quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O que fazer com 'Coringa 2'?


Sendo de longe a maior surpresa financeira do ano (e superando com certeza até as expectativas dos mais otimistas) o filme do Coringa ser alvo de uma sequência não chegaria a ser um movimento estranho por parte da Warner. Na verdade,seria é estranho se não ocorresse isso de um filme (de censura R ainda por cima) que conseguiu bater 1 bilhão,contra um orçamento de menos de 70 milhões. Mas, ultimamente, estamos vendo uma "mini guerra civil" quanto a isso: de um lado temos o THR (apoiado pela Variety) noticiando que sim,haverá o tal 'Coringa 2'. Do outro,Deadline (apoiado pelo The Wrap) falando que não. E no meio disso,apenas o povo que quer saber aonde essa novela vai terminar.

Tipo...eu. Você (provavelmente),o Zezinho da Pamonha,etc.
Mas,independente disso,com uma sequência potencialmente acontecendo, claro que há pensamentos sobre o que poderia (ou em alguns casos,deveria) acontecer nela. Como dito,pelo olhar financeiro,é um filme que faz sentido, sem falar em seu sucesso no Festival de Veneza,um Leão de Ouro levado pra casa e (claro) o fato de tanto Todd Phillips quanto  Joaquin Phoenix terem demonstrado vontade de fazer outro,ainda que o grande marketing do primeiro tenha sido justamente seu status de filme único totalmente separado de qualquer limite ou emaranhados narrativos do universo base da DC no cinema,e que seria assim capaz de se experimentar mais livremente em outra fórmula e gênero de filme. O próprio Phillips fez questão de enfatizar que o filme "não era um filme de quadrinhos" e, portanto, não estaria vinculado às expectativas desse meio (ainda que no fim isso não significe que o filme não se aproveitou de incluir figuras como Thomas, Martha) e o próprio jovem Bruce Wayne na trama,com os pais de Bruce encontrando o mesmo destino que sempre fazem no cânone do Batman. Isso sem falar que após seu momento de triunfo nas ruas em chamas de Gotham,o Palhaço vai para o único local desse mundo que conseguiria ter um indivíduo desses: o Asilo Arkham.

Enfim: mesmo com um projeto arriscado como esse (e até por isso sendo vendido como fechado,onde ele funciona muito bem assim),a Warner talvez quisesse ter certeza de que deixaria algumas portas a serem abertas,caso surgisse a oportunidade de fazer mais filmes nesse mundo. E se eles realmente querem um Coringa 2,há coisas que eles deveriam ter em mente (eu acho),vindo de alguém que deixaria o filme quieto no canto dele,no fundo. Então,irei falar delas (espero que gostem):

● O Caos Precisa de um Contra-Ponto?
Um dos elementos mais claros da história de Coringa é a falta de um vilão tangível. O  verdadeiro inimigo do personagem sempre é mostrado como a própria sociedade e as maneiras pelas quais os ricos da elite "sangraram" pessoas comuns como ele,que  tem problemas psicológicos e humilhações como parte da sua rotina. Até por isso (e principalmente por isso) ele é impulsionado mais por essas questões do que por qualquer figura humana em si, mesmo que ele se concentre em Thomas Wayne e em Murray Franklin como seus principais alvos. É um conceito que funciona, mas que seria difícil de se executar mais de uma vez no mesmo tipo de narrativa.

E visto o atual estado do seu personagem título e tudo que acontece por consequência direta e indireta dele, dessa vez o Coringa deve precisar de um contra-ponto real. Se ele é o caos,é necessário que alguém seja a "luz".

E tá,tá. Você já deve tá pensando:
"Você quer dizer o Batman?!"

Bom, já temos um citado pequeno Bruce aqui,mas como dito,pequeno. Um garoto de o que? 9,10 anos? Independente disso,ainda é sem dúvidas alguém que está longe de estar pronto para vestir a capa de maior detetive do mundo. Ainda que Coringa certamente crie uma dinâmica interessante entre Arthur e Bruce,que tem um rico potencial:

"O garoto rico dos altos escalões de privilégios que viu seus pais serem mortos a tiros pelos seguidores (ou em outras palavras,indiretamente) por uma espécie de 'vigilante dos oprimidos' que pode (ou não) ser seu meio-irmão".

É um cenário para o qual a Warner e Phillips claramente teriam mais idéias para se brincar,e trazer o Batman para esse cenário automaticamente permite uma batalha de bem contra o mal que esses 2 sempre demonstraram bem. Nem precisa ser necessariamente o Batman de Robert Pattinson, embora pareça possível que essas conversas já tenham ocorrido no estúdio, com alguns realmente gostando da ideia de vê-los compartilhando a tela.
Mas,me responda: se a história até aqui quis acompanhar a ambiguidade de Arthur ser um Coringa (mas não O Coringa),por que não levar essa mesma insegurança a um vigilante mascarado que busca justiça  por sua própria tragédia pessoal? Será que esse filme precisaria mesmo de um 'Batman de Verdade'? Imagine alguém tão perturbado por algo quanto Arthur,mas que ainda tem alguma sanidade dentro de si para ser visto como algum tipo de herói. Seria um jeito bom de poder explorar o conflito de "até onde você é bom para combater o que você mesmo faz".

● Coringa (sendo) o Coringa (até o topo)
Você pode se perguntar: como assim?

Bom,um dos pontos (que até gerou algumas discussões) sobre o primeiro filme foi justamente o status que ele dá ao seu protagonista. Há quem diga que o filme  possivelmente "romantizou" sua situação de uma maneira prejudicial,algo que não chega a ser verdade (o filme mostra a situação de Arthur e as escolhas que o levaram para esse caminho sombrio do qual ele no fundo  realmente não iria seguir,se ele estivesse em uma situação diferente),mas não põe panos quentes quando isso sai do controle e ele cai de vez nele (a cena do personagem no Talk Show onde Murray comenta o que qualquer um diria pra alguém claramente instável como o Coringa é a prova disso). Ele não é necessariamente o vilão da história, mas uma inevitabilidade do mundo desonesto e egoísta que Gotham se tornou que, mais cedo ou mais tarde, nasceria.

Mas para uma sequência,eles poderiam  pensar: é preciso fazer do Coringa durante o tempo inteiro de filme o que ele se tornou ao final do anterior. Um verdadeiro causador de caos maligno da cidade em geral (e agora que ele foi reforçado pelo apoio do público aos ideais que projetaram sobre ele),seria bom  ver como ficou a própria Gotham depois disso tudo, e como o submundo do crime se aproveitou do mal-estar da situação.
Afinal,os seguidores do Coringa o apoiaram a ponto dele conseguir novos níveis de poder entre o crime? Ele aprimorou suas habilidades e adotou completamente seu status de maníaco por uma nova causa além de uma  'luta contra o sistema'? O submundo de Gotham sempre foi uma parte intrigante das história do Batman,com o Coringa aqui podendo ser mostrado evoluindo de forma detalhada ao longo dos anos. Há muito espaço para Phillips adicionar seu próprio olhar de como o Palhaço do Crime conseguiu seu alto status (e nem precisaria do primeiro ponto que eu citei assim).

● O Tempo Dele no Arkham
Mas pra fechar,outra opção: Coringa termina com Arthur no Arkham, para passar um tempo não especificado lá. O filme é ambíguo sobre o quanto da história anterior realmente aconteceu e quanto está apenas na cabeça de Arthur (que obviamente por ser alguém perturbado),não é uma fonte confiável de informação.

Embora possamos apenas supor que a sequência confirme a primeira por várias razões: Arkham é notoriamente o lar de alguns dos vilões mais icônicos e perigosos do folclore da DC, e se a Warner quiser (tentar) continuar o sucesso do primeiro filme com filmes com temas semelhantes sobre outros vilões do Batman, essa seria uma maneira interessante de configurar isso. Afinal, Arthur com certeza conheceu outros figuras do mesmo nível dele ali.
Um exame mais aprofundado da saúde mental de Arthur, enquanto no Arkham, também soaria uma possibilidade,onde se poderia fornecer novas camadas ao seu personagem de maneira consistente com o primeiro filme. Phillips e Phoenix fizeram muito para não dar um diagnóstico específico dele,o que deixa assim a chance de se explorar muito dessa área de seu desenvolvimento. O filme assim poderia passar algum tempo com ele em tratamento enquanto Gotham continua caindo no fogo em parte graças aos crimes inspirados por sua imagem,ao mesmo tempo que mostraria o desejo de Fleck de ceder à sua própria loucura e maldade mais e mais.

Por: Riptor

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