segunda-feira, 11 de outubro de 2021

"Achou que Iria se Safar de pelo Menos Um?"

 


Parece que a situação da Activision Blizzard não vai mesmo sentir alguma 'aliviada', desde o estouro de polêmicas envolvendo os bastidores do conglomerado. Isso porque o Departamento de Direito de Emprego e Moradia (DFEH) da Califórnia, emitiu hoje (11) uma objeção formal ao recente acordo que havia sido feito entre a Activision Blizzard, e a Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego dos EUA (EEOC), ao observar que isso poderia causar um “dano irreparável” aos seus processos judiciais em andamento, envolvendo o nome da empresa.


Caso você não lembre, precisamente no final de setembro, a EEOC havia entrado em um dito acordo com a Activision Blizzard, após ter apresentado uma queixa contra ela, alegando que a companhia era responsável por inúmeros funcionários que enfrentaram assédio sexual, discriminação na gravidez e retaliação relacionada, dentro da empresa. Com base nisso, o comunicado divulgado na época, dizia que “sob o acordo, a Activision Blizzard se comprometeu a criar um fundo de US$18 milhões para compensar e fazer as pazes com os requerentes elegíveis. Quaisquer valores não usados para requerentes serão divididos entre instituições de caridade que promovem mulheres na indústria de videogames ou promovem a conscientização sobre assédio e questões de igualdade de gênero, bem como iniciativas de diversidade, equidade e inclusão da empresa, conforme aprovado pela EEOC”. A DFEH observa que os termos do acordo entre a Blizzard e a EEOC exigiram que os funcionários liberassem a Activision Blizzard de reivindicações sob a lei estadual da Califórnia - o que teria por consequência sérias repercussões em seu próprio processo. “A ação de execução pendente da DFEH contra os réus será prejudicada por renúncias não informadas que o decreto proposto torna condicional. O decreto de consentimento proposto também contém disposições que sancionam a destruição efetiva e/ou adulteração de evidências críticas para o caso da DFEH, como arquivos pessoais e outros documentos que fazem referência a assédio sexual, retaliação e discriminação”, escreveu a DFEH.


Vale lembrar que o Estado da Califórnia já acusou a Blizzard de “reter” e “suprimir” evidências relacionadas ao caso, e esse novo acordo está reacendendo essas preocupações novamente.

Tendo começado em julho desse ano, o caso Activision Blizzard foi ficando mais incorpado nos meses seguintes, seja com declarações de nomes de alto escalão do conglomerado, protestos de funcionários, a saída do então presidente da Blizzard, e investigações vindas dos próprios acionistas da empresa. O próprio grupo de trabalhadores responsável pelos protestos que ocorreram nesse meio tempo, enviou uma mensagem dirigida a Bobby Kotick (diretor executivo da Activision Blizzard) & para o restante da chefia da companhia, após o mesmo publicar uma carta falando sobre "medidas" que seriam implementadas, após esses acontecimentos. "Quero reconhecer e agradecer todos que se pronunciaram no passado e nos últimos dias. Eu aprecio muito sua coragem. Toda voz é importante - e vamos fazer um trabalho melhor de escutar, agora e no futuro", declarou.


Obviamente, o texto de frases bonitas não deu efeito, com críticas a falta de interesse dos envolvidos citados em resolver as críticas apontadas pelos funcionários, além de críticas quanto a contratação da firma de advocacia WilmerHale, do qual a Activision Blizzard já foi cliente em casos parecidos. "Em resposta a nossas demandas, você escreveu uma carta aos funcionários expressando o compromisso de fazer um trabalho melhor de nos ouvir. Você disse que faria tudo que fosse possível para se unir com funcionários para melhorar o ambiente de trabalho. Ainda assim, as soluções propostas não respondem apropriadamente nossos pedidos, com você ignorando nosso pedido pelo fim da arbitragem obrigatória. Você não se comprometeu a adotar práticas inclusivas, muito menos comentou sobre transparência de salários", declarou a mensagem escrita pelo grupo de funcionários. "Nosso pedido por ação atravessa fronteiras de estúdios [da Activision/Blizzard], incluindo trabalhadores da Activision, Beenox, Blizzard Entertainment, High Moon Studios, Infinity Ward, King, Sledgehammer Games, Raven Software e Vicarious Visions". O processo legal contra a empresa posteriormente também chegou a mencionar que a mesma estaria utilizando táticas de intimidação, para que os funcionários não se pronunciassem sobre.


Enquanto isso, uma nova reportagem (feita pelo site Upcomer) acabou sendo publicada naquela ocasião, ao novamente ressaltar os casos de cultura tóxica da Blizzard, e de como figuras de liderança do estúdio eram coniventes ou permissivos com responsáveis por casos de assédio. As fontes não só relataram mais casos (ou reforçaram) as acusações de discriminação contra mulheres dentro do ambiente de trabalho citadas no processo aberto pelo governo da Califórnia, como mencionaram uma história em particular, que também mostrou um aparente descaso da chefia da companhia, com pessoas com casos de depressão, e LGBTs. "Em meados de 2011, jovens LGBTQ cometiam suicídios em níveis cada vez maiores. Um pequeno grupo de funcionários foi então até [o CEO] Mike Morhaime pedindo apoio da companhia para fazer um vídeo especial da [campanha] 'It Gets Better', para mostrar que a Blizzard era um lugar que apoiava essa causa que já vinha sendo feita. A idéia era fazer um vídeo não apenas sobre o caso específico da comunidade, mas sobre como lidar com a depressão em jovens como um todo. Ele [Morhaime] declarou: "'Não fazemos declarações políticas'", disse. "O grupo, com funcionários de toda a companhia, então perguntou o que era 'político' ao prevenir o suicídio de adolescentes. Ele respondeu dizendo que 'haviam coisas mais importantes a fazer do que produzir vídeos, como trabalhar em seus projetos individuais."

Vale dizer que a reportagem saiu poucos dias após Morhaime (que aliás, também foi co-fundador da Blizzard) ao ter fundado no ano passado um novo estúdio independente, ter se pronunciado sobre o caso da companhia, onde fez um pedido de desculpas público por "falhar" com funcionárias assediadas e abusadas dentro da empresa. No entanto, a própria reportagem cita casos em que Morhaime teria sido avisado do comportamento tóxico de certas pessoas, mas não fez nenhum tipo de represália. 


E as consequências voltaram a aparecer com mais saídas de funcionários líderes da empresa, na forma de Luis Barriga, Jesse McCree, e de Jonathan LeCraft. Os desligamentos não chegaram a ser justificados pela Blizzard, mas claramente tiveram alguma relação com os acontecimentos recentes. Barriga trabalhou em jogos como World of Warcraft, Diablo 3 e Overwatch (e tinha assumindo as rédeas de Diablo 4 logo depois), enquanto que LeCraft era designer de WoW, e envolvido no jogo praticamente desde o seu início. Quanto a McCree (até então designer-chefe de níveis na Blizzard), sua saída ainda rendeu um caso irônico, onde o estúdio decidiu alterar o nome do personagem de Overwatch que recebeu o mesmo em homenagem ao próprio, para "refletir melhor o fato de que Overwatch é a criação de uma equipe"

Por fim, a Activision/Blizzard também vem sendo investigada pela SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários), que lida com problemas e regulamentações do mercado financeiro, pelas reações corporativas da empresa após as denúncias de assédio e abuso sistêmico, onde enviou intimações a diversos membros e ex-membros do alto escalão da companhia, ao  procurar por documentos relevantes, e também por registros de comunicação, entre executivos relacionados aos casos. Algo que também se colidiu com a "coincidência" da saída de mais 2 nomes do conglomerado: Claire Hart (então diretora jurídica/advogada da empresa) e Chacko Sonny, produtor executivo de Overwatch, e uma das figuras centrais do desenvolvimento da franquia.


Por: Riptor

Fonte: The Enemy

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