quinta-feira, 20 de abril de 2023

Super Mario Bros. - Fechando um Ciclo

 



Não chega a ser uma surpresa para alguém que a primeira grande tentativa de Hollywood em capitalizar em cima de uma franquia de videogame foi com Super Mario, um daqueles personagens que conseguem transcender seu material de origem, e ser reconhecido até pelos mais leigos. E obviamente, o infame live-action de 1993 não tem mérito nenhum nisso, a não ser em ter sido o criador do estigma de que filme de videogame é praticamente uma bomba anunciada. E visto a maioria dos resultados que se seguiram após ele, isso não aconteceu atoa, enquanto fez a própria Nintendo ficar muito mais protetora com suas propriedades desde então. A Capcom também poderia ter feito isso com Resident Evil, não acha? 


Mas eis que aqui estamos, anos depois, com uma nova tentativa na forma de um filme animado, e com um envolvimento de fato da própria Nintendo, e de Shigeru Miyamoto, criador do personagem. A idéia de uma animação vinha de alguns anos, até ser materializada de fato pelas mãos da Illumination. Que bem, não é lá o estúdio de animação mais querido por aqueles fora de seu público alvo, ainda mais se envolver adaptações. Apenas pergunte aos fãs de Dr. Seuss se eles ainda não gostariam de socar o CEO do estúdio, Chris Meledandri, por suas versões de O Lorax, e Grinch. Mas foram eles, então, com isso...

Não é como se o enredo precisasse ser muito explicado, mas existem alguns pontos que fazem isso ser válido: Mario e Luigi são dois irmãos encanadores italianos que vivem no Brooklyn, investindo em sua própria empreitada de negócio solo, apesar da falta de sorte. As coisas no entanto mudam de figura quando, em uma tentativa de consertar um grande problema para serem vistos como heróis pela cidade, os irmãos acabam sendo transportados para o mundo dos Cogumelos, com Luigi sendo levado direto para o covil de Bowser, onde é feito prisioneiro. Com a aliança de outros nomes que dispensam apresentações, Mario precisará lidar com aquele que se tornará seu eterno arqui-inimigo se quiser salvar esse mundo de seus planos - e principalmente, salvar seu irmão.


A história, para a surpresa de ninguém, é obviamente tão simples quanto à dos jogos. Mario nunca foi uma fonte de grandes tramas, e dificilmente você vê a série indo além de coisas como "Mario precisa salvar", "Mario precisa deter", e coisas do gênero. Grande parte das franquias da Nintendo normalmente seguem essa filosofia, uma influência direta do próprio jeito de Shigeru Miyamoto de criar jogos. "A história é uma maneira de explicar o jogo e, quando isso vai bem, às vezes as pessoas escolhem começar com ela. Para mim, a história inicial é como tornar a gameplay divertida, e é a partir daí que começo a pensar e criar um jogo", declarou o mesmo em uma entrevista a IGN. Ainda assim, os personagens do mesmo sempre carregaram enorme carisma, justamente o que os fez serem tão queridos. E assim como os jogos, o novo filme sabe se aproveitar disso, enquanto até trabalha um pouco mais em alguns detalhes bastante válidos.

Um deles é a própria relação familiar do protagonista, especialmente envolvendo sua relação com Luigi, algo que praticamente nunca foi realmente explorado nos jogos. Mario é realmente bastante apegado e protetor com o irmão, onde desde trapalhadas para consertar um cano, ao ponto de comprar briga se for necessário, e com ele facilitando o caminho para Luigi acompanha-lo, a dinâmica entre os Mario Brothers é divertida de acompanhar. Como o filme é basicamente uma história de origem, o protagonista ainda não é de fato 'Super Mario', onde é visto pela maior parte da família como um fracassado sonhador (destaque para o pai dele, que praticamente diz isso na lata), e ainda questiona o que ele disse, quando olham para ele. Esse ponto nos leva direto para outro personagem de destaque na trama, na forma da Princesa Peach.


O rótulo de princesa em pedido de socorro usado por Peach em quase toda a franquia é deixado de lado logo no início, quando ela mesma procura ajuda para deter a vinda de Bowser, assumindo de fato um papel de líder enquanto se junta a Mario em sua jornada, até mesmo o ensinando e o treinando para tal, o que é algo que faz bastante sentido dentro da trama. Como um novato, Mario não conhece nada de como as coisas funcionam por lá, então quem melhor para ensina-lo do que alguém que literalmente cresceu nesse mundo? 

É algo feito organicamente, com Mario continuando a ter tanto destaque quanto ela, enquanto contam com a companhia do sempre simpático Toad, e um pouco mais adiante, Donkey Kong. Que aliás, gera uma ótima e divertida rivalidade com o encanador, com ambos querendo se provar mais do que os estigmas que seus respectivos pais os colocaram. E claro, não poderíamos esquecer do grande Bowser, que transita entre o maléfico e o cômico no melhor estilo de um vilão de desenhos animados, com direito a momento musical. Sim, o Bowser cantando, não é algo que se vê todo dia.

Como já podia ser reparado nos trailers, e você já deve ter visto por aí amostras disso, o filme é de fato recheado de todo tipo de referência aos jogos da franquia, indo das mais sutis a aquelas de fato mais aparentes, como a roupa de gato de Super Mario 3D World, ou a de guaxinim de Super Mario Bros. 3, ou mesmo os clássicos temas da série. Super Mario World, Yoshi Island, Super Mario Odyssey, Mario Galaxy, Mario 64...muitos dos principais jogos da saga são referenciados ao longo do filme, juntamente com outros elementos relacionados a Nintendo, como consoles (o toque de celular de Luigi, por exemplo, é o mesmo do tema de inicialização do Nintendo GameCube) e até mesmo sobra espaço para outras franquias da empresa, como quando Mario decide jogar Kid Icarus em seu NES. E a própria animação em si claramente teve um investimento devido por parte do estúdio, com tudo sendo devidamente colorido, animado, e por consequência, nostálgico


Agora o filme é perfeito, não. Apesar do ritmo dinâmico garantir que nada pareça estar parado por muito tempo (o longa tem 1 hora e meia), o filme poderia de fato ser um pouco maior. Não chega a ser algo que de fato atrapalhe a experiência, mas existem alguns momentos que parece que poderia haver um pouco mais de tempo ali, mas alguém do estúdio decidiu que podia cortar para que o filme pudesse ser passado nos cinemas mais vezes ao longo do dia e, por consequência, rendesse mais. Além disso, apesar de sua dinâmica com Mario ser um bom ponto, é inegável que Luigi ainda é o personagem mais sub-aproveitado da trama, mesmo quando o filme eventualmente volta a lhe dar um momento de destaque. Naturalmente, é um detalhe que deve ser ajustado na já certa sequência, e porque não, até mesmo expandido em uma possível adaptação de Luigi's Mansion, franquia derivada protagonizada pelo encanador verde. Que olhe só, também já é referenciada nesse filme. 

No fim das contas, o novo (e verdadeiro) Super Mario Bros. fecha definitivamente para a Nintendo um ciclo envolvendo um fantasma de 30 anos atrás. Referenciando todo tipo de canto já percorrido pela franquia, o resultado é uma aventura divertida que, inegavelmente, é a melhor adaptação da Illumination não que isso seja necessariamente muito difícil ainda mais com uma ajudinha do próprio criador do personagem no processo. Mas, é um mérito que a companhia de Minions inegavelmente merece receber. 


Não é como se as adaptações falhas fossem deixar de ainda aparecer após esse filme, obviamente que não. Mas a aventura do icônico bigodudo é mais uma amostra recente de que filme de videogame, pode ser bom sim. Como qualquer adaptação, só o que não pode mudar isso, é quando você está diante simplesmente de um produto ruim.


Então é isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!


Por: Riptor

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