TÍTULO: Como Se Tornar o Pior Aluno da
Escola
ANO: 2017
DIREÇÃO: Fabrício Bittar
ROTEIRO: Fabrício Bittar, Danilo Gentili e André Catarinacho
ELENCO: Danilo Gentili, Bruno Munhoz, Daniel Pimentel, Raul Gazola,
Rogério Skylab, Moacir Franco, Carlos Villagrán, Joanna Fomm, Fabio Porchat.
SINOPSE: Pedro e Bernardo são dois alunos de uma escola-modelo e precisam achar o dono de um diário anárquico para que um deles possa tirar 10 na prova final sem precisar estudar ou será reprovado.
CRÍTICA
Baseado no livro homônimo de Danilo Gentili, é importante dizer que a censura de 14 anos (enquanto escrevo este texto, já saiu a notícia que a censura foi aumentada para 18), ao menos na minha opinião, é baixa para o nível de piadas que ali estão inseridas. Fica muito claro que, apesar do filme acompanhar a história de dois adolescentes, a obra dirigida por Fabrício Bittar tende a se dirigir a um público que viveu um período escolar diferente do atual, onde havia certa tolerância com o erro. Não por menos, apesar de se passar na atualidade, usa-se elementos dos anos 80 e 90 dentro tanto na narrativa quanto na tecnicidade. É um pouco anacrônico, mas admito que essa escolha tem lá seu charme.
Talvez o grande problema aqui esteja na necessidade de criar muitos tons dentro de um filme com pouco desenvolvimento e de proposta rasa. Sabendo disso, o filme se vale de muitas situações vazias para tapar buracos de roteiro. Inclusive, a tal cena com o Fabio Porchat se encaixa dentro disto que acabei de citar. Parece um corte à parte, muito mais para mostrar o ator do que como algo integral à história. O próprio filme evita naturalizar a pedofilia, mas tira sarro da situação. Não é algo que vai te fazer levantar da cadeira e gravar um vídeo indignado para o twitter, mas pode te fazer rir ou não. A cena da festa é bem mais impressionante no quesito choque. O roteiro não apenas arrisca como atira para todos os lados. Esta necessidade de atingir a todos, seja com sexualidade, bullying ou escatologia vai alcançar você em algum ponto, mas não em tudo justamente por causa da tentativa constante de impressionar, o que acaba perdendo força com o passar de 2/3 do filme.
Mas se posso falar sobre algo que realmente funciona, é a edição. Absolutamente cirúrgica e malandra, não seria exagero afirmar que é ela quem faz boa parte das piadas serem engraçadas. Essa agilidade nas transições diminuem o tempo de raciocínio e prioriza o sensorial. Eu ri muito mais pelas edições do que pela piada em si. Funciona bastante e não cansa mesmo em quase duas horas de filme. Tecnicamente é um filme bem redundante, mas bem ciente disso e usa saídas bem específicas para tirar a atenção disso. O que não é ruim. Trapalhões faziam isso em seus longas, inclusive no Uma Escola Atrapalhada, onde a evolução de personagens era quase zero e tudo funcionava como um imenso videoclipe de uma hora e meia.
Para falarmos de Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola num sentido mais amplo, vamos situar com um pouco mais de exatidão a intenção do filme: Divertir a quem já conhece o estilo de humor do Danilo Gentili. Para quem já leu algum texto meu sobre os Especiais de Natal do Porta dos Fundos, sabe que já comentei sobre o público-alvo. Se você não gosta de Porta dos Fundos, não vai gostar de seus Especiais de Natal. Se você não gosta do Danilo Gentili, não vai gostar dos seus filmes. Deste longa especificamente, onde o estilo de entretenimento é amplificado para o humor rasteiro, é ainda mais segmentado. Ou você vai assistir sabendo onde está se metendo, ou vai ficar chocado. Comédias non-sense não são para todo mundo e é um gosto adquirido. Reclamar do humor deste filme, sabendo destas informações, é como reclamar de câmera lenta do Zack Snyder.
Então, é importante citar como esse humor tem sua importância num cinema mais antigo. Para não aprofundar demais, vou citar a icônica cena do Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!(Classificação Livre), onde o piloto grisalho flerta com perguntas sexuais para um menino com menos de dez anos. Ou o incrível A Eleição(PG15), onde o personagem de Matthew Broderick se masturba após ouvir a voz da sua aluna (menor de idade) em sua memória. Ou até mesmo toda piada que a sexualidade jocosa vista na franquia de American Pie(PG15). E o que dizer da falta de limite de Jackass(PG13) e Vovô Sem-Vergonha(PG15)? Esse tipo de comédia sempre houve e sempre vai existir e o jovem sempre vai ter acesso a ela, quer a gente queira ou não. O que, honestamente, não faz de Como se tornar... um filme bom. Não que seja um filme imprestável, mas seu destaque positivo não está em Gentili ou no protagonismo protocolar dos então atores-mirins Bruno Munhoz e Daniel Pimentel. O melhor de elemento humano deste filme está em seus coadjuvantes: Moacir Franco, Joanna Fomm e até mesmo um inspirado Rogério Skylab roubam a cena quando aparecem, mesmo que sejam apenas escadas para o trio principal. Este mesmo trio que acaba sendo ofuscado por um hilário Carlos Villagrán, conhecido no Brasil como o eterno intérprete do Quico. Suas piadas funcionam, sua presença é muito forte em cena e mesmo quando o filme se presta a fazer metalinguagem com seu papel em Chaves, o que é obviamente um humor limitado, funciona bem muito mais pelo timming do ator do que pelo roteiro. Sim, é engraçado ouvir mais de dez vezes a mesma frase proferida por ele, ou como aguda a voz para fazer trejeitos. A hipocrisia do personagem é bem orgânica ao idealismo que carrega.
Já Danilo
Gentili tem uma atuação cheia de altos e baixos, talvez por Como se
tornar... ter sido seu primeiro filme com coprotagonismo e exigir algo mais
do que atuar, já que seu personagem tem a difícil tarefa de deturpar o conceito
do Arquétipo do Mestre. Ruim? Não. Limitado? Com certeza. Ainda mais
quando analisado sob a ótica de que o personagem se torna um Macguffin. Na
teoria é interessante, mas na prática pouca relevância tem. Serve muito mais
como estímulo narrativo e catalisador/provocador do que outra coisa mas ao
menos, num filme que não se leva a sério e nisso abre-se uma brecha boa para
satirizar o Realismo. Não é 100% eficiente, mas funcional em vários momentos.
Isto posto, Como
Se Tornar o Pior Aluno da Escola é um filme muito ciente de si, com entretenimento
questionável, mas é arte. Arte não é apenas A24 ou Wes Anderson. Arte é tudo
(menos Adam Sandler). Ela às vezes pode ser tosca e provocativa, revoltante
também. Ainda assim, precisa ter o mínimo de apuro e sensibilidade para
ser bem feita, algo que falta aqui. A cadência é instável, falta ritmo interpretativo
aos personagens principais mas com boas técnicas que ajudam a não sentirmos
tanto essa deficiência. É engraçado enquanto evoca descobertas da
adolescência e, ao mesmo tempo, abraça a galhofagem do que era a escola nos
anos 90. Com certeza não tenho boas lembranças de tudo o que vivi lá, mas é bom
ver que ao menos posso rir de mim mesmo.
NOTA: 5,3
Abraços, Saitama.
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