dimensão (é, é, ok), e com isso, ele ainda se junta à única pessoa que realmente acredita em algo que sai da boca dele: sua aluna Holly (Anna Friel), e posteriormente, ele consegue ainda a companhia de um outro idiota: Will (Danny R. McBride) dono de uma loja de estrada no meio de um deserto, e que vende coisas como canecas com peitos. Sim, eu tô falando sério, ele vende canecas que tem PEITOS, não me pergunte quem compra essas porra, mas se elas ainda tavam lá, é porque deviam tá vendendo. 

Aí, aproveitando que o Will tinha uma espécie de "atração" ali (vulgo um lugar parecido onde acontece as merdas da série original), o Trio Rapadura acaba descobrindo da pior maneira que o negócio deu certo mesmo, e acabam parando em outra dimensão onde encontrarão todas as coisas que eu citei antes...ainda que claramente distorcidas, já que esse mundo perdido é meio...drogado, por assim dizer. E aí eles têm de sair dessa merda, claro.

E bom, acho que se você leu até aqui, já pode ter visto algumas das mudanças explícitas que esse filme faz nos personagens da série. Rick de guarda florestal, vira um cientista com um parafuso solto. Holly, que é a FILHA dele na série, aqui vira a aluna/assistente/peguete do mesmo. E o Will, o filho dele, vira um maluco, que vive como um maluco beleza. O filme, em momento nenhum, é o que supostamente deveria ser (aquele caso de reboot típico), e sim uma grande paródia da série original. E quando eu digo grande, é porque o filme só está se importando em ser uma paródia mesmo.

Como eu já vi sendo citado, talvez pelo peso de ter sido lançado um ano antes desse filme um com uma premissa similar (Viagem ao Centro da Terra, que é bem melhor diga-se de passagem) a Universal deve ter pensado que era melhor despirocar de vez pra não parecer tanto (ainda que né, as premissas não são as mesmas), e a série original era justamente uma aventura, e não uma comédia pastelão. Mas, aí também pesa o fator do dito ator protagonista aqui ser um comediante, então dá pra imaginar numa boa que eles acharam mesmo que o Will Ferrell iria sustentar o peso do filme numa boa....o que, não aconteceu, exatamente. 

Um dos grandes problemas (se não o maior) de O Elo Perdido é justamente o fato do filme, como dito, ser um longa que está praticamente só se importando em ser uma paródia mesmo do material fonte (como se a série original fosse tão conhecida assim pra eles realmente acharem que todo mundo ia entender as piadas) envolvendo as distorções dos personagens de lá. Uma grande prova disso é como, durante o filme, se vê um MONTE de coisa que chegou naquele fim de mundo (que na área de deserto dele é praticamente um lixão) aparentemente de forma aleatória, o que significa que aquela anta do Rick se matou pra criar aquele aparelho pra enviar os 3 pra lá a toa (há literalmente uma cena, que eu gosto) onde um caminhão de sorvete cai no meio do nada ali com o carinha dele junto. E tipo, como raios ele parou ali? Como funciona afinal essas "fendas" temporais? Bom, o filme responde você praticamente dizendo: "Isso não é importante, desligue o cérebro de novo".

E bom, ainda que possa ser possível fazer isso, o filme apela dessa desculpa ainda pra enfiar na tela o mesmo problema que 10.000 a.C. tem (quem é mais antigo aqui da era blog do FM sabe que eu fiz até lista dessa pérola cinematográfica) o que fez que eu citasse justamente esse problema: incoerência ambiental. O filme literalmente vai de paisagens alegremente falsas de mata com clima de pântano, à um dito deserto que aparenta não ter fim, e que ainda conta com (o que sobrou) de um MOTEL, com tudo faltando, mas que ainda assim, tá com a piscina cheia de água, porque por alguma razão, ela não secou. 

Piscina essa, inclusive, que é usada pelos 2 patetas masculinos daqui em um momento, junto de Chaka (Jorma Taccone), que é um dos primatas sub-desenvolvidos que é aliado deles tanto na série, quanto no filme. Mas no filme, Chaka é claramente pilantra como Rick & Will, e gosta de beber uma e ficar bêbado (& spoiler: ele tem um harém de muie, que é muie mesmo), que meu pai, dá pra ele fazer o Planeta dos Chakas, se é que já não fez. E a Holly por alguma razão entende o que ele fala mesmo, antes que eu me esqueça (também tem piada com insetos sugadores de sangue, árvores carnívoras) e toca "A Chorus Line" aqui. Mais aleatório, impossível.

Mas apesar disso tudo, e apesar de abusar do termo "filme desrecebrado" (tem filmes por aí que são assim mais são até coerentes perto desse aqui) se o título do post é "É Ruim, Mas eu Gosto", então sim: eu, apesar de tudo, me divirti com essa "pérola" arranhada dirigida por Brad Silberling (Cidade dos Anjos) e que recebeu aval dos ditos Krofft, que ainda se envolveram como produtores dessa bagaça (eles definitivamente não ligam que sua cria seja totalmente distorcida) para virar uma bagunça comediana (se é que existe essa palavra) que sofre surtos nervosos para poder contar piadas envolvendo estrume de dinossauro, urina de dinossauro, inteligência de dinossauro, sentimentos feridos de dinossauro, além de seisgo entre Sleestaks (é sério). 

O filme é tão descarado em seu objetivo, que rapidamente eu fiz o que ele queria que eu fizesse: deixa a vida me levar, pra ver até onde essa merda me leva (os próprios atores parecem fazer o mesmo, já que não é lá sempre que eles fazem algum esforço para parecer apavorados, maravilhados) ou às vezes até levemente preocupados em estarem em uma verdadeira salada jurássica que deve soar pra eles apenas um parque de diversões de nível B (com a diferença que pros personagens) esse cenário pode realmente mata-los. Mas vindo desse filme, fica a dúvida se isso sinceramente não foi proposital, só pro público não se preocupar muito se o Will Ferrell vai se lascar diante de caranguejos gigantes, Sleestaks, ou mesmo diante do melhor personagem do filme!

Zangado! (ou Grumpy se preferir), que é ainda o melhor personagem atualizado por esse filme (até porque dinossauro com a cauda arrastando no chão não dá mais hoje em dia). Mas ele realmente protagoniza os momentos mais divertidos (ainda mais quando subestimam sua inteligência ou persistência).

Enfim. A versão cinema de O Elo Perdido merece todo tipo de crítica que recebeu (ainda mais do público já familiar com a marca por conta do seriado de TV), não só pela revirada de papéis feita aqui para transformar isso tudo em um cenário que o ator protagonista já estava familiarizado (ao menos ninguém pode dizer que foi por querer dele), mas sim por não conseguir, ao menos, trabalhar o que Elo Perdido realmente era: uma aventura (que até poderia ter aqui um humor mais ácido e politicamente incorreto), desde que isso não significasse transformar tudo ao seu redor num grande efeito alucinógeno que parece que foi sentido por todos que se envolveram aqui. Diretor, roteirista, elenco, ou mesmo até o cara que realmente achou uma boa idéia injetar 100 milhões de dinheiros nesse filme, que nem se pagou (se encostou em quase 70 milhões), para você ter ideia. Isso sem falar das suas 7 indicações ao Framboesa de Ouro (incluindo Pior Filme) e ganhando na categoria Pior Prequel, Remake, Spin-Off ou Sequência.

AINDA ASSIM, é um filme que realmente me entreteu como divertimento de alugação de fim de semana, desde que eu continue ignorando qualquer senso de lógica, e com o cérebro no modo "hibernação". Afinal, é justamente isso que o filme quer que eu faça, no fim das contas.  



Por: Riptor

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