segunda-feira, 11 de setembro de 2023

The Flash é a Definição de DCEU

 



Não é como se isso que eu vou dizer agora você já não tenha percebido, ouvido, falado (ou mesmo) tudo ao mesmo tempo. O DCEU, falhou. Você pode até olhar certos filmes, positivamente, é claro. Assim como elementos desses filmes. Mas em questão de universo, construção, isso é simplesmente um erro completo. Um pouco de tudo que poderia dar errado, e até o que nem se imaginava dar, soa que aconteceu. Quem disse que o DCEU não teve uma saga, afinal? Esta foi a Saga dos Bastidores. Ironicamente, soando mais planejada previamente do que qualquer coisa vista em seus próprios filmes.


E ainda assim, talvez num ato tragicômico do destino, 2023 ainda consegue a façanha de surpreender e mostrar que tudo, absolutamente tudo, até mesmo o DCEU, pode entrar em uma última bola de neve, que parece realmente coisa de filme. É flop, é lavagem de dinheiro de marketing inexistente (e mesmo quando teve, mudou nada), é tempestade tropical que vira um suposto tsunami mundial pra afetar sua bilheteria, toda desgraça de 10 anos, vinda de uma só vez. E assim, entramos no tópico de fato do post: The Flash. Sim, uns meses atrasado, mas ok - e até por uma sugestão para algo do tipo, que eu considerei, fui lá, e vi o dito cujo semana passada. E apesar de isso provavelmente já não fazer muita diferença pra maioria que ler isso, esteja ciente de que esse post vai ter spoilers, porque não tem como falar desse filme sem eles.


Mundos colidem, dizia o material promocional. Praticamente vendido como um filme evento, jogado pelas circunstâncias - não que fazer algo só pelas circunstâncias do momento ao invés de estabelecer, tenha sido alguma novidade no DCEU. O Flash de Erza Miller (não vou entrar no tópico envolvendo os B.Os dele fora de cena, porque nesse caso não vai agregar em algo) foi introduzido em 2016, mas esse fator e nada soam a mesma coisa. Um filme de origem, no percurso ainda o fator Multiverso, no que era visto como a forma de "consertar" certas coisas pela então gestão da DC. Como é ironicamente referenciado, de fato um faxineiro. Ainda há um foco muito maior no próprio personagem, ainda assim, o que não deixaria de ser um bom fator - se ainda não viesse acompanhado de outros quinhentos.

Em outra timeline, talvez relevantes

Realmente me surpreende como esse poderia ser um filme padrão do Flash, com excessos a menos. Olha só, o Departamento de Polícia de Central City, de fato. Albert Desmond, Patty Spivot, colegas de trabalho, inclusive o primeiro até vilão vira nos quadrinhos. Olha só que legal gente, o Flash não se resume a Flashpoint, a limpar bueiro de universo, quem diria. Agora pra que isso é introduzido, sendo que naturalmente é irrelevante pra trama, deve ser o de sempre, pra fazer um aceno (como com o Batman do Ben Affleck mesmo aqui), onde já enfrentou Falcone, mas você não viu, enfrentou sei lá quem, mas você não viu, enfrentou minha mãe, mas você não viu, e a 'graça' do DCEU é essa. Só fala que existe, ou aconteceu tal coisa, e você que imagine o resto.


Ai entramos no tom...e ele é problemático. Tipo, muito problemático. Lembra que eu falei do 'filme evento'? Na verdade em grande parte soa mais um passeio no parque, com momentos que o filme vai dizer "agora você leva todos esses exageros a sério, blz?". Isso entra no humor, que quase sempre, não funciona. Tipo, sabe aquele humor em cima do absurdo, as vezes com a graça estando talvez em como chegou naquele ponto? Uma parte do humor desse filme, é em cima disso, e realmente não engrena. É menina espermeando, é moça espermeando, é Flash colocando bebê num microondas (?!), os bebês que tão mais pra bonecas, Hollywood pelo visto não aprendeu com Crepúsculo que criar bebês de CGI não é uma boa idéia, e por ai vai. E ai entramos no tópico, que vamos chamar de Barry 2, pra facilitar pra todo mundo.

Esse filme tem algumas boas intenções, sinceramente. Alguns momentos mostram isso, outros já entra no ditado de onde tá cheio disso. A idéia do Barry 2 é boa: como a vida do Barry 1 teria sido, se sua mãe estivesse ali, como ele teria sido feliz, e ainda assim, eventualmente aceitando que ele precisa consertar o que provocou, e amadurecendo em cima de um outro ele, que não passou por nenhum de seus traumas. Sabe qual é o problema nisso?

Não é que o Barry 2 seja simplesmente mais "leve", um pouco engraçadinho, talvez até deslumbrado com tudo, o que seria até esperado. O problema é que esse animal é completamente retardado. "Ah, mais ele é um adolescente", mano eu aposto com você que podia colocar um adolescente de verdade ali, que não ia chegar no mesmo nível disso. Essa criatura não consegue calar a boca um minuto, essa criatura não consegue não fazer merda, um minuto sequer, e pelo menos uma hora o Barry 1 tenta fazer um favor pra humanidade, e falar pra esse palhaço se conter. Tanto é que quando vem chegando o "plot-twist" (entre muitas aspas, já que não é tão plot-twist assim) que ele seria o 'Dark Flash', que é simplesmente jogado aos 45 do segundo tempo no filme, a minha única reação plausível nessa hora foi: "Ótimo, o Barry 1 agora pode matar o Barry 2, sem peso na consciência". Apesar que o Barry 2 já decide fazer ele mesmo o serviço, pra acabar com o Dark Flash e com ele no processo, pra pelo menos alguém dizer que ele fez algo útil pra trama.


Aliás, um adentro aqui, envolvendo esse Dark Flash. Que coisa medonha, e não é no bom sentido. Já zuei brinquedo vazado disso lá atrás, mas realmente parece que banharam esse bicho em carvão de churrasco, e o fato do personagem basicamente existir só pra empurrar o Barry no começo, pra reaparecer só nos finalmentes, não ajuda. Não queriam usar o Flash Reverso, sinceramente eu até entenderia (sério, soa até que esse é o único vilão relevante dele), então fizessem realmente o Flash Negro. Caramba, a CW fez isso: 

"Ah mais é a CW", por isso mesmo. Uma emissora de TV aberta, com orçamento de uma coxinha e guaraná sem gás, conseguiu fazer um Flash Negro, e um filme de 200-300 milhões, me entrega um amontoado de carvão. Aliás, já vamos entrar no CGI, em si: eu sinceramente queria entender como tem surgido filme de 200 milhões (na verdade até 300 no caso desse filme) ultimamente que me entrega algumas cenas que só deveria ser normal de ver, se eu fosse um funcionário da área de efeitos especiais, trabalhando ainda neles. São os bebês que parecem bonecos, é a cabeça flutuante do Flash que deve ser irmão gêmeo da cabeça do filho do Heimdall do Thor 4, que é outra pérola, e esse Flash já tinha o "detalhe" de parecer estar mais patinando do que correndo, dessa vez ele parece estar...correndo em câmera lenta. E não é porque é pro público conseguir acompanhar alguma coisa específica, eu nem sei se vou explicar direito, mas você realmente não sente a velocidade, que ele está correndo propriamente, você só sabe que é pra ele estar rápido, quando corta pra só mostrar ele como um raio em disparada. A cena no início, por exemplo, parece que eu tô vendo um boneco de PlayStation 2 com os braços e as pernas esticados daquele jeito simulando alguém correndo, é bizarro. Pegue o Flash do Grant Gustin, e compara. Você vê que ele está correndo de fato em uma cena, e você o ator ali, e não um boneco de CGI. De novo: estamos falando da CW, que consegue passar sensação de velocidade com o Flash, enquanto um filme multimilionário do Flash, não consegue fazer isso!

Participações nem um pouco especiais

E então, também aos 45 do segundo tempo, as tais participações especiais, resumidas como....bonecões de CGI. "Ah mais o Christopher Reeve já faleceu", por exemplo. O Adam West. Sim, só que já que queria colocar Superman do Christopher Reeve, Batman do Adam West, havia outras formas de fazer a mesma coisa de um jeito sutil, mas definitivamente melhor, especialmente depois que você ainda sabe que alguém teve a cara de pau de fazer isso aqui. Quer um exemplo meu? Quando fosse pra mostrar os mundos, usava um dublê, e mostrava o Super do Reeve de costas, olhando pra cima pra entender o que tá acontecendo. Vindo do estúdio que fez um Superman sem cabeça em Shazam, parece nada de outro mundo. E pra que, só me diga, pra que fazer um Superman do Nicolas Cage plasticado, se você tem o cara vivo ai no mundo, colocava ele como um Superman velho mesmo e dane-se, pelo menos eu poderia dizer que era ele mesmo na tela. E nem vou entrar no ponto que todos esses personagens ficam simplesmente olhando seus mundos sendo destruídos, com cara de peixe morto, tipo meu mundo será destruído, e eu estou de boa com isso. Se era pra fazer desse jeito, simplesmente não trouxesse essas participações.

Ao menos já não posso dizer o mesmo da real grande participação especial, com o Batman do Michael Keaton, facilmente a melhor coisa do filme. Indo de sua introdução, até de fato seu retorno ao traje clássico para algumas pancadarias e uso de seus 'brinquedos', o ator está claramente a vontade para tentar dar um pouco mais de equilíbrio entre seriedade e o humor ao redor dele. Já a Supergirl da Sasha Calle, não há tanto o que dizer. A atriz está bem, mas infelizmente sua personagem aparece já em um momento avançado da história, tendo pouco tempo de tela para realmente mostrar algo mais substancial. Um claro aspecto da herança original dos planos da DC Films, onde essa versão deveria retornar em projetos futuros com maior destaque, algo que sabemos que não vai mais acontecer.

O mesmo já não pode ser dito de Andy Muschietti, que como sabemos, continuará no agora novo DCU como diretor de The Brave and the Bold, e de um novo Batman por consequência. O que depois desse Flash, alguns com certeza questionariam sobre, e não atoa. Particularmente, não acho que o problema desse filme seja a direção dele, em si (tanto que você poderia resumir de forma geral meus pontos aqui) em problema de CGI, que é claríssimo apesar que eu podia mencionar a corrida do Flash aqui, mas acho que cairia em parte no próprio CGI em si e da mesma forma, problema de roteiro, que sai de um extremo para outro envolvendo comédia e carga dramática de uma forma difícil de digerir. Pegue deste ano Guardiões da Galáxia 3, como efeito de comparação, e perceba como isso é feito ali de forma orgânica, sem comprometer de fato o filme.


Além disso, todos sabemos que a produção desse filme veio conturbada do anúncio até a eminência do seu lançamento. The Flash foi anunciado em 2014, quase há uma década atrás, teve inúmeras mudanças drásticas no roteiro, assim como na cadeira de direção, com Muschietti sendo o e último atrelado, antes de algo começar a andar de fato. Para completar, as tão famigeradas refilmagens, que deram origem até mesmo a 3 finais distintos. O cara que fosse dirigir isso dentro desse cenário conturbado já lidaria com a bomba de ter de amarrar um emaranhado de retalhos, e o resultado provavelmente não seria muito diferente, a não ser pelo nome do diretor creditado que as pessoas questionariam. Já prevejo o mesmo ocorrendo com James Wan tentando navegar contra a maré de seja lá o que for que a Warner vai fazer acontecer com Aquaman 2. 


Além do mais, soa que ele pareceu bem mais interessado em aceitar isso pelo fator Batman, do que pelo próprio Flash. Ambas as versões do personagem presentes se utilizando de gadgets e afins quadrinhescos, em meio a ação, é exatamente o que eu espero ver em contraste ao "realismo" do Matt Reeves. Além que não vai ter a mesma roteirista, o que já ajudaria muito no processo. Então sim, acho que essa pode ser uma boa segunda chance pra ele, de preferência numa produção de fato normal de trabalho, com os méritos E pesares, que houverem. Além do mais, isso que eu disse não anula em momento nenhum você e eu apontarmos para certas coisas, como a declaração de que "os efeitos especiais estão estranhos, porque a idéia era essa, pra mostrar como o Flash enxerga o mundo". Acho que nem o Muschietti em si acredita nessa desculpa esfarrapada que deu, quem dirá eu.

No fim das contas, 'The Flash' ainda não chega a ser totalmente desastroso - o que também não chega a ser suficiente para isso ser algo bom, apenas uma ressalva. Em seu vai e volta para ser um pouco de tudo que pretende, o que temos é um filme que derrapa quando tenta acelerar, antes mesmo de aprender a de fato andar. Não muito diferente do que já aconteceu no DCEU inúmeras vezes, mas que alguns acertos ainda faziam esse carro continuar andando, mesmo que sem as rodas. Ainda na época do canal do Disqus, eu escrevi um texto falando que esse universo ainda poderia se encontrar, enquanto se encaminhava do modo que estava. Esse texto foi feito em 2019, 4 anos atrás. Hoje eu digo, ainda que seja obviamente fácil agora, que do jeito que ia, dificilmente seria o caso.


Se o primeiro Mulher-Maravilha não tivesse feito dinheiro, assim como Aquaman, provavelmente não teríamos visto isso continuando sobre aparelhos por muito mais tempo assim. Veja o caso de Adão Negro, que pode ser considerado o real último avanço particularmente oportunista do The Rock para tentar virar o centro de tudo da DC, nem preciso dizer no que isso iria resultar pra isso ainda continuar de pé como estava, ou pelo menos em uma parte muito maior, antes mesmo de uma nova liderança assumir. Você acha que dariam sinal verde para esse papo de reboot, ou algo do gênero, se tivesse dado certo? O que veio depois, foi consequência desses 2 fatores, e das inúmeras pérolas que viriam em seguida, e claro, da fileira de dominós que esse universo já fez desde o começo. Será que na prática, as pessoas realmente viriam Homem de Aço 2? Talvez, nem tanto quanto poderia. Porque o DCEU, na prática, sempre foi mais sobre o que gostaríamos que ele fosse, do que pelo que de fato ele foi. Todo mundo acreditou que isso poderia mudar - e talvez, mais por querer acreditar nisso, do que com base realmente em algo. Uma franquia sem fandom, é uma franquia morta (e não me refiro a fãs prévios), e sim a massa em conjunto. O grande público nunca comprou o universo do DCEU, e sim alguns filmes dele. E só isso já foi um detalhe que fez total diferença.


E isso deixa uma ironia: The Flash é a conclusão do que deveria ser uma festa de despedida do DCEU. Só que ninguém quer ir na festa de um mala.

Então é isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!


Por: Riptor

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