sábado, 10 de abril de 2021

O Peso do Símbolo

 

O Post a Seguir contém SPOILERS, então se não viu, leia por sua Conta & Risco 


Apesar do humor presente aqui ou ali durante a trama, Falcão e o Soldado Invernal realmente mostrou que sua carga de seriedade está bem presente (e isso só se intensificou no quarto episódio liberado ontem), que foi realmente o mais dramático nesse sentido. John Walker continua atrás de Sam, Bucky e Zemo (e os Apátridas liderados por Karli Morgenthau), continuam a ganhar popularidade pelo mundo, mostrando que nem sempre os heróis tradicionais dão conta dos problemas reais. E no meio disso tudo, o Soro do Super-Soldado, cada vez mais longe de ser algum tipo de "dádiva", para se mostrar apenas como um grande pesadelo com consequências, potencialmente sangrentas. E na prática, elas podem ser mesmo.

E chega a ser irônico, que apesar de não ser obviamente confiável, Zemo é justamente quem tem as palavras mais acertadas sobre o assunto: "Nunca houve outro Steve Rogers, não é?" Depois de esbanjar carisma no episódio passado, o vilão continuou seu arco de “guia” dos heróis pelo submundo do crime, ainda que a série nunca esqueça de lembrar que ele é escorregadio. Bastante diplomático, o Barão de Sokóvia é o único a conseguir informações sobre os Apátridas (ele joga sujo e suborna crianças com doces para conseguir descobrir o que precisa), mas como já vimos, os fins justificam os meios. Pra ele, ao menos. 


E outro que também cresce sob essa perspectiva, é justamente Bucky. A série até mostra a parte final de seu “retiro” em Wakanda, que nada mais foi que uma grande sessão de terapia e reset mental. Realmente há peso ao ver o personagem se percebendo realmente livre do controle mental que o levou a cometer atrocidades & mais atrocidades nos últimos 70 anos, e não escondendo as lágrimas por isso. 

Porém, mais tarde, vemos o reencontro dele com as Dora Milaje, e ele se pauta na mesma filosofia de "fins justificarem os meios", apesar dos meios dele serem bem mais compreensíveis do que os de Zemo. A série sabe demonstrar que independente disso, o tema envolvendo a morte do Rei T’Chaka pelas mãos de Zemo segue sendo claramente algo muito doloroso para Wakanda lidar, e Bucky no fundo, sabe disso. Não é atoa, que ao soltar o vilão da prisão e sair viajando pelo mundo com ele, o “Lobo Branco” assume um papel "ingrato", na visão daqueles que o devolveram a liberdade. 

Claro, nós sabemos que Bucky não fez essa escolha como se fosse a primeira da lista dele, mas realmente não há como julgar o fato da nação africana desprezar esse ato. É uma questão complicada, que ressalta que o heroísmo sempre demanda escolhas, incluindo as questionáveis. E é realmente bom ver que tanto nessa série (quanto em WandaVision), 2 daqueles que devem ser os personagens mais psicologicamente abalados do MCU (o próprio Bucky e Wanda), ainda que em jornadas diferentes, no fim sabem, que precisam fazê-las. E ahh, claro, no meio do quebra pau, o Zemo fugiu (damnit). 


Mas enquanto Bucky procura agir de forma a terminar os problemas o quanto antes e com o menor número de vítimas possível, John Walker também age sob um fantasma do passado que o força a tentar honrar o legado do ídolo que agora representa, ainda que as consequências para isso, sejam no mínimo fortes. Quando ele relembra ao parceiro que fez coisas terríveis no Afeganistão, o considerado novo Capitão América "perfeito" pelo governo, se mostra um personagem definitivamente quebrado, que sofre do estresse pós-traumático pelo que teve de enfrentar, de ver, de fazer. Ao invés de buscar tratamento, Walker acaba se alimentando dele para agir com agressividade e de forma impulsiva (e enquanto a maioria dos que passam por isso retorna para casa e acaba desenvolvendo vícios, como alcoolismo ou uso de narcóticos), John ganhou um uniforme e desenvolveu uma verdadeira obsessão por outro tipo de droga: justamente, o Soro do Super-Soldado. Todos os seus fracassos e frustrações são atribuídos ao fato dele não ter o soro em seu corpo. Dele não ser Steve Rogers. 

E diante de uma agridoce ironia, o Apátrida que havia aparecido mais cedo para contar a Karli como ele cresceu admirando e idolatrando o Capitão América e seu escudo, acaba sendo assassinado a sangue frio justamente pelo novo “Capitão América”, e seu escudo. John teve a escolha de apenas prendê-lo, mas escolheu matá-lo por vingança ao seu colega morto. Suas ações, como indica o próprio nome do episódio, são presenciadas por todo mundo, e acabam sendo gravadas e postadas por telefones. Além de um provável conflito internacional, o homicídio feito por Walker é justamente o símbolo que os Apátridas precisavam para reforçar a tese de que o ultranacionalismo, e seus símbolos, são o mal desse mundo. Em apenas 5 minutos, John Walker perdeu seu parceiro, e jogou quase um século do legado de Steve Rogers, no lixo


Mas no meio disso, ainda existe a área cinza no 4° episódio, representada justamente por Sam: mesmo sem ter aparecido tanto com as clássicas ações de heroísmo, Falcão se mostra realmente o verdadeiro protagonista da série. Seu crescimento como personagem é notável, já que ele busca sempre entender os lados do conflito em que está envolvido, além de começar a compreender a seriedade e importância da responsabilidade que foi a ele atribuída pelo próprio Rogers, e inicialmente renegada pelo mesmo, pelo medo da rejeição e do racismo que um Capitão América negro poderia causar. 

Empatia, autocontrole, compreensão e (de novo) autocontrole, são o que fizeram Steve ser realmente o Capitão América, e Sam compartilha da mesma mentalidade. Ser um herói não é estar sempre certo, e sim saber o que você representa, e como deve agir para que suas ações contribuam para o mundo. Sam também viu de perto os horrores da guerra e do pós-guerra, então o momento onde ele tenta dialogar e tentar mostrar para Karli que existem outros meios dela atingir o que busca, são realmente simbólicos. Ele entende que ela tem pontos relevantes para pessoas excluídas, mas não pode deixar que eles sejam conquistados por meio de mortes. Provavelmente, ele teria até resolvido o conflito, se não fosse a intervenção do suposto Capitão América "oficial".

Enfim. A série termina com seu melhor gancho até aqui, com o Agente Americano (de fato agora um novo Super-Soldado), assumindo o manto do Capitão América para assassinar um bandido diante das câmeras de quem quiser filmar, ou tirar fotos. O mundo com certeza irá reagir à isso contra ("Morte do Símbolo") ou a favor ("Bandido bom, é bandido Morto"). Ao mesmo tempo, os Apátridas continuam crescendo, Zemo está à solta por aí, o misterioso Mercador do Poder segue atrás de Karli, Bucky se queimou com Wakanda, e Sam se demonstra cada vez mais apto para pegar de volta o que é seu por direito, para (ao menos tentar) ser um guia para uma esperança, dispersa. 


Não é o escudo que traz valor ao Capitão América. É o Capitão América que traz ao escudo.


Por: Riptor

Fonte: CinePop 

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