sábado, 27 de junho de 2020

O que Aconteceu com Joe Johnston? - Parte 4

Quando Prestígio não Rende mais, Oportunidades Financeiras sim....

* Atenção: O texto a seguir reflete unicamente à opinião de quem o Escreve. Esteja ciente disso

E-S-T-E-J-A | C-I-E-N-T-E | D-I-S-S-O

Eae? Depois de longos 13 dias, aqui estamos com a quarta parte de "O que Aconteceu com Joe Johnston?" Na parte anterior, vimos o início da Era Negra do cineasta com a vinda dos anos 2000 (seu filme de estreia na nova década foi um desastre),e sua nova aposta com a Disney não escapou do prejuízo financeiro. E bom, o resultado disso foi um período de 4 anos sem ser cotado para nada (como vimos aqui),o máximo de tempo até então entre seus filmes eram de 3 anos. Ele precisava urgentemente de emprego, ao mesmo tempo que pensava que precisaria de algo novo, para ter interesse de ser financiado com alguma confiança.

Até que ele veio inicialmente em fevereiro de 2008, na forma da Universal. É claro que, se formos observar até aqui, a Disney sempre foi um ponto onde o diretor tinha alguma confiança, apesar dele não cooperar para isso (mas a Universal parecia querer tal posição), e com algum motivo em mente. Céu de Outubro não foi bem de bilheteria, mas foi premiado. E Jurassic Park III, apesar da bilheteria pífia para a série, não deu prejuízo. Logo, porque não tentar a sorte dando à ele outra franquia do estúdio?
E foi assim que nasceu O Lobisomem (The Wolfman, preste atenção nessas palavras), remake de um dos clássicos de monstro do estúdio, lançado em 1941 (já a nova versão saiu em 2010). Assim como aconteceu com JP III, Johnston tinha uma grande responsabilidade nas mãos, ainda mais ao não estar mais em uma zona confortável. Pra falar a verdade, ele nem deveria ter entrado nisso, por um motivo bem simples: muitas vezes, é melhor pegar um projeto que vai ser mesmo seu.

Olha, eu vou te falar: se eu demorei pra fazer essa parte, é justamente porque esse filme é complicado de se falar sobre (afinal), há quem goste. Aqui no blog mesmo tem o que? 4 pessoas no mínimo? É, algo assim. Então, eu prometi (ainda mais a mim mesmo), que eu tentaria ser "bonzinho" com o longa. Nem mesmo no meu auge com esse projeto, eu o achava o pior da carreira de Joe, ou algo assim (mas posso dizer que eu sinceramente me sentia um estranho no ninho), quando tive de ler certas coisas sobre esse filme, internet à fora. Hoje, acho que entendo porque. Apesar que os motivos não fizeram eu chegar, hoje, no ponto de gostar verdadeiramente desse filme.
Mas pra não deixar ponta solta, quando eu me referi à Johnston ao falar de "muitas vezes, é melhor pegar um projeto que vai ser mesmo seu", eu me referia ao fato de que esse projeto já estava sendo uma bagunça no estúdio, e nem fazia tanto tempo assim. O remake foi anunciado em 2006, com Andrew Kevin Walker (Se7en) sendo contratado para ser o roteirista, antes do roteiro ser todo reescrito por David Self (Estrada Para Perdição). Como se não bastasse, o diretor original do filme, que seria Mark Romanek (Retratos de Uma Obsessão) que tinha sido contratado em fevereiro de 2007, saiu do mesmo no começo de 2008, já que seus planos eram "equilibrar as balanças" do personagem que ele iria trabalhar, seja com sua visão original, mas sem se esquecer da parte de entretenimento. Mas o estúdio queria apenas "o que achavam que seria rentável",ao invés de qualquer equilíbrio.

A partir daí, Brett Ratner (Dragão Vermelho) foi cotado, mas saiu pouco antes das filmagens por “diferenças criativas”, e com a Universal cotando vários nomes...até que a cadeira acabou ficando com Joe Johnston. Mas mesmo com um diretor (que adivinha? Mexeu mais ainda no roteiro) que ficou até o fim, a produção também passou por problemas de pós-produção na edição,e com a Universal chamando as pressas Walter Murch (Apocalypse Now) para “botar ordem na casa” no trabalho de Johnston e Dennis Virkler (A Névoa), e como se não fosse suficiente, eles ainda tiveram mais problemas envolvendo os efeitos especiais. Daria pra dizer assim, sem problema nenhum, que O Lobisomem é praticamente o Liga da Justiça dos monstros da Universal...e eu não falo isso, claro, por bons motivos.
Aí, aí, seis querem que eu fale algo da história mesmo? Tá bom (vou até colocar quase a descrição que aparece no Google): "Apesar de estar distante há muitos anos, o aristocrata Lawrence Talbot (Benício del Toro) retorna da América para a casa de sua família onde vive seu pai Sir John Talbot (Anthony Hopkins), na Inglaterra, a pedido da noiva (Emily Blunt) de seu irmão, que está desaparecido. Lawrence descobre então que algo assustador vem aterrorizando os moradores do vilarejo de Blackmoor, e pede ao detetive Aberline (Hugo Weaving) que investigue o caso" vlw Google, vou poder ser direto novamente .

E bom, quanto à essa história, depois de tanto mexe aqui, mexe ali, no filme ela parece "cortada" (não ritmada), e até mesmo confusa (isso que este remake praticamente segue a mesma linha do original),quando falamos de contexto. Uma hora você tá em um pântano remoto, pra depois saltar para uma Londres vitoriana (criada digitalmente), onde o Lobisomem de Del Toro ameaça alguém com uma cadeira estou brincando tá seu sem humor, eu sei o que ele faz depois  Mas um dos grandes problemas, reais, desse filme, é outro: ele simplesmente NÃO consegue assumir algum padrão que a trama use do começo,ao fim.

Ele começa (mais) gótico (e bem, falando nisso). Em outras partes, assume um tom mais "aventuresco". Outra hora, apela pro gore/violência  e antes que você diga que isso faz parte do personagem, sim faz mas parece que ele aqui em certos momentos mais serve pra "acordar" alguém que não estivesse prestando atenção no filme (tipo o Lobisomem jogar um homem de uma janela), e ele cair coincidentemente em um lugar pontiguado pra jorrar um sangue. Normalmente isso é tática de filme B, mas quem sou eu pra apontar o dedo. E ahn, claro: temos momentos onde o filme explora algum drama psicológico (algumas vezes bem),outras nem tanto. Um momento sobre alucinações mesmo é legal, como eu já cheguei a falar há um tempo atrás.
Quanto ao elenco, é inegável que há nomes pesados aqui (mas suas performances acabam sofrendo os efeitos do mexe-remexe que a produção sofreu de uma forma ou de outra),principalmente no roteiro. Benicio del Toro, felizmente, parece que foi o "menos" afetado por isso: o ator entrega um
Larry Talbolt meio tristonho, apreensivo, e praticamente condenado (a mansão da sua família é assombrada por suas memórias), e seu pai, estranhamente, soa viver melhor com isso do que ele. O mesmo já tinha declarado ser um fã do original, e dá pra ver na tela que ele se esforça também por causa disso (as dores pessoais que ele tem por conta de tudo isso e o seu próprio passado traumático), é algo que faz com que seja possível que você sinta pena e até simpatia por ele.

Ainda assim, o roteiro não ajuda o ator em determinadas cenas: há uma mesmo em que Lawrence é levado diante de um grupo de cientistas para forçar ele a perceber que, se ele vir a Lua Cheia, ele não se tornará um Lobisomem. E tipo, essa deveria ser uma cena de tensão CLARA (aquela que você sabe que vai dar merda)....mas, eu não senti nada. Sabe quando você fica indiferente? Eu não senti medo naquela cena. Tipo, a transformação é feia (no bom sentido), e é bom destacar como o próprio Lobisomem de del Toro se parece com o original....mas se for comparar, aquela que ocorre em Um Lobisomem Americano em Londres (feito quase 40 anos antes desse) tinha mais impacto, muito porque o próprio Lobisomem daquele filme é modelado no próprio rosto de Lon Chaney, o que deixa aquela aberração mais crível. Então....porque não fizeram isso aqui? Porque é mais fácil usar CGI? Por favor, né. Contrato del Toro, vai me dizer que não fez porque era caro?
Mas se Benício ainda se dá bem no geral, o mesmo eu já não posso falar de Emily Blunt e sua Gwen Conliffe, que em certas cenas, devia tá precisando urgentemente comer alguma coisa: a atriz não faz necessariamente algo ruim, e entrega o que o roteiro quer resumidamente (a mocinha indefesa e sofrida). A questão é que parte do relacionamento dela com Lawrence, não engata (sendo que o peso dos atos finais depende que você engula que esses 2 são um casal), mesmo com o "desenvolvimento" disso sendo todo atropelado.

Quer dizer, eu até entenderia ela querer ajudar ele (até por ser irmão do que seria seu marido), mas à ponto dos 2 quererem tão desesperadamente proteger um ao outro? Me faz até pensar que esses 2 na verdade já tinham uma relação dessas até antes do irmão do Larry morrer (entenda isso como quiser). Quanto ao pai do nosso peludo (interpretado por Hopkins)...não posso negar que ele está se divertindo, e por mais que ele seja sim um grande ator, ele parece meio viciado de vez em quando em papéis exagerados, onde ele só precisa se divertir (se brincar ele soltou aquelas risadas maléficas durante as filmagens ainda). E tirando um ou outro momento, o filme ainda quer me vender que eu tenho de engolir o "desenvolvimento" dessa relação pai-filho de botequim. E quanto ao inspetor do Hugo Weaving, ele é tão eficiente que podia fazer parte da turma do Didi (entra em cena com uma ideia já pronta sobre os crimes que irá investigar) sendo que segundo o que o público e diversas testemunhas ACABARAM de presenciar (sem falar do que a própria linha narrativa apresenta) a hipótese formulada não faz o menor sentido.
Mas apesar de tanta remixida, é bom destacar como O Lobisomem, apesar de tudo, evita (o que deve ter sido a tentação de algum produtor) que é atualizar sua história. Isso poderia ser feito, dependendo da execução,mas o projeto prefere seguir (aos trampos e barrancos) aquela "linha clássica",o que é ao menos uma intenção legal, principalmente por fugir um pouco do óbvio que estava sendo feito com Lobisomens mais recentemente. O filme é, assim, um longa com uma aparência meio gótica que sim, é ótima, e até passa melhor aquela ideia de uma época onde "o destino de um homem era selado pela depravação ancestral", do que se ele fosse um filme no presente (a direção de Johnston acaba tendo assim seus momentos).

Já a fotografia de Shelly Johnson (colaborador de Joe já de Jurassic Park III e Hidalgo) ajuda pra isso também, e a trilha do Danny Elfman é bem legal (com destaque pra "Wolf Suite"), que é MUITO BOA. O cara entendeu completamente o que é a trilha de um filme sobre o Lobisomem Clássico: o toque dark, macabro, os "refrões", o toque de época, a batida no início (a minha parte favorita)...tô até ouvindo enquanto faço isso.
Tem alguém nesse filme que entendeu o Homem-Lobo no fim das contas 
No fim das contas, O Lobisomem foi lançado em fevereiro da então nova década, mas simplesmente a sua fera foi abatida antes de fazer qualquer grande barulho: o filme foi recebido de forma morna pela crítica, que até ressaltou elementos como a ambientação e a ideia do filme tentar trazer a criatura titular "de volta às origens" (mas o roteiro, claramente remixido por uma produção conturbada), e a falta de foco, acabaram matando parte do potencial do projeto. O processo também acabou custando caro para o lado financeiro: se originalmente o filme custava 85 milhões, com tantos pesares, ele acabou custando em volta de 120 à 150 milhões (um orçamento considerado alto demais para uma produção para maiores), e no fim das contas, ele arrecadou apenas 142 milhões durante seu tempo nos cinemas.
0:28: "MEU PRECIOSO!"

E sabe mais? O comandante do filme parece que sentiu que poderia ter evitado isso. Em entrevista ao ComicBook Movie em 2011, Johnston compartilhou seus pensamentos
sobre o filme. Ele relembrou que havia sido chamado após (como dito) Mark Romanek ter diferenças criativas com o estúdio, já que ele pedia por um tempo extra para poder filmar, algo que ele não conseguiu. Joe, assim, teve apenas 3 semanas para trabalhar:
"Eu tive apenas 3 semanas de preparação para começar O Lobisomem, uma quantidade ridiculamente inadequada de tempo para tentar reunir as partes que já estavam  fraturadas e dispersas. Quando me cotaram, eles não mentiram para mim que este seria o tempo, então não posso dizer que não estava ciente do cenário que eu estaria",disse. "Eu sinceramente havia assumido o cargo porque eu tinha um problema de fluxo de caixa, e foi a única vez em minha carreira que deixei as finanças entrarem no processo de decisão de um filme. Dinheiro é sempre a razão errada para fazer algo que requer uma devoção apaixonada, mas eu não pensei nisso quando aceitei. Aquela era uma produção que já era um navio furado e sem leme em uma tempestade perfeita, sofrendo de más decisões, e com muitos cozinheiros pouco qualificados na cozinha. As boas e más notícias sobre direção são que, quando a coisa funciona, você recebe todo o crédito, e quando isso não funciona, você recebe toda a culpa. Ambos os cenários são imerecidos, mas eu assumo total responsabilidade pela minha parcela do que O Lobisomem se tornou. Eu devia ter feito aquele filme porque eu queria, e não porque eu precisava"

Mas, apesar de tudo, eu entendo quem goste desse filme. Em outro período,eu estaria falando boas e boas,mas ele realmente tem momentos legais (coisas boas), mas que, pra mim, não foram o suficiente. É fato que Joe Johnston não tem 100% da culpa por um filme que já estava destinado à um caminho tortuoso, mas no momento que ele aceitou se envolver, é justo (como ele próprio admite) que ele tenha uma porcentagem de responsabilidade por qualquer acerto (ou erro) desse projeto. Talvez se fosse um filme chamado "The Werewolf",eu sinceramente teria gostado mais como alguns de vocês aqui, que eu sei que gostam (e até perdoaria algumas coisas nele).
Mas, a partir do momento que o filme se chama "The Wolfman", o meu senso de aceitação é diferente. O Uivo (filme que eu até fiz post de recomendação há um tempo atrás) quem sabe até passa por algum dos problemas desse, e até uns outros (como algumas partes de CGI), mas a proposta é outra,e o filme é honesto ao não tentar esconder isso. É um filme de lobisomens. Esse, na teoria,é um filme do Homem-Lobo (o monstro clássico que nasceu no cinema em 1941), que precisa de um tratamento diferente. É tipo você falar que fazer um filme de vampiro é a mesma coisa que fazer um filme do Drácula. Simplesmente não é (pra mim). Mas, de novo: entendo quem gosta (principalmente porque naquela época havia surgido um certo câncer adolescente), onde lobisomens viraram sonho de desejo de meninas de 15 anos, então qualquer coisa que chegasse mais perto do que lobisomens realmente são já é melhor que aquilo...apesar que existem sites que acho que se empolgaram demais por causa disso (os 4 ovos que o Omelete deu pra esse filme é o cúmulo).

Enfim. Joe Johnston continuava na sua ressaca de praga, e a coisa só ficava mais no vermelho. No entanto, como uma luz de esperança no céu, uma antiga negociação que nosso diretor havia feito, 4 anos antes de O Lobisomem, seria sua chance de se redimir. E no fim das contas, a resposta de Johnston não estava em dinossauros, cowboys, ou muitos menos na Lua Cheia. E sim:
Novamente, nos Quadrinhos.

MAS, veremos isso na próxima parte. Até a próxima!
Por: Riptor

3°Parte: https://fmarvell.blogspot.com/2020/06/o-que-aconteceu-com-joe-johnston-parte-3.html?m=1

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