quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Eis as Polêmicas do Dia




Já fazem 12 dias desde o anúncio feito pelo próprio Michel Ancel (ex-produtor da Ubisoft e criador de franquias como Rayman e Beyond Good & Evil) de que ele iria se aposentar da indústria de games para se dedicar à outras coisas. Mas parece que a saída do mesmo não foi tão tranquila assim: isso porque 1 semana após o anúncio de aposentadoria, Ancel foi alvo de uma série de acusações na última sexta-feira (25) por seu suposto "comportamento abusivo" durante a produção de Beyond Good & Evil 2, ao longo dos últimos anos. As acusações vêm de uma publicação de uma reportagem do jornal francês Libération, em que fontes classificam a gestão do produtor como "desorganizada" e "tóxica" durante a produção do jogo.

De acordo com a reportagem, Ancel foi o motivo por trás de constantes mudanças de escopo do projeto ao longo dos último 7 anos, e de retrabalhos que levaram membros da equipe de desenvolvimento à exaustão, burnout e até depressão. “Ele é capaz de te explicar que você é um gênio, que sua ideia é maravilhosa, e depois de te desmontar em uma reunião", afirmou uma fonte à publicação. "Dizendo que você não passa de merda, que seu trabalho não vale nada, e que não irá falar com você por 1 mês."

Ainda segundo o texto, uma quantidade considerável de energia da equipe era investida em um "costura/descostura" permanente de planos, e na volatilidade de Ancel, que se devia não só aos "impulsos criativos" do mesmo, mas também "à necessidade de brilhar", e de ser "sempre o último a fazer uma marca". A publicação também aponta que Yves Guillemot, CEO da Ubisoft, estava ciente do "custo humano" do projeto, mas teria mantido Ancel na liderança por conta de seu status como uma "estrela da indústria". “Alguém desse calibre pode mudar a percepção das pessoas sobre a Ubisoft [...]. Michel Ancel tem um status equivalente ao de outras estrelas do setor, o que é muito difícil de mudar. Cabe aos representantes dos funcionários e recursos humanos encontrarem os caminhos para proteger as pessoas que trabalham com ele ", teria indicado Guillemot em uma reunião em 2017.
E em uma entrevista ao jornal, Ancel reconheceu o clima de sofrimento e tensões durante o projeto, mas associou a questão ao "tamanho e complexidade" da produção: “É claro que uma pessoa esgotada é terrível”, afirmou. "É claro que alguém que interrompe um projeto depois de vários anos, é uma parte de sua vida que vai embora. Não estou desvalorizando isso, mas você tem que considerar o contexto de tal criação, sua ambição, e sua complexidade." Ancel ainda afirmara na ocasião que foi informado da investigação interna da Ubisoft sobre seu comportamento na produção de Beyond Good & Evil 2 por Guillemot em agosto (vale lembrar que a mesma aconteceu no contexto de múltiplas denúncias de assédio e comportamento abusivo contra outros líderes da Ubisoft), que levaram a companhia a contratar empresas terceirizadas para avaliar as denúncias de colaboradores.

Em uma nota enviada ao Kotaku, a Ubisoft afirmou que “desde que informou Michel que estava sob investigação no início de agosto, Yves não entrou em contato com ele nem discutiu sobre ele com a equipe BG&E2 até o anúncio de sua saída.” Ao Libération, funcionários afirmaram que não esperavam a saída de Ancel, e que muitos nem sabiam da tal investigação. Na saída dele, vale lembrar, foi revelado que o produtor já estava afastado do projeto há algum tempo.
E enquanto isso, ontem saiu uma nova reportagem de Jason Schreier para a Bloomberg que afirma que, em sua reta final de desenvolvimento, Cyberpunk 2077 passará a ter um período de crunch obrigatório, com trabalhadores devendo trabalhar em um ciclo de seis dias de trabalho por semana. A política vai contra a declaração feita pela própria chefia da CD Projekt RED em maio de 2019 para Schreier - quando o jornalista ainda estava no Kotaku -, onde na época foi afirmado que o projeto "não teria uma carga de horas extras obrigatórias a seus funcionários".

A reportagem de Schreier cita então tanto um depoimento de um funcionário quanto um email enviado pelo chefe do estúdio, Adam Badowski, ao resto da equipe após o processo de certificação com a Microsoft e Sony, informando que o trabalho extra deverá ser feito para corrigir o maior número de bugs e problemas até o lançamento do jogo, em 19 de novembro. "A partir de hoje, o estúdio inteiro está em sobrecarga", diz a mensagem, o que significa que funcionários deverão dedicar "sua carga de trabalho normal e um dia do fim de semana." "Eu me presto para receber toda a reação negativa pela decisão", escreveu Badowski. "Eu sei que isso vai na direção contrária do que falamos sobre crunch. Também vai na direção contrária do que eu passei a acreditar já faz algum tempo - que o crunch nunca deveria ser a resposta. Mas estendemos todos os outros jeitos possíveis de navegar a situação."

Como até passado aqui, o tópico do crunch e o ritmo de trabalho abusivo na indústria de games tem tomado força nos últimos anos, especialmente após uma reportagem sobre Red Dead Redemption 2 e sobre essa cultura de trabalho da Rockstar. E em 2020 mesmo, um principais lançamentos do ano, The Last of Us Parte II, foi duramente criticado pelo crunch e ambiente de trabalho pesado e cansativo presente na Naughty Dog, e com um ex-funcionário citando que o estúdio "deve muito aos fundos da Sony", que são quem financiam os atrasos de seus jogos.

Por: Riptor

Fonte: The Enemy

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