Muitos de vocês devem se perguntar "Uau, de onde veio toda a sensibilidade do Saitama para filmes? Como ele consegue dizer tanto sobre eles? De onde vieram todas as suas inspirações críticas?". Pois bem, pensando em aplacar toda a curiosidade legítima de vocês, resolvi fazer uma série de postagens com todos os filmes que me marcaram na vida. Sim, TODOS. Comecemos pelos nove primeiros e meus motivos.
Boa leitura.
Jerry Maguire – A grande virada (1996)
Tenho uma relação muito estreita entre amor e ódio com os filmes estrelados por
Tom Cruise, porém sempre teço elogios para os personagens mais alquebrados do
ator. Seja em De Olhos Bem Fechados, no papel do marido desconfiado Bill Harford,
ou do covarde Ray Ferrier em Guerra dos Mundos, nada o faz brilhar tanto como
Jerry Maguire, com sua virilidade em crise no cruel mundo do agenciamento
esportivo. Tudo aqui é acertado: A trilha sonora, o humor, o drama, o elenco
estelar como Cub Gooding Jr., Renée Zellweger, Bonnie Hunt e Jonathan Lipnick,
além da participação pontual e incrível de Jared Jussim. Vale cada segundo e
até hoje me faz pensar sobre como aquilo que nos “faz” homens cai diante das
circunstâncias adversas e nos faz crescer como pessoas.
Os Últimos Rebeldes (1993)
Se você conhece o corretíssimo médico James Wilson da série House, talvez não
conheça a faceta dramática de Robert Sean Leonard no papel do alemão Peter
Müller, conjuntamente com seu melhor amigo Thomas Berger, interpretado por
Christian Bale. Aqui cabe um adendo: É estranho olhar para o longa hoje e ver
personagens alemães falando em inglês. Não vou dizer que não tira a imersão,
mas há outros fatores que compensam. O roteiro é bem trabalhado, o núcleo
proncipal tem desenvolvimento acima da média e as interpretações, de Bale
principalmente, são muito marcantes. Na história os dois amigos e seu grupo têm
vida dupla ao terem que viver na Alemanha Nazista enquanto se apaixonam pelo
estilo de música Swing e frequentam clubes noturnos proibidos. Toda a crescente
de escolhas difíceis feitas pelos personagens até hoje me pega no contrapé,
incluindo seu final. E sejamos justos, é um final para poucos.
Elvira – A rainha das trevas (1988)
Se tem um filme que resume bem o WTF dos anos 90 é este. Esqueça o elenco
propositadamente risível e concentre-se na personagem independente, sexualmente
debochada, poderosa, apaixonada e homônima ao longa de Cassandra Peterson. A
ocultista pop-star Elvira rouba a cena com diálogos até hoje muito bem sacados
e que, na medida perfeita, equilibram uma história assumidamente estilo Ed Wood
com a persona que acompanharia a atriz por quase duas décadas depois. Elvira
não apenas mostrou que homens são idiotas e usáveis, como ainda por cima
transformou Cassandra numa atriz reconhecida mundialmente por seu talento e
carisma. E um reconhecimento extremamente tardio, já que ela atua desde os anos
70.
A Eleição (1999)
Considero este um filme perfeito. Baseado na obra literária de Tom Perrota de
mesmo nome, conhecemos o popular professor Jim McAllister e sua péssima ideia
de fraudar uma eleição por temer que a vencedora (Tracy Flick, de Reese
Whiterspoon) seja uma má influência para os alunos que ele tanto se dedica. Matthew
Broderick está impecavelmente carismático como um hipócrita em formação Seu
personagem é moralmente flexível, fracassado e ainda assim autoindulgente
diante da própria vida. O produto final em si tem uma edição acertada,
constrangedora até. Inadvertidamente, é uma história sobre o embate de
gerações, o fundo do poço daquilo que escondemos, como não vivemos aquilo que
ensinamos e as consequências disso em nossas vidas. Tudo isso em uma fórmula
simples, divertida, de roteiro escalonado e altamente acessível. Impecável. E antes que alguém se pergunte: Sim, Curtindo a Vida Adoidado estará em alguma lista futura, mas A Eleição é tecnicamente muito melhor. Lidem com isto. Abraços.
E antes que eu esqueça: Reese Whiterspoon voltará à sua personagem em breve, já
que o segundo livro deste universo foi lançado recentemente, onde traz Tracy
galgando seu caminho dentro da política. O filme se chamará Tracy Flick Can’t
Win. Aposto um dedo que este será um longa que renderá polêmica.
Melhor é impossível (1997)
Eis um filme que se fosse lançado atualmente, seria a bandeira do nerdola
contra a “agenda woke”. A história fala de um escritor, Melvin Udall (Jack
Nicholson) conhecido pelo seu machismo, agressividade, homofobia e transtornos
psiquiátricos que vai sendo transformado, aos poucos, com a convivência de uma
garçonete (a maravilhosa Helen Hunt) e seu vizinho pintor e gay (o subestimadíssimo
Simon Bishop). O vilão é o próprio Udall, sendo forçado pelo personagem de Cuba
Gooding Jr., a encarar os problemas criados por ele mesmo. É um filme que
escolhe um caminho fácil para lidar com saúde mental e suas questões difíceis,
é verdade, mas tem em seu DNA um pouco de esperança, ainda que focado demais no
amor. Funciona pela fofura e pelo humor seco. Fora que... bom... Jack Nicholson
aqui está no ápice de seu talento.
Onde vivem os monstros (2009)
Filme baseado na obra de Maurice Sendak, conta-se sobre Max, um garoto de dez
anos estranhamente belicoso, que num dia ruim, faz coisas erradas e fica de
castigo. Fugindo de casa e entrando num barco, ele para numa ilha de monstros
melancólicos que veem nele um rei. Pensando em fugir das responsabilidades do
que fez, Max logo aceita o cargo.
Protagonistas precisam aprender. Em parte, a Jornada do Herói é justamente
essa. O aprendizado é curva para encontros importantes e um retorno triunfal.
Mas o que acontece em Onde Vivem Os Monstros é justamente o contrário: Todo
aprendizado de Max deturpa a Jornada e serve para despedidas, se voltando para
a humildade, quase num processo religioso. Um drama fantasioso de belíssima
fotografia e paisagens inebriantes que misturam monstros em CGI e efeitos
práticos que nos mostram que amadurecer e se conhecer, independente da idade, é
doloroso e exige sacrifícios. Até hoje me dói ver a “não despedida” do final.
Dois filmes num tópico só. Wes Anderson, quase sempre, lida com personagens que
perderam algo. A Vida Marinha com Steve Zissou (que já tem crítica e você pode
conferir clicando AQUI) e The Darjeeling Limited tratam da precariedade das
relações e como lutos levam às atitudes que nos fazem repensar a própria vida.
Tudo isso com o lema aventuresco e característico das locações de cada filme.
Tudo se mistura. O resultado de Zissou é um Bill Murray divertido e Adrien
Brody, Owen Wilson e Jason Schartzman cheios de químicas em Darjeeling. Um
detalhe é que: Diferente de seus dois últimos filmes: Asteroide City e The
French Dispatch, com decupagens rápidas e diálogos frios, Tanto A Vida Marinha
e The Darjeeling Limited são feitos com mais calma e trabalham melhor suas
premissas iniciais. Não são os filmes mais técnicos do diretor, mas são os que
tem mais têm temas alinhados de forma pura e têm uma vivacidade ímpar nas suas
características visuais que compõe a autoralidade do diretor. Wes Anderson é de
gosto adquirido, é verdade, mas tem uma estética marcante e uma profundidade
bonita e rara de se encontrar mesmo em seus tropeços.
Não Olhe Para Cima (2021)
O mais filme mais novo desta lista, mas não menos impactante. Também não é o
longa mais politizado de Adam McKay, o diretor, que já dirigiu Vice. Porém, é o
filme que mais mistura política com midiatização, apatia pública e personagens
de pés de barro. Talvez alguns não concordem com isso, mas acho Não Olhe Para
Cima um filme muito equilibrado, que tem ciência de si e com interpretações
excelentes. Tanto Leonardo DiCaprio como Jeniffer Lawrence formam uma das
duplas mais improváveis e funcionais do cinema recente. Há muito sobre a burocracia, e sobre o que nos fa humanos. A reflexão é muito boa, principalmente no seu final, com uma edição ágil e diálogos triviais, mas muito tocantes. E antes que me esqueça: A participação especial de Ron Perlman é estupenda. Curta e pontual, mas vale demais.
Na história, dois astrônomos amadores descobrem um cometa em rota de colisão
com a Terra, com risco iminente de extinção de toda forma de vida. Com esta
informação em mãos, eles decidem avisar ao mundo sobre o que está por vir, mas
ninguém dá muita bola. Governo, mídia, amigos... todos deixam Kate Dibiasky
(Lawrence) e Randall Mindy (DiCaprio) na mão e cabe a eles lidarem com essa
indiferença e os últimos momentos do planeta.
É isso. Sei que muitos perguntarão "como assim, Saitama?! Sem filmes dos nossos amados heróis???". É, sem filmes desse subgênero azedo. Qualquer um desta lista garanto o divertimento. Sério. Confia.
Abs, bons filmes.
Saitama Senpai, direto dos braços nucleares de Azathoth.
Nenhum comentário:
Postar um comentário