Sendo atualmente a polêmica do momento na indústria de games, a situação da Activision Blizzard não parece que irá melhorar em um período próximo: isso porque de acordo com um tweet feito pelo jornalista Jason Scherier, o presidente da Blizzard (J. Allen Brack) decidiu deixar a companhia, e com Jen Oneal e Mike Ybarra assumindo assim, como co-líderes.
De acordo com Daniel Alegre (por sua vez presidente da Activision Blizzard), através de um e-mail para os funcionários, Brack estaria deixando a empresa para "buscar novas oportunidades". Apesar de ser um momento bastante desagradável, para pensar nisso...isso, claro, se levarmos essa declaração realmente à sério:
BREAKING: Blizzard president J. Allen Brack is leaving the company, Activision Blizzard just told staff. Jen Oneal and Mike Ybarra will take over as "co-leaders of Blizzard."
— Jason Schreier (@jasonschreier) August 3, 2021
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Conforme já relatado, o caso começou no mês passado, quando o Departamento de Trabalho e Moradia da Califórnia (DFEH) abriu uma ação judicial contra a Activision Blizzard, com base em diversas denúncias de assédio, abuso sexual e discriminação contra funcionárias mulheres, dentro da companhia. A ação, entregue para a Corte Superior de Los Angeles, relatou uma cultura tóxica para as funcionárias da empresa, indo desde salários desiguais e pouca (ou nenhuma) representatividade nos papéis de liderança da companhia, até casos de assédio e abuso sexual, no ambiente de trabalho. Algo, aliás, que seria prevalente em várias divisões da companhia, com diversos casos citando em específico a Activision Publishing, e a Blizzard Entertainment.
"Nos escritórios, mulheres são sujeitas a 'cube crawls' em que funcionários homens bebem quantidades significativas de álcool ao se 'arrastar' pelos vários cubículos e engajar comportamento inapropriado contra funcionárias mulheres", diz o documento. "Funcionários homens chegam orgulhosamente ao trabalho de ressaca, jogam videogame durante longos períodos de tempo no trabalho, enquanto também delegam responsabilidades para as funcionárias, comentam sobre seus encontros sexuais, falam abertamente de corpos femininos, e fazem piadas sobre estupro". De acordo com a queixa, esta cultura é um "terreno fértil para assédio e discriminação contra mulheres", com diversos casos de assédio sexual e comportamento inapropriado ocorrendo de forma corriqueira, e sendo ignorados pelas chefias nos vários níveis da empresa. O documento nota que os altos cargos da Activision Blizzard, tendem a pertencer a homens brancos.
O processo assim cita vários casos em que as funcionárias em várias áreas da empresa chegaram a reclamar diretamente com o departamento de Recursos Humanos da Activision, e até para o então presidente da Blizzard, mas sem sucesso (já que os funcionários do RH) teriam um relacionamento próximo com os acusados. Em um caso particularmente trágico citado na ação, uma funcionária teria cometido suicídio em uma viagem de trabalho com seu supervisor, com quem estaria tendo uma relação sexual. Ela também teria sofrido assédio de outros funcionários, e uma foto íntima teria sido compartilhada durante uma festa de fim de ano da empresa. O processo reforça um tratamento preferencial para homens, com casos de mulheres não sendo promovidas a cargos de liderança, mesmo trabalhando por mais tempo e com métricas de sucesso maiores/ equivalentes, a de suas contrapartes masculinas (tanto), que apenas 20% da força de trabalho da Activision Blizzard é composta por mulheres, indicando uma disparidade significativa de gênero.
Em resposta ao processo, a Activision Blizzard fez a seguinte declaração:
"Valorizamos a diversidade e nos esforçamos para criar um ambiente de trabalho que ofereça inclusão para todos. Não há lugar em nossa companhia ou indústria, qualquer indústria, para conduta sexual inapropriada ou assédio de qualquer forma. Levamos todas as alegações a sério e investigamos todas as queixas. Em casos de conduta inapropriada, ações foram feitas para resolver a questão. O Departamento inclui descrições distorcidas, e em muitos casos falsas, do passado da Blizzard. Temos sido extremamente cooperativos com o Departamento durante sua investigação, incluindo dados extensivos e ampla documentação, mas eles se recusaram a nos informar quais problemas foram notados.
A imagem que o Departamento cria não é o ambiente de trabalho da Blizzard de hoje".
Após isso, em um e-mail enviado aos funcionários, a atual chefe de compliance da Activision Blizzard, Frances Townsend - que ficou conhecida por sua apologia à tortura ao servir como consultora do Departamento de Segurança Nacional durante a administração de George W. Bush - defendeu a empresa, e chegou a culpar o processo em si por "ferir" a cultura da companhia:
"Sei que isso tem sido bem difícil para muitos de nós", diz a mensagem, reproduzida pelo já mencionado Jason Schreier, e por Megan Farokhmanesh, jornalista da Axios. "Um processo aberto recentemente apresentou uma imagem distorcida e irreal de nossa companhia, incluindo histórias factualmente incorretas, antigas, e fora de contexto - algumas de mais de uma década atrás. As companhias da Activision de hoje, as companhias da Activision que eu conheço, são companhias excelentes e com bons valores.
Quando entrei para a Equipe de Liderança Executiva, estava certa de que estava me juntando a uma empresa onde seria valorizada, tratada com respeito, e provida com as mesmas oportunidades oferecidas aos homens. Para mim, isto tem sido verdade neste tempo. Como líder, tenho compromisso de garantir que a experiência que tenho seja a mesma para o resto da organização."
Vale destacar que Townsend é uma figura feminina no alto escalão da empresa, algo que é criticado no processo como incomum (mas é importante notar, claro, que ela foi uma contratação recente), e tendo toda uma carreira formada fora da companhia (e até mesma da própria indústria de games), como um todo. "Colocamos enorme esforço em criar políticas de compensação justas que reflitam nosso compromisso com oportunidades igualitárias. Revisamos compensações regularmente, e nos sentimos confiantes de que pagamos todos os funcionários de forma justa por trabalho igual ou significativamente similar. Trabalhamos para uma companhia que verdadeiramente valoriza igualdade e justiça, e fiquem tranquilos, que a liderança está comprometida a continuar mantendo um ambiente de trabalho seguro, justo, e inclusivo", continuou a executiva. "Não podemos deixar as terríveis ações de outros, e um processo verdadeiramente sem mérito e irresponsável, ferir nossa cultura de respeito e oportunidade igual para todos os funcionários."
A mensagem, só deixou muitos funcionários da Blizzard "furiosos", tanto que alguns então planejaram realizar um protesto em frente à sede da empresa, além de fazerem uma carta aberta em repúdio à liderança do conglomerado. "Nós, os signatários, concordamos que as declarações da Activision Blizzard Inc. e de sua equipe legal quanto ao processo da DFEH, assim como o pronunciamento interno subsequente de Frances Townsend, são abomináveis e um insulto a tudo o que acreditamos que nossa companhia deveria significar. Para deixar claro e inquestionável: nossos valores como funcionários não são refletidos nas palavras e ações da chefia.
Acreditamos que as declarações danificaram nossa jornada contínua por igualdade dentro e fora de nossa indústria. Categorizar as denúncias que foram feitas como 'distorcidas, e em muitos casos falsas' cria uma atmosfera corporativa que desacredita as vítimas. Isso também põe em dúvida a habilidade da nossa organização de punir abusadores por suas ações e criar um ambiente seguro para vítimas se pronunciarem no futuro. Estas declarações deixam claro que nossas lideranças não colocam nossos valores em primeiro lugar", continua. "Os executivos de nossa companhia dizem que ações serão tomadas para nos proteger, mas considerando a ação legal - e a resposta oficial perturbadora que a seguiu - não temos mais a confiança de que nossos líderes colocarão a segurança de funcionários acima de seus próprios interesses. Dizer que esse é um 'processo verdadeiramente sem mérito e irresponsável' enquanto se vê tantos atuais e antigos empregados se abrindo sobre suas próprias experiências com assédio e abuso, é simplesmente inaceitável. Nós não seremos silenciados, e não vamos desistir até a companhia que amamos ser novamente um ambiente de trabalho que tenhamos realmente orgulho de fazer parte, como já foi um dia. Nós seremos a mudança", conclui. A carta, já teria sido assinada por mais de 2.600 atuais funcionários da Activision Blizzard, e também recebeu apoio de um grupo de funcionários da Ubisoft, que também aproveitaram para relembrar casos recentes na companhia francesa também envolvendo discriminação, assédio e bullying sistêmicos, algo que já fez com que a empresa demitisse alguns nomes que estiveram envolvidos neles.
E pra fechar, a Activision Blizzard tambem vem sendo investigada por seus próprios acionistas, que procuram por evidências de que a empresa teria escondido informações, sobre o caso. Ao menos três firmas de advocacia - Lowey Dannenberg, Rosen Law Firm e The Schall Law Group - procuram atualmente por evidências de que a corporação guardou para si informações relevantes sobre a investigação original, ao invés de compartilhar com seus investidores e acionistas (e por consequência), com o processo. "A investigação tem como foco a dúvida pertinente, envolvendo se a Companhia fez declarações falsas ou enganosas, ou se falhou, ou preferiu arquivar, informações pertinentes dos próprios investidores", diz a declaração do Schall Law Group. Desde a abertura do processo, as ações da Activision Blizzard despencaram, o que certamente deixou seus investidores desavisados insatisfeitos - seja pela severidade das alegações, ou mesmo (claro) pelo fato de estarem perdendo dinheiro.
De qualquer forma, a Activision Blizzard está longe de ser a única grande empresa de games a ser denunciada por uma cultura tóxica: além da já citada também Ubisoft, a Riot Games (de League of Legends) por exemplo, também foi fonte de processos por tratamento abusivo, contra sua força de trabalho feminina.
Por: Riptor
Fonte: The Enemy
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