Eu já disse isso aqui, em post, pelo menos 2 vezes (na última vez), justamente nessa lista sobre o assunto, que caso você tenha interesse e não tenha visto, é só clicar aqui. Adaptações de jogos viveram, por muito tempo, em um período de trevas quase completo, com obras que fizeram qualquer um que tem noção dessa indústria, ficar com o rosto virado. E apesar dos passos um de cada vez para se mudar esse cenário, até que vem dando certo. Ora, em tempos mais recentes, a coisa deu algum avanço, de fato. Já é um cenário mais otimista pra esse tipo de projeto, do que era nos anos 90 ou 2000, onde a simples idéia de fazer um filme de jogo, já era motivo suficiente pra saber que viria, com 99% de certeza, uma desgraça. Ninguém consegue tirar um rótulo, sem tentar e demonstrar isso dignamente, não?
E é com isso em mente, que saiu recentemente, o novo filme do Mortal Kombat. Anunciado em 2015 (mas que vinha tentando sair do papel à mais tempo que isso, diga-se de passagem), vide o cenário atual das adaptações de games, soava o momento ideal para a clássica franquia de luta da finada Midway (atualmente à cuidados da NetherRealm) voltar as telonas. Ora, agora poderia ter sangue, fatality, espinha dorsal arrancada, soco que arranca a cabeça do maluco, quebra de ossos, sangue, adrenalina violenta, e fatality, e sangue...e sangue?! É, e fatalitys.
E a própria franquia já soava estar mais encaixada para isso em tempos recentes, com um tom mais cinematográfico, desde o Mortal Kombat 9. Quem conhece MK, sabe que há um universo interessante ali. Mas claro, acima de tudo, o que faz essa série ser legal até hoje, é justamente a simplicidade de você querer acabar com seu oponente literalmente, com personagens legais, seja visualmente, e pelos personagens em si. O filme tendo isso, já seria até o suficiente, falando nisso. Afinal, é justamente o que fez o primeiro longa, de 1995, ser querido até hoje, mesmo com seus pesares, e limitações da época. Mas enfim, eu enrolei aqui com vocês, mas agora é hora de falar mesmo desse novo filme (que não se preocupe), não terá spoilers....apesar que certas coisas que eu gostaria de dizer, dependeriam deles, mas tudo bem.
A premissa, a esse nivel do campeonato, você já deve saber. Cole Young (personagem criado para o próprio filme), um lutador de artes marciais fracassado, vê a sua vida monótona dar uma cambalhota tripla, quando começa a ser perseguido pelo Sub-Zero, que quer mata-lo. Felizmente para esse herói, ele tem seu ânus salvo por Jax, que explica que ele é o escolhido, que está tudo conectado, que tem um torneio ("Mortal Kombat, yeah"), que tem outros escolhidos, que por sua vez precisam defender o plano terreno, dos FDPs de Outerworld, que tão querendo apelar pra cheat, pra poder invadir. Aí bata nessa mistura uns outros personagens, e temos o nosso filme. Ou algo do tipo.
Quanto à história, não tem muito o que dizer. Na teoria, seria o bom & velho basicão do que você esperaria de um Mortal Kombat clássico (o filme poderia facilmente entrar assim na categoria de "filme honesto"), que eu já falei por exemplo no meu post de Godzilla vs Kong. No entanto, a produção dirigida por Simon McQuoid (que até então tinha uma carreira como diretor de comerciais), tropeça ao tentar entrar nisso. O filme tem menos de 2 horas, o que não seria um problema, se não fosse o detalhe que conseguia ser visto por todos: o filme tem personagens demais (e como provado agora), vontade de desenvolvimento, de menos.
Veja bem: temos aquele Cole, temos Scorpion e Sub-Zero (e toda a sua já clássica rivalidade), temos Jax, temos Sonya Blade, Kano, Liu Kang, Kung Lao, Raiden, Shang Tsung, uns outros que nem vale a pena mencionar, o conceito do torneio, e ainda deveria ter o torneio em si. E mesmo assim, dá pra sentir que esse filme é "rushado", ele simplesmente avança, sem dar tempo para que ele mesmo consiga formar corpo. A última vez que eu senti algo desse nível foi em Not Safe for Work, outro filme que compartilha do mesmo problema, porque ele bate 1 hora suando. Os personagens desse MK são simplesmente jogados na trama, já ia bater quase 1 hora de filme, e os infelizes ainda tavam metendo mais gente.
O tal "Cole Young" do Lewis Tan, é um caso curioso. Não sei se é só culpa do roteiro, ou de ambos, já que ele não convence mesmo. Sinceramente, por mais que o plot dele fosse simples, tinha potencial, sim. No fim das contas o personagem poderia ser legal, como um fracassado que, como o público leigo, aos poucos começa a conhecer tudo em volta do Mortal Kombat, e ao longo da jornada ele até melhoraria, mas ainda seria meio que um cara ruim de luta, e no futuro ele se tornaria um bom, de fato. Sabe, construir um arco bacana, mas NÃO: por um tempo mais que considerável, ele é um banana. Mas pela poderosa força do roteiro, de repente ele está lá, derrotando um certo alguém, que eu não sei se eu ria, ou se eu chorava ao ver tal cena. Sem falar que né, o negócio quanto à porque ele ser o escolhido já tava tão óbvio no começo, que eu acho que nem seria spoiler dizer de quem ele é descendente.
Eu senti dó do Mechad Brooks, e da Jessica McNamee nesse filme. Sabe porque? Porque eu gostei deles nos papéis. O Brooks foi um bom Jax, e a McNamee não só parece com a Sonya, como age bem no estilão durão dela. Infelizmente, o Jax só serve aqui pra ter os braços arrancados pelo Sub-Zero mesmo (como tava no trailer), some, depois ele acorda onde coincidentemente a carreta furacão tava, com os bração de metal, dá uma lutinha, recria um fatality dele, é isso. Já a coitada da Sonya, que estranhamente nem pensa em ir atrás do Jax quando o Cole diz que ele tava lá lutando (com o Sub-Zero), sendo que ela sabia que podia dar merda pro lado dele, mas depois se mostra toda preocupadinha quando acha ele todo apanhado já (ou ela é muito falsa, ou o roteirista tocou o foda-se mesmo), não tem uma luta decente.
Já o Kung Lao do Max Huang, é praticamente um fanservice vivo, e é isso (você que assistiu vai entender porque eu tô falando isso), depois que acontece aquilo lá. Ludi Lin, se ele achava que é só soltar uns gritinhos que já vira Liu Kang, meu jovem, não. O Raiden do Tadanobu Asano, é um bundão pra se dizer o mínimo (não tem presença de cena nenhuma), e só serve pra ser Uber. O Shang Tsung do Chin Han sofre o mesmo problema: ele simplesmente NÃO tem presença de tela! E no fim das contas, não faz nada, só deixa pros buchas dele fazerem o serviço. E quando digo buchas, eles têm nome, e se chamam Mileena, Kabal, Reiko, e Nitara (além de um outro que eu prefiro nem comentar).
Mas, eis que enfim vou falar bem de mais alguém, afinal. O Kano do Josh Lawson é realmente divertido (babaca, se acha), com piadas fora de hora, que realmente funcionam. O Sub-Zero do Joe Taslim também é bom, assim como o Scorpion do Hiroyuki Sanada, que realmente ficou ótimo. Na verdade, esses 2 últimos ainda são responsáveis pela porcentagem decente de outra coisa desse filme também, já já tu vai ver.
Esse enchimento todo já em um primeiro filme de uma possível nova franquia, apenas pra enfiar um monte de personagem pra fã "pirar" durante ele, parece realmente pensamento de iniciante, que é mais comum do que devia ser. Esse filme poderia muito bem ter sido só o Cole, Jax, Sonya, Sub-Zero e o Scorpion, com uma ponta do Raiden, além do Kano, já que ele serviria mais de alívio cômico mesmo. Ou seja, você só teria de desenvolver mesmo 5 personagens, mas nãooo. E lembra que eu citei "torneio"? Pois bem meu amigo, o que é justamente o ponto central de Mortal Kombat (o torneio que se chama Mortal Kombat)...não tem aqui. Sim, esse é um filme de Mortal Kombat, que não tem torneio (dá pra ver que o filme foi feito querendo mostrar tudo que acontece com os personagens pra chegar até lá), pra em um possível segundo filme, ter o torneio em si. O que não seria má ideia, desde que não fosse essa bagunça, que te leva de nada, pra lugar nenhum.
Mas, "tudo bem", você pode pensar. Afinal, se o filme tiver cenas de luta massa né, eu dou um desconto pra tudo isso. Então não dê, porque Simon McQuoid pelo jeito trocou uns zap-zap com o Scott Buck, porque não é possível que ele quis fazer um filme de artes marciais que quase não tem uma luta que presta. A abertura no Japão Feudal (que ficou phoda, fato) com o conflito entre o Scorpion e o Sub-Zero que fizeram o favor de soltar praticamente toda antes em trailers e clips (provavelmente pra iludir mesmo, deve ter dado certo) e o confronto final entre eles, são o que se salva mesmo. O resto? É cuspida, sem peso, genérica. O que adianta ter sangue nessas horas? A parte do Jax mesmo socando o cara antes do fatality, parece que ele tá socando um boneco (você não sente o peso da porrada), você só vê que machuca, por causa daquele efeito exagerado de sangue, que permeia o fatality que simplesmente, acontece.
O Diretor disso Aí |
Pra quem ficava aí falando em inspiração em filme de ação coreano, indonésio, Operação Invasão, quem dera se o Gareth Evans estivesse dirigindo isso (as porradas não só não tem peso), como são mal coreografadas, mal editadas (o filme apela até a última gota pra cortes rápidos), e você nem sempre vai pode ver o que diachos está acontecendo, no final das contas. A impressão que dá é que a cena de abertura estava tão na mente e na vontade do diretor e dos roteiristas, que só depois eles perceberam que eles precisavam fazer um filme, e não um curta.
Falando nisso, esse filme tem mesmo um gosto de filme B, ainda mais com o negócio que enfiaram aqui dos personagens "desbloquearem" sua "arkana" (?????!) e por consequência seus poderes. Tipo, é RPG isso? E a trilha sonora, praticamente ela não existe, e o tema do filme original, amigo, ele só vai tocar lá pro final. Ironicamente, os detalhes que eu fiquei meio assim na (ocasião opinião impopular) quando saiu o trailer que meio mundo bateu palma, tipo o laser do Kano, foi o de menos, já que tirando umas coisas aqui ou ali, visualmente o filme não é desagradável. Mas em compensação o resto....
No fim das contas, o novo Mortal Kombat soa apenas um emaranhado de fan services baratos, ao invés de ser de fato um filme honesto em ser quase 2 horas de escapismo, com a presença disso. Não há honestidade nenhuma na execução, que carece de qualquer charme, ao ser uma mera compilação do que o público da franquia gostaria de ver, se o conjunto da obra não fosse tão raso, e apressado. Uma história que não precisava reinventar a roda, ser complexa ou nada do tipo, mas que também não precisava ser só tiro de personagem pra tudo que é lado. Um personagem (que nem existe no lore) que é um nada por tempo mais que considerável, e que de repente vira o bambambam do carai todo. Lutas feitas por um cego, pra dizer no fim do trabalho, que a coreografia disso tava boa. Trilha inexistente. E sem torneio nenhum!
Quer assistir um filme de Mortal Kombat? Assista aquela animação recente, Scorpion's Revenge. Ou o filme do Paul W.S. Anderson mesmo, que pode até não ter fatality, mas ao menos assumia sua missão de ser um escapismo, com personagens realmente existentes nos jogos, com coreografias de luta melhores, e com um tema que não ficou icônico atoa. Agora, se você quiser ver esse arrombo cinematográfico, sei lá, fume uma maconha, beba uma cachaça violenta, e vai fundo, campeão. E quanto ao título, você ao ter lido o texto todo pode me questionar: "Pô Rip, como assim esse MK parece que foi feito por um fã?"
Ora, meu caro. As fanfics de qualidade duvidosa internet à fora vão te responder isso, porque eu acho que o roteiro desse filme saiu de lá.
Por: Riptor
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