domingo, 26 de outubro de 2025

Hellboy & Quão Torto?

 




Eu sei, muitos estavam no mínimo, animados (né?) pra esse momento, mas cá estamos. Não sei exatamente o que vocês estariam esperando desse post mentira que eu sei mas não acho que eu vou precisar me esticar tanto assim nesse caso, explicar algum ponto de vista específico meu (como eu achei pertinente fazer no meu post sobre o Lobisomem desse ano, que aliás muito obrigado pelo apoio que vocês deram a ele!) não, até pra ir meio que na linha mesmo do que temos aqui, de certa forma. Então, vamos lá né? Afinal, eu assisti Hellboy e o Homem-Torto esses dias atrás.



Vou te dizer, mal tinha começado em si, e eu já tava com cara de quem queria ir embora deixando a tela falando. Um logo de uma produtora de fundo de bueiro estampado na minha cara, quase parecendo um PGN pulando na tela, e com aquela música tocando. Ou mesmo o título, parecendo uma logo de algum filme de terror dos anos 2000, toda rasbicada, parecendo obra de uma criança que pegou um giz preto e foi fazer arte na parede. Icônico. Mas lá fiquei. Aí começa lá, ok né, o trem andando em meio a um local meio estranho né, um efeito meio estranho de ver, não sei né.

Aí de repente começa um problema, com uma aranha gigante! Nossa, que legal, aí o negócio cai, os efeitos muito nice graphics, e eu tipo "o que eu tô fazendo da minha vida aqui, ainda mais de noite?" Eu poderia estar é vendo o filme "eu na minha cama dormindo", mas ao invés disso eu estava assistindo Hellboy e o Homem-Torto. Menção mais que honrosa ao que acontece depois, aliás, já que a tal aranha gigante é a carga que o nosso Vermelho e sua aliada asiática gata estavam levando, onde então temos uma épica cena do bicho diminuindo de tamanho em um piscar de olhos, em um efeito especial, impressionante. Vocês não tem noção de quanto eu dei risada disso. Lá estava eu, RiptorBR, pensativo, em meio a uma crises de risos: o que eu tô fazendo da minha vida aqui, afinal? Em que dívida de jogo eu entrei pra estar fazendo isso comigo? 



Mas enfim, de toda forma (e se você está lendo isso) é porque cheguei a ver os créditos finais dessa obra cinematográfica. E eu sei, você a esse ponto, ainda mais quem me conhece, já deve estar até aqui pensando: "Ah, ele tá todo sarcástico, tirando sarro, eu já sei como isso continua, e como isso termina". Mas aí que está um pouco de surpresa gente, por incrível que pareça, esse filme não é um completo desastre. Imagine minha surpresa diante disso. Porquê entendam gente, eu realmente nunca vou ver qualquer filme que seja, já querendo odiar ele - por mais que eu já possa presumir muitas vezes, o que pode ser minha percepção geral.

É de se notar como o filme simplesmente começa, ele simplesmente te joga ali, e você vai acompanhando. Acho que no fundo os envolvidos sabiam que as 5, 6 pessoas que fossem ver esse filme, com certeza já teriam ciência de quem é o Hellboy, então não sei dizer o quão sensato isso poderia realmente ser. O clima e o ambiente envolvendo a floresta onde tudo ocorre é até interessante, visto que a idéia seria algo mais focado no terror. Seja com pretensão (ou mesmo ciente que não pode fugir do fato que estamos diante de uma produção feita no máximo) com o troco de meia coxinha comida e meia coca-cola sem gás, acaba se tornando comprável que ali parece um ambiente morto e realmente amaldiçoado, mesmo que seja através de um vazio incômodo. Sem dúvidas, é um ambiente que poderia se beneficiar ainda (e muito) mais nas mãos de alguém com mais bagagem de fato para o gênero.



Ainda que a ambientação precária possa demonstrar seu potencial, o filme se sustenta mais em torno disso, já que não há uma implementação que pudesse dar mais refinamento a isso. Da mesma forma que aconteceu anteriormente ao dirigir Motoqueiro-Fantasma: Espírito de Vingança (por coincidência ou não, outro anti-herói sobrenatural) Bryan Taylor está longe de ter alguma criatividade para explorar esse ambiente. Não existe realmente tensão em jogo, ou mesmo alguma tentativa de criar angústia ou apreensão reais no público. Certas cenas que poderiam render alguma coisa nesse sentido, simplesmente acontecem sem peso, e até mesmo os jumpscares eventuais (felizmente eventuais) são tão mortos que não há nem mesmo ritmo para eles terem algum efeito prático.

Quem muito se exalta sobre algo as vezes pode estar é querendo compensar algo que te falta - e Taylor parece seguir tal filosofia aqui até mesmo em diálogos, numa tentativa de realmente tentar vender isso aqui como um filme "assustador". O momento que uma bruxa começa a falar sobre como ela faz as próprias bolinhas de rola-bosta (que o filme tenta vender como um momento particularmente perturbador) dá vontade é de rir. Admito que me decepcionei nessa cena, estava crente que o bonequinho Guinho iria aparecer a qualquer momento, enquanto a Palmerinha em sua fase bruxa falava sobre sua receita.

Em relação às atuações, não há tanto assim para se apontar. O roteiro, que conta com o envolvimento de Taylor, Mike Mignola (criador do personagem) e de Christopher Golden (que escreveu anteriormente três romances canônicos de Hellboy) é simplório, vindo acompanhado do fato das atuações em sua maioria serem visivelmente caricatas. Adeline Rudolph ainda consegue ser operante como a colega de trabalho do B.P.R.D., bem como Jefferson White como o ex-soldado Tom Ferrell (que de certa forma é o verdadeiro protagonista da história) se você for reparar. A minha primeira verdadeira surpresa, acabou ficando mesmo com o próprio intérprete do Vermelho.

Talvez eu tenha sido um pouco duro com você?

Sim, acredite, se você ignorar o fato que esse visual parece meio um cospobre, o Hellboy interpretado por Jack Kesy é surpreendentemente bom. Se a versão de Ron Perlman era facilmente carismática e com estilo de super-herói (enquanto que a de David Harbour era apenas um retardado ingrato) em uma tentativa fracassada de surfar na onda de anti-herói violento que ressurgiu no gênero com Deadpool, a de Kesy nos apresenta um Hellboy bem mais contido (e por vezes quase soando mais como um coadjuvante) por conta disso. 



Embora ainda faça uma piada sarcástica ou mesmo diga uma frase de efeito de vez em quando, esta é de fato uma versão muito mais reservada e tranquila do personagem, não muito diferente de como o mesmo de fato se apresenta em suas histórias nos quadrinhos. Você realmente compra a idéia que alguém sutil e metódico assim poderia ser um investigador paranormal, mais preocupado em resolver um caso (bem como com seus companheiros) do que em se destacar realmente como um herói. A trama até traz um pouco do laço do personagem com sua mãe, mas infelizmente é algo que não é tão aprofundado como merecia.

Já que você não quis cooperar comigo James Wan...

Já quanto ao outro figura que dá nome a obra, se o Homem-Torto (interpretado por Martin Bassindale) não se beneficia de uma construção de atmosfera do filme como um todo, ao menos ainda acaba sendo uma figura com um certo carisma macabro em tela, enquanto se torna parte do mistério que atrai a atenção do próprio Hellboy em primeiro lugar. Ele é manipulador, e até mesmo de certa forma cômico, e há de se destacar que até mesmo visualmente, ele é bem fiel a versão dos quadrinhos do qual o filme usa de base.  



No fim das contas, o maior "mérito" de Hellboy e o Homem-Torto é realmente o de algum jeito conseguir não ser um completo desastre. É uma produção claramente amadora (feita com o troco do lanche da equipe dos envolvidos) e enxuta como se fosse um piloto de uma série de TV de 2010 - mas que, curiosamente, ainda consegue demonstrar lampejos reais de algo que poderia ser realmente bom se estivesse em mãos melhores. O ambiente tem potencial, o Homem-Torto é um vilão com potencial interessante, e até mesmo o Hellboy aqui apresentado demonstra potencial, especialmente se comparado a sua interação anterior, que mais parecia um adolescente revoltado que saiu de uma convenção de Comic-Con. Há realmente alguma coisa para se gostar aqui.


Mesmo assim, é impossível não dizer que o resultado como um todo não consegue ficar muito acima do medíocre. Não é uma simples questão de apego afetivo pelo fato de não ser uma sequência da franquia de Guillermo del Toro, de não ser Ron Perlman em tela. Hellboy é um caso de franquia cuja suas produções cinematográficas parecem se tornar cada vez mais precárias a cada reboot, em todos os sentidos. Saímos do idealizador de Labirinto de Fauno para o diretor de Abismo do Medo, que já estava (e continua) numa fase de fazer filmes ruins há praticamente 20 anos. E então, pulamos agora para um que nem pode dizer que fez realmente um filme bom na vida, e cujo seu longa já foi praticamente jogado para VOD no mesmo momento de seu lançamento.

Eu já vi comentários do tipo "ah, o filme é até legal, ah não é tão ruim assim", e realmente, eu terminei pensando "uau, podia ter sido pior!", eu diria que honestamente ele é melhor que o reboot de 2019, mesmo sendo claramente mais limitado pelo orçamento. Mas você nota o quão deprimente é uma franquia chegar a isso, você assistir algo e pensar que a coisa mais positiva que você vai poder dizer agora é "não foi tão ruim assim"? Com um personagem que já teve 2 filmes realmente bons? É complicado. O primeiro Hellboy não é um filme sustentado por saudosismo - ele é um bom filme. Hellboy II, nem isso, é um ótimo filme, talvez até mais justamente por ter muito mais do próprio del Toro inserido nele. São personagens, um universo, que merecem esse tipo de carinho, e nada menos que isso. É tipo você ter uma Ferrari, e no outro dia ter de se contentar de andar de carroça, e pensar que não é tão ruim assim. Os filmes do del Toro são a Ferrari, e Hellboy e o Homem-Torto é a carroça. E Hellboy de 2019, é você ter ir a pé, de baixo de Sol, com uma Havaianas rachada por baixo.

Mas não vou mentir, se você assistir isso com expectativas zeradas (e aceitando o amadorismo apresentado) você pode até curtir algumas coisas que mencionei, e pode ser que te renda algumas risadas involuntárias — nem que seja por coisas como uma aranha gigante que encolhe em um CGI nível PlayStation 2. Mas podia ter sido pior - e como podia!



Então é isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!


Por: Riptor

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