Estaríamos diante do melhor filme de 2022?
Pois bem, já que vocês toparam a ideia, resolvi assistir Samaritano, novo filme de Sylvester Stallone. Deixei minhas impressões abaixo e espero que apreciem o texto.
FICHA TÉCNICA
Elenco: Sylvester Stallone, Dascha Polanco, Javon
Walton, Natacha Karam, Martin Starr, Pilou Asbaek
Fotografia: David Ungaro
Roteiro: Bragi F. Shut
Onde Assistir: Amazon Prime
Sinopse: Sam é um garoto de 13 anos que mora em Granite City com sua
mãe. Ele é obcecado com a possibilidade do herói Samaritano, que morreu
em batalha com seu irmão Nêmesis, ainda estar vivo e descobre um mundo novo de
possibilidades quando percebe estar certo ao ver que seu vizinho Joe Smith é o homem
que esteve procurando.
CRÍTICA
Num filme em que você conta com Sylvester Stallone como produtor, se
você conhece o mínimo da sua filmografia, é fácil saber o que vai encontrar.
Talvez este não seja o problema, afinal, o
ator/diretor/roteirista/garanhão italiano projeta filmes para a sua bolha de
fãs desde que ganhou notoriedade com Rocky Balboa. É justo, afinal, se
você paga as contas sempre cozinhando feijão com arroz, por que querer
incrementar?
O grande “senão” de Samaritano, na verdade, passa pela sua absurda preguiça.
Desde o CGI artificial e inicial contando a história do herói homônimo e seu irmão vilão,
alguns fundos verdes atrozes e o gráfico à lá PS4 no rosto rejuvenescido do
Sly. Tudo isso é nitidamente limitado, afinal, foram apenas 40 milhões
de dólares de orçamento (não se preocupe com este número porque vou citá-lo
mais algumas vezes). É falso, é qualquer coisa, é fraco, é desperdício. Há
feitos melhores em qualquer outra produção um pouco mais cheia de esmero
e com menos orçamento. Distrito 9 foi feito com 30 milhões, teve muito mais
efeitos, e até hoje impressiona com o resultado. Isto faz de Samaritano uma
produção que nasce velha e vai ficando ainda mais anacrônica à medida
que o longa metragem se desenrola.
As cenas de incêndio são irascíveis e a noção de simbologia se perde
facilmente. As lutas demoram a convencer (e quando convencem, é tarde demais),
o que é contraproducente já que o filme conta com roteirismos e história
apressada para apresentar tudo o que você precisa saber para ver Joe Smith em
cena. Afinal, é para isso que você vai assistir o longa, certo? Quem se importa
com a vida difícil de uma criança de 13 anos num filme que conta com Sylvester
Stallone como protagonista? Porque mostrar de maneira alongada a vida humilde
das pessoas se temos um herói esperando seu momento de ser um herói? A
história cria muita expectativa de si enquanto é sem muito conteúdo. Em suma, é
um filme que se leva a sério demais sem elementos para tal e sem desenvolvimento
necessário.
Por isso mesmo o roteiro é tenebroso. As coisas não tem muitas
explicações lógicas, enquanto tentam parecer orgânicas. As motivações não tem
uma origem definida e é tudo “é porque é”. O filme até arranha algum paralelo
da vida difícil do personagem-mirim e traça algumas suaves conjecturas indiretas
sobre o escapismo dos super-heróis, mas ao confirmar que ele prossegue vivo, a
situação, que poderia trazer algo de mais trabalhado, simplesmente é deixada de
lado sem a menor vergonha e perde camadas. Pontos de interesse são
jogados à revelia da inteligência do espectador. Uma hora os personagens que se
gostam, se desgostam sem um motivo concatenado. Personagens sem vínculo algum
de repente se aconselham, sorriem e tentam parecer muito próximos. A linha que
liga sentimentos às suas causas e consequências são pouco trabalhadas e não dá
pra criar empatia por qualquer um ali. A chance de você terminar o filme
sem se lembrar do nome do menino é grande. Não que seja um filme poluído, mas é
excessivamente autoindulgente, o que de certa forma o faz cheio de momentinhos
voláteis e dispensáveis. Lembremos que o roteiro é de Bragi F. Shut (e
posteriormente adaptado pelo mesmo), que já fez coisas ruins como dois filmes
de Scape Room e Caça às Bruxas, então, não esperemos milagres mesmo que a
esperança seja a última que morra em alguns casos.
Estes argumentos iniciais que citei culminam em um dos mais evidentes fracos
do filme, que é a química entre os atores. Com personagens caricatos, não
servem como paródia, mas sim como exacerbações. Tudo é (falsamente) expansivo
aqui. Expressões, atitudes e relacionamentos. Cada ponto tenta ser importante
dentro do núcleo, mas não serve ao todo. Isto afeta como Jason Walton dá vida a
Sam, com pouco brilho e com uma relação sem vinculação emocional alguma com sua
mãe, interpretada por Dascha Polanco. O mesmo posso dizer sobre o vilão
de Pilou Asbaek e sua relação forçada com a personagem de Natacha Karam. Notem
que não me prendo muito aos nomes dos personagens aqui e isto é proposital. Os
nomes aqui, mesmo sendo repetidos à exaustão, pouco contam. Não marcam,
não tem identidade. Eles não são nada além de ideias que servem de base para
que o nome Samaritano, este sim importante, seja dito tantas vezes que enjoe e
crie uma falsa simetria entre moralidade e apatia dos cidadãos de
Granite City. Isto é tão evidente que basta apenas um discurso histérico do
vilão Cyrus para que as pessoas ajam feito arruaceiros. Lembram daquele discurso
sobre pessoas de bem não se dobrarem diante do mal em Cavaleiro Das Trevas de Nolan?
Esqueça isso aqui. Aliás, já que estamos focando em coisas ruins do filme,
vamos falar de Sylvester Stallone agora. Tome seu Rivotril.
Se por um lado eu defendo que artistas façam o que sabem, por outro não
gosto de confundir isso com piloto automático ou indolência. Há atores e
atrizes que fazem isso a vida toda e entregam um trabalho bom a maior
parte das vezes. Vejam o exemplo de Joe Pesci, Arnold Schwarzenegger, Danny
DeVitto e Sandra Bullock. A frequência da atuação é quase sempre muito parecida
e ainda assim, há bons momentos. Tenho certeza que para muitos, o que Sylvester
Stallone apresenta neste filme é o suficiente simplesmente pelo argumento
de “ele sempre atuou assim”. De fato, o ator, raríssimas as vezes atuou fora
dos contextos, mas o problema é que ele prossegue piorando na atuação.
Posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes ele expressou emoções durante
1:42h de filme e ainda assim sobram dedos. O roteiro, nitidamente feito
para parecer um filme do Sly com falas do Sly tem muitos momentos ruins com
linhas de diálogos semelhantes com Falcão: O Campeão dos Campeões com
frases de efeito oportunistas sempre que pode, só que de maneira menos crível.
E sim, no caso dos longas de Stallone há momentos que isto cabe. E cito
novamente a franquia Rocky que é recheada de momentos assim porque a história
é, em sua síntese, movida por superações do protagonista (aliás, preciso
reassistir o VI pois é um ótimo filme). No caso de Samaritano, a autoajuda está
lá porque é um filme de Stallone e só. Incrivelmente, o único momento real de
superação do jovem Sam acontece sem qualquer interferência moral do
personagem-título. Sinceramente, é sabido que Sly se vale de personagens
limitados porque, em tese, ele, igualmente limitado, tem presença suficiente e
carisma construído através de personagens reativos (aqueles que precisam
que algo aconteça para agir e resolver conflitos). Isto é o suficiente aqui?
Depende. Você está disposto a reduzir sua experiência de filme a esse tipo de
coisa? Se sim, vá em frente porque Samaritano pode lhe satisfazer. Se
não, há outras coisas melhores para assistir porque nada do que está lá é novo,
apenas reciclado e é possível até prever as viradas de roteiro se você
prestar atenção em certas importâncias aqui e ali em comparação com os diálogos
hiperbólicos que valorizam a importância do falecido herói.
Ainda assim, vamos ser justos, há pequenos momentos que são ok. As
revelações são divertidas (ainda que previsibilíssimas), a fotografia usa bem
as cores neutras para justificar um tom frio e chuvoso em um lugar chamado Granito
(a correlação é tosca e evidente, mas é boa), mesmo todas as vezes que as cores fortes
aparecem sejam um enorme fundo verde falso e limitadíssimo. O início de
desenvolvimento é promissor, ainda que se perca depois de 20 minutos de filme.
Isto posto, Samaritano é um filme que se aproxima do patético tentando
se levar a sério mas com atores engessados, um Sylvester Stallone que se
diverte (afinal, é um filme com a visão dele. Burro se não se divertisse), um
roteiro aparvoado cheio de facilitações narrativas e um final
ridiculamente abrupto. Não convence, parece querer te mostrar o tempo todo
como não é ruim e falha miseravelmente. Teria sido melhor se fosse mais
violento? Duvido muito, porque os problemas estão além disso. Se aproxima do constrangedor.
Não é, mas chega muito, mas muito perto. Todavia, é inegavel como Stallone ainda mexe com o
imaginário coletivo, portanto veremos muitos fãs elogiando esta pequena atrocidade da
sétima arte simplesmente pelo peso do nome do ator.
NOTA: 2,4
Então é isso. Espero que tenham gostado.
Até a próxima. Abraços.
SaitamaSenpai
Até a próxima. Abraços.
SaitamaSenpai
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