domingo, 30 de maio de 2021

Army of the Dead: Zack Snyder Pipoca

 



Zack Snyder. É inegável que ao longo da sua carreira, o diretor conseguiu fazer que só o seu nome já trouxesse barulho, e sentimentos aflorados, para onde quer que ele decidisse 'estacionar'. Ainda mais durante seu tempo na DC, onde seu estilo cinematográfico (formado de fato à sangue em 300), após sua estreia com o remake de Madrugada dos Mortos, sempre sendo palco para discussões potencialmente "explosivas", dependendo da onde fosse. Quem acompanhou a época de lançamento de Batman vs Superman, que o diga. Na verdade, até hoje a produção rende burburinhos de defesa, e igualmente de ódio, pela internet (sem falar do enorme capítulo), envolvendo Liga da Justiça. Enfim, polarização entre ser querido por uns, e esmagado por outros como se fosse pisado por uma manada de elefantes, é algo que Snyder já está acostumado, seja quando envolve seus filmes, ou ele mesmo. Afinal, tem pessoas na internet que parecem ter realmente problemas pessoais, com este figura. 

Com base nisso, 2021 se mostrou realmente um recomeço para o diretor "sombrio & realista". Após um período especialmente esquentado na Warner (que serviu de 'palco' para grande parte de seus principais longas) envolvendo 'guerras' criativas, além de uma tragédia pessoal, Snyder pode ver, afinal, o lançamento de sua verdadeira versão de Liga em março, que teve uma boa recepção até mesmo da crítica, após toda uma campanha de fãs, pelo lançamento de seu corte. E agora, de seu de fato novo lançamento, agora na Netflix, após anos na sala de espera: Army of the Dead. A volta do mesmo ao gênero que o trouxe ao mundo, e que mesmo com suas marcas, apresenta algo estranhamente mais...pipoca. Do modo Zack Snyder de ser, claro.


Vamos começar pela premissa (que você já deve estar familiarizado), a esse nível do campeonato. Ambientado em uma Las Vegas que sofreu um surto zumbi que deixou a cidade literalmente às traças, o filme se concentra em Scott (Dave Bautista), um homem que já foi um herói dessa guerra contra os mortos-vivos (ainda que isso tenha significado perdas para ele), e que hoje se vê vivendo a vida, como um vendedor de hambúrgueres. No entanto, tudo muda quando o mesmo é abordado por um magnata (Hiroyuki Sanada) que oferece uma proposta tentadora: invadir a cidade zumbicada para roubar US$ 200 milhões presentes em um cofre, antes do governo bombardear o terreno, em uma questão de horas. 

Apesar de saber dos riscos, o mesmo aceita, monta uma equipe de abertos à tentar a sorte por uns dólares no banco, e parte rumo à seu objetivo. No entanto, as coisas logo se mostram não exatamente da forma que ele gostaria, quando ele vê sua filha Kate (Ella Purnell), do qual ele não tem exatamente uma relação exemplar de pai, se unindo ao time para procurar uma amiga desaparecida, ao mesmo tempo que as hordas de zumbis se apresentam não só como mais rápidas, como também com alguns mais espertos, vide o próprio líder desses zumbinhos. Como diria o próprio marketing do filme: os sobreviventes, ficam com tudo. Agora, banhe esse slogan à pipocos em zumbi, sangue, piadas, e um pouco de pseudo drama, e temos o nosso filme. Que na prática, funciona, apesar de eventuais poréns.


A verdade é que Army of the Dead claramente representa mais do que apenas a volta de Snyder ao gênero que lhe deu seus primeiros holofotes. Se o 'Snyder Cut' (apesar de manter seu tom "snyderiano") já soava visivelmente algo mais leve se comparado ao drama de O Homem de Aço, ou mesmo principalmente o pessimismo de BvS, é em Army que o estilo do diretor de fato demonstra que também tem sua visão, sobre ser 'pipoca'. Quem sabe até pelo que teve de passar em seu período mais recente (e turbulento) na Warner, isso chega a ser meio interessante de notar. É quase, como se esse filme tivesse sido feito como uma forma do diretor 'dar um suspiro', e simplesmente fazer, mais para passar o tempo. "Preciso ser honesto, foi incrivelmente divertido! Fazer esse filme provavelmente foi, ao lado de Watchmen, a experiência mais agradável que eu já tive. Army of the Dead me possibilitou um reencontro catártico com o cinema, e eu adorei", declarou o mesmo em uma entrevista. E vendo o resultado, realmente parece o caso.


Com base nisso, quanto ao roteiro, logo de uma vez parte da trama já é colocada no jogo, e apesar de ainda haver um tempo gasto para mostrar os personagens, e os dilemas dos mesmos, logo o foco do filme se vira pra ação, e humor. Sim, Zack Snyder sabe o que é humor (sempre foi algo mais contido em sua trajetória), mas aqui, ele deixa as coisas aflorarem, mais. Para alguns que só conheceram o mesmo à partir de 300, mesmo que suas características marquem presença aqui (oi câmera lenta), talvez role uma estranheza. Nesse sentido, realmente até dá para se recordar um pouco do tempo do Zequinha mais "cru", de Madrugada dos Mortos. Ainda que nem tanto como algumas pessoas gostariam, o que meio que explica algumas decepções, com este aqui.


Zack Snyder quase nunca é um diretor de consenso. Conforme mencionado com o caso de BvS, muitas vezes as pessoas ou amam o que ele faz, ou odeiam na mesma proporção. Particularmente, semprei achei o mesmo um diretor na média (ele inegavelmente tem méritos), gosto da maioria de seus filmes, ainda que alguns deles em especial sejam mais problemáticos, do que outros. Ainda assim, Madrugada dos Mortos pode ser considerado um de seus consensos positivos entre gregos e troianos, então era natural que se criasse uma expectativa que Army fosse algo do tipo, o que não é o caso. Army of the Dead é um filme de ação com doses de humor, que por acaso tem zumbis. 

Não há, de fato, uma construção para que haja algum momento que seja mais tenso, do que o filme precisa, para depois disparar novamente na ação. E da mesma forma, quando o filme tenta desenvolver sua parte dramática, fica evidente que isso também no fim, só vai servir mais de bala (ou facada) para, novamente, a ação. Se você estava no time que gostaria que fosse basicamente um 'Madrugadas dos Mortos 2', o próprio motivo que causa o acidente que começa a zumbizada em Las Vegas no começo do filme, já deixa claro que este não vai ser pra você. Isso aqui está está mais para um Os Mercenários, que injetou líquidos de Guerra Mundial Z & Zumbilândia, na veia. 


Como já dito, Scott tem uma relação problemática com a filha, então parte do drama do filme acabaria sendo justamente essa reconciliação, e a relação entre eles. O próprio líder dos zumbinhos (Zeus), acaba tendo um pouco disso na trama, como uma espécie de 'paralelo', entre os 2. Mas apesar das boas intenções, isso acaba não funcionando muito: ainda que esteja conseguindo se relacionar com bons projetos ultimamente, é perceptível que Bautista ainda não é exatamente um ator dramático para que isso possa ser vendido, através do mesmo, dentro do escopo de um protagonista (apesar dele tentar), de fato. Junte ao fato da base de seu personagem, como de outros, ser mais adicionada, do que aprofundada de fato, e temos alguém que está tentando, mas que não tem muito material para conseguir tirar leite da pedra. O resultado, é o protagonista sendo justamente o mais prejudicado quando o filme se volta para o drama, já que grande parte dele, cai em suas costas.


E a parte envolvendo justamente os zumbis mais "cerebrados", que deveria ser justamente um dos atrativos do filme, acaba também não sendo tão bem explorada, como se poderia. É realmente promissor ver que há uma espécie de comunidade ali no meio, ao invés de apenas um amontoado de bestas putrefatas...mas o próprio Zeus em si, acaba sendo mais um coadjuvante de luxo, então o filme acaba tendo mais contato com seus próprios "capangas", do que com o dito cujo. É inegável que no fim, fica aquele gosto na boca de: "Eu poderia [e eu QUERIA] ter visto mais dele". Até porque tempo, não deveria ter sido problema, aqui. 

Army é o tipo de filme que realmente seria difícil de alguém apadrinha-lo para um lançamento tradicional nos cinemas. Um filme de zumbis que custou US$ 90 milhões, e que tem veja só, desnecessárias 2 horas e 30 minutos. Isso poderia ter sido facilmente reduzido para 2 horas, redondinhas (ainda que a duração aqui não tenha chegado a me cansar), como ocorreu com Mulher-Maravilha 1984, por exemplo. Mas, apesar de tudo isso (duração no mínimo meio extrapolada) e de um drama não muito funcional, o filme ainda consegue funcionar, ao se beneficiar justamente de seus vícios. O espírito mais pipoca, 'se cola' perfeitamente às boas cenas de ação entregues por Snyder, já acostumado a entregar o dever de casa nessa área. Quando tudo se muda para ação, o foco é devidamente acompanhado à gritos, caos, slow-motion, diálogos exagerados, e momentos sanguinariamente divertidos (e como não poderia deixar de ser), um deles é protagonizado pelo Tigrão-Zumbi do trailer. Isso, em um cenário geralmente mais claro, do que de costume na filmografia de seu diretor.

E o filme leva o "Dead" realmente à sério. A gangue de Scott faz um verdadeiro papel de Esquadrão Suicida, o que acaba sendo divertido, na hora de ver quem vai sobreviver à chacina. Junte isso à ação, e o filme arruma um jeito de fazer os personagens andarem e servirem a seus propósitos (enquanto que o de Bautista serve de "cabra de sacrifício" para carregar a maior parte do drama), já que conforme mencionado antes, não há tanto um desenvolvimento de fato, que vá além de suas características básicas. O meu favorito mesmo, foi a "Coiote" Lily (Nora Arnezeder). Acho que ela consegue se aproveitar bem do seu tempo de tela, e eu fiquei realmente esperando que ela saísse daquela. 


Por outro lado, o arrombador de cofres atrapalhado, Dieter (Matthias Schweighöfer) é um caso que acaba não funcionando, tanto assim. Ele seria meio que o "alívio cômico oficial", do filme (mas como o clima aqui, como dito) acaba dando essa responsabilidade não  tanto para ele em si, acho que isso acabou meio que deixando o personagem "apagado". Apesar dele ter seus momentos, como o da "noiva", sem falar da sua iteração com Vanderohe (Omari Hardwick). Vale lembrar que ele terá um derivado (que já foi filmado) dirigido pelo próprio Matthias, então vamos ver como ele se sai. 

No fim das contas, Army of the Dead é mesmo Zack Snyder em sua versão pipoca. Uma grande vitamina de ideias, que apesar de ainda ser proveitosa, possui coisas claramente bem mais funcionais, do que outras. Ao fazer de seu primeiro trabalho na Netflix seu mini-parque de diversões, o diretor potencialmente evita que sua segunda tentativa com uma criação de fato original não engrenasse, já que dificilmente o filme iria para algum lugar com o drama aqui no mínimo raso, que não consegue se sustentar por muito tempo, enquanto a ação não rola (e o próprio filme), parece ter certa consciência disso. Uma diversão de fim de semana cheia de excessos, que demonstra o melhor (e o questionável) de seu diretor, ao mesmo tempo. 

Mas além disso, é justo analisar Army um pouco justamente, pelo que ele é. Não um filme isolado, e sim um com pretensões de franquia (como dito, um derivado já foi filmado), e um projeto animado, também já foi encomendado. Talvez, oportunidades perdidas & dúvidas (como o fato de como surgiu, afinal, esse vírus zumbi), tenham sido propositalmente deixadas no ar justamente para serem mais bem abordadas, em projetos futuros (sem falar da deixa clara) para uma sequência, de fato. Snyder conseguiu criar um universo que realmente causa um interesse em se ver mais sobre ele, então ainda que o primeiro exemplar tenha sido meio que "sacrificado" em pró disso, apesar de ainda sair no saldo positivo, é algo que pode acabar sendo potencialmente 'perdoado'. Desde que os envolvidos saibam se aproveitar dessas pontas, claro. Poxa, lembrem-se por exemplo que este vírus só não afeta pássaros, o tigre-zumbi pode ter sido apenas a ponta do iceberg para animais zumbicados aqui. E isso me parece ótimo de se saber! 


Mas enfim. 2021 realmente vai ser um ano que Snyder irá guardar bem, em suas memórias. Afinal, goste ou não de seu estilo, o importante no fim do dia para ele, é que você esteja falando dele.


É isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!


Por: Riptor

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