TÍTULO: The Batman
ANO: 2021
DIREÇÃO: Matt Reeves
ROTEIRO: Matt Reeves e Peter Craig
TRILHA SONORA: Michael Giacchino
ELENCO: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Paul Dano, Collin Farrell, John Turturro, Jeffrey Wright, Andy Serkys.
Ok, conforme o prometido, finalmente The Batman. Nem vou perder muito tempo. Vamos para as considerações.
CRÍTICA
Antes de qualquer coisa, vamos ser honestos: The Batman é tecnicamente impecável.
A câmera não é apressada e faz uso bem interessantes do plongée, os cortes são
precisos, a trilha sonora molda muito bem a desesperança, mas admito que uma
das músicas me lembra muito a introdução da música-tema de Darth Vader.
Talvez até tenha sido proposital. Funciona nas primeiras vezes, mas depois de
repetir-se, perde um pouco de impacto. Já a mixagem de som evoca perfeitamente uma
sensação de novo misturado com coisas antigas, as interpretações, na maioria
estão extremamente bem calibradas. A mistura de fotografia quente com
fria em diversas cenas dá um tom bem mais imersivo. Se a Gotham de Reeves tem
pouca personalidade quanto elemento, a fotografia auxilia muito na especificidade
da imersão e do tom fúnebre do filme.
Sobre os atores, Collin Farrell está muito bem no papel de Oswald Cobblepot
e nem preciso dizer quão irreconhecível está. Tem trejeitos próprios, a voz
está bem convincente e tem presença. Jeffrey Wright finalmente mostrou o
Gordon que eu queria há anos: Um homem cansado e com uma relação bem cinza com
o Batman. Zoë Kravitz não foi a Selina Kyle que eu queria ter visto. Não
achei que a atriz tem tanta presença, mas está ok. O Charada definitivamente
entra naqueles casos de péssimo personagem adaptado, mas ótimo personagem de filme.
Paul Dano, ator que conheço muito pouco, me impressionou com a potência
vocal que possui e da presença mesmo com máscara. Sem máscara a visão do
espectador mais atento muda e de ameaçador vai para ambiguamente comprometido. A
loucura dele me soou muito mais algo próximo ao vilão Anarquia do
Batman, mas ainda assim, faz bem ao filme e mexe com a trama de uma maneira
ímpar. Seria melhor se fosse um Charada mais extravagante ou de ego inflado?
Sim. Mas do jeito que está, convence como vilão. Eu gostei do Alfred de Andy
Serkys mas poderia ter um pouco mais dele que não reclamaria. Vi algumas
pessoas falando sobre ele ser um Alfred emocionalmente afastado do Bruce, mas o
que vi foi um Bruce emocionalmente afastado, na verdade. E, pois bem, já que
falamos do Batman, então vamos nos aprofundar nisso.
É inegável que Robert Pattinson seja o Batman mais diferenciado até hoje
dentro da franquia. Não acho que seja o melhor, mas o que melhor representa a
realidade, isto sem dúvida. Se você já assistiu Nosferatu alguma vez na
vida, deve ter reconhecido o andar seco e as expressões praticamente apáticas em
boa parte dos seus diálogos. Tem um Q de Expressionismo Alemão, onde mais do
que a escolha criativa de câmera e de ângulos pontualmente diferenciados,
foca-se muito no tom desesperançoso do personagem-título (obviamente estou
falando de Expressionismo Alemão de um jeito bem simplório aqui). É o
Batman mais visualmente estranho que já vi e isto é agradável, sem
dúvidas. Saíram algumas notícias no passado de que o Pattinson estava se recusando
a ficar mais musculoso para o filme e isto o tornou um cara mais esguio do que
bombado, ainda que definido e deu um tom a mais para o personagem. Aquela
presença de Batman que a gente está acostumado não é tão forte. Ele não exala
confiança e nem mesmo consegue soar intimidatório o tempo todo. E funciona em
tela. A desconstrução do Batman é interessantíssima. Preciso ressaltar
que o Bruce Wayne representado é bem mais simplificado do que eu esperava. Ele
é melancólico, depressivo, suicida. Talvez por eu ter passado por essas três
fases na vida, não o achei complexo ou impressionante. Perde-se valor por isso?
Não. Continua sendo uma visão bem válida de Matt Reeves. Como citei acima, é diferenciado.
Não é um estudo de personagem, nem desconstrução do que faz um Bruce Wayne ser
Bruce Wayne, mas é um princípio de análise. Mesmo o revisionismo da sua relação
com pai e mãe em determinado ponto do filme é resolvido rapidamente e sem
maiores consequências. Porém, todavia, contudo, entretanto, não dá para negar
que Reeves se arriscou. Não acho que se saiu 100% eficaz nisso, mas
provavelmente foi a ponta do iceberg e isto, hoje em dia, quer dizer que
veremos mais destes pontos em outras continuações. Então, tem efeito muito mais
de entretenimento do que analítico.
Ok. Vamos para as partes menos legais da crítica.
Para um filme de 3 horas, temos um Batman que se esforça muito pouco
para resolver charadas. Isso acaba exigindo que a trama se foque em situações variadas.
Matt Reeves faz muito bem ao colocar alguns takes mais panorâmicos aqui e ali,
algumas tensões entre policiais e Batman, e outras situações tampões
como falsas complexidades e um terceiro ato que está lá porque precisa ter um
ponto de virada que force o herói a ser mais herói do que um vingador. Não há
um ponto que a gente sinta ser necessário para essa virada que citei. Reeves
gosta de exibir o controle da própria grandiosidade. Isto é percebido em
pelo menos um filme dele da trilogia do Planeta dos Macacos. Obviamente não é
um fator 100% depreciativo e auxilia no espetáculo, mas fica bem claro depois
de 150 minutos que ser visualmente impressionante não é sempre engrandecedor.
Aliás, outro pequeno problema de Matt Reeves é ser diretor exibido.
Dentro disto, há muitos outros que o fazem também, não serei injusto.
Eventualmente é funcional, até mesmo faz parte da mitologia do profissional.
Mas como este filme já é longo, ao menos para mim, essa questão pesa. Se The
Batman fosse um pouco mais enxuto, olhando mais para o essencial, com certeza eu
teria apreciado certos exageros narrativos e visuais. Veja bem, eu não
odiei o que vi, mas um pouco mais de direcionamento teria ajudado não apenas no
cansaço, como na imersão. A título de curiosidade. Por mais que Liga da
Justiça de Zack Snyder tenha uma hora a mais, a montagem é bem mais
episódica e a variação de foco narrativo causa mais frescor. São três horas
batendo no limite das mesmas teclas e alguns loopings, então sim, deu uma
cansada porque há alguma estagnação.
Outra coisa importante é que nunca reclamei de falta de violência em
filmes. Era plenamente possível um Batman com ainda menos sangue do que este
teve se a proposta fosse outra, mas 10% a mais de grafia teria dado mais peso a
alguns momentos. Apenas o suficiente para que os acontecimentos tivessem mais
crueza e congregassem mais diretamente à sensação da falta de mudança
que o protagonista tem diante de Gotham. Porém, dentro da faixa etária indicada, Reeves
faz um bom uso da tecnicidade já citada no início da crítica para incomodar
o espectador.
Eu já comentei para vocês algumas vezes e de maneira sutil, sobre como algumas
vertentes da arte têm se direcionado cada vez mais para personagens
mentalmente, fisicamente e moralmente enfraquecidos nos últimos 20 anos. Creio
que falei a 1ª vez sobre o assunto em 2018, na época dos textos literários. Do
que já li e vi, esse movimento já existente se intensificou no Pós-11 de Setembro
e ao ver The Batman, senti muito isto. Há vulnerabilidade, tragédias, ampliação
de realidade em detrimento da fantasia e uma certa soberba dos próprios
defeitos e como eles somam à trama. Dentro deste escopo, há a simbologia geral
do que é Gotham. Não consegui me sentir conectado com a cidade como na Trilogia
Nolan ou abraçar sua iconoclastia excentricamente visual da Duologia
Burton, mas há presença e isto é fato.
As referências que existem aqui e ali são protocolares. Não vou me ater
a elas para evitar spoilers, mas pelo menos duas dão algum vislumbre do futuro.
Destas apenas uma faz parte da trama de forma direta e tem papel decisivo no Clímax,
mas como vem para a tela, vai embora infelizmente.
Isto posto, The Batman é um filme visualmente épico e de trama que tenta
se mostrar intrincada. Consegue ser inquietante, tem potencial e funciona como ponta
pé inicial de uma franquia. É muito bom ver as pessoas se dando conta de um crescimento
cênico de Robert Pattinson agora, mesmo isto já ocorrendo há alguns
anos. Tem um roteiro que precisaria ser um pouco mais enxugado,
personagens que poderiam ter um pouco mais tempo de tela e uma história com
mais gordura do que precisa. Ainda assim, é um grande Batman e um Bruce em
construção. É um filme que se faz pelas próprias qualidades, mas definitivo
como dizem por aí, não.
NOTA: 7,7
Então é isso. Espero que tenham gostado.
Abraços, Saitama.
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