domingo, 13 de setembro de 2020

Recomendação #7 - A Caça (2012)

A necessidade do "Consenso Imediato"


Já faz um tempo mesmo que eu não faço algo pra essa tag de recomendações, por m motivos. Seja por eu priorizar a minha atual Fic em andamento, pelas notícias, ou por, simplesmente nesse caso, qual filme escolher. Mas, cá estamos, com um que eu vi já faz um tempo de forma totalmente não intencional, enquanto procurava algo para assistir, e que, na verdade, eu já queria falar sobre aqui há um tempo mesmo. Senhoras & Senhores, vamos falar de "A Caça", e principalmente, do que ele passa.


Lançado em 2012 no Festival de Cannes (e no começo de 2013 nos cinemas, ao ser dirigido por Thomas Vinterberg), A Caça se ambienta em uma pequena (e geralmente parada) comunidade onde todos os seus moradores praticamente são no mínimo conhecidos. Com isso em mente, a trama se concentra em Lucas (Mads Mikkelsen), que após passar recentemente por um momento meio complicado (envolvendo um divórcio), passa seu tempo agora como professor de uma creche, e é bem visto por todos, o que inclui principalmente as crianças dali. De "bônus", o protagonista conseguiu a guarda do filho Marcus (Lasse Fogelstrøm), no qual ele está ansioso para rever graças à uma visita que o jovem fará à ele, por conta do Natal.
E enquanto o filme apresentava esse quase literal "mar de rosas" do protagonista, que vive realmente algo que a maioria gostaria (lembrando: eu nem tinha ideia do que o filme se tratava), nem é preciso dizer que, pelo menos com base no nome do longa, alguma coisa aconteceria para aquilo se quebrar tão rapidamente quanto um copo de vidro. No caso, não com um assalto, não com um assassinato, nem nada do tipo: a desgraça de Lucas começa exatamente do próprio trabalho, na forma de Klara (uma das garotinhas que frequenta aquele lugar), e que é filha do seu melhor amigo, Theo (Thomas Bo Larsen).
E assim...não é que a garota odeie Lucas, pelo contrário: ela, assim como as outras crianças, vai com a cara dele. No entanto, como estamos falando de uma criança que ainda não entende muita coisa no mundo (a famosa inocência infantil), ela confunde seus sentimentos pelo professor e tenta beijar o mesmo, e com Lucas tendo de explicar a ela que só se deve fazer isso com "mamães e papais", e que ela deveria dar atenção aos meninos de sua idade. A história poderia assim ter sido encerrada ali....se não fosse o fato de Klara, confusa, resolve repetir à diretora da creche uma frase que ouviu dos irmãos - e que por consequência, faz com que Lucas seja falsamente acusado de ter abusado sexualmente da criança. Algo que coloca a cidade inteira contra ele, e que o fará conhecer, dentro de seu mundo ao menos, o que é a definição de Inferno na Terra.


Eu acho que nem preciso dizer que pedofilia não é um assunto muito agradável de se comentar sobre. Mas, racismo também não é. Preconceito com gays também não é. Nazismo também não é. Você não pode escapar desse tipo de assunto, e livros, games, séries e, no caso aqui, filmes, sabem disso. E entre aqueles que decidem se abrir pra isso, há claro aqueles que conseguem falar desses temas melhor que outros. E esse, é um daqueles casos positivos (ainda que não demore muito para se perceber), que não é apenas o termo de pedofilia em si que é o foco desse filme. A primeira peça do seu diretor é justamente o que ocasiona os olhares tortos: o peso da acusação.


Não é muito necessário eu dizer aqui que pedofilia não é só um crime, como algo a ser denunciado, até para evitar que aquilo continue. Ao mesmo tempo, denunciar e (como eu gosto de dizer), "cravar" algo na base "apenas" de um aparente sinal, também tem suas consequências gravíssimas, ainda mais em tempos polarizados. Algumas vezes, uma mera e específica aproximação amigável, e sem nada além disso entre um adulto (seja ele dá família ou não) e um menor de idade já pode ser o suficiente para alguém interpretar da forma mais distorcida que bem quiser. E a coisa piora quando a inocência da "vítima" acaba descrevendo algo de uma forma que essa pessoa nem tenta analisar (ou melhor), procurar alguém para realmente o fazer. Em outras palavras: a polícia.
Ainda assim, há claro esse tipo de doente sexual que pensa desse jeito, se aproveita dessas situações "sem nada demais", amizades com os pais e coisas do tipo, para justamente, aos poucos, conseguir o seu execrável objetivo. Isso não é totalmente desconfiança excessiva, e sim pensar no óbvio. O roteiro do filme pensa exatamente assim, o que faz com que a situação de Lucas (algo que Mikkelsen passa muito bem, ao ser obviamente O destaque no filme no sentido de atuação) fique cada vez mais apertada, como se ele fosse quase que um rato de laboratório em um labirinto.


Ele sabe o que realmente aconteceu, mas parece que ninguém se "arrisca" a colocar em dúvida se a tal acusação realmente poderia ser apenas um mero mal entendido, já que "criança não mente". E mesmo quando a própria Klara (que não chega a ser realmente alguma espécie de "vilã" ou alguém que daria pra eu apontar o dedo) tenta consertar o estrago que fez, falando que ele não fez nada, a sua mãe apenas acha que a garota está, agora, em um "estágio de negação". Essa cena específica, a propósito, explora especialmente isso, quando Lucas vai a casa de Theo, seu dito melhor amigo, para tentar explicar a real verdade, e com o mesmo não sabendo em quem acreditar: em Lucas, ou na filha. Já sua mulher, aceita sem pensar 2 vezes, de corpo e alma, que está agora vendo um monstro dentro da própria casa. Uma amizade é assim, destruída ao vivo (e a atmosfera), cada vez mais entra em um clima de desespero, e de tons escuros.
A Caça, dessa forma, trabalha toda "caça à bruxas" ao protagonista de uma forma objetiva: "Ele fez". Não há um Lucas tendo de confessar diversas e diversas vezes que não fez aquilo para a polícia, ou muita coisa que pudesse ser equivalente a isso. A cidade inteira, que deixa cair para todos verem como a ordem ali é facilmente quebrável, rapidamente "tenta" se reconstruir na base do consenso público, e que faz com que todos ao redor de Lucas sofram as consequências disso. Não entrarei em spoilers, mas para quem me conhece e já sabe um certo acontecimento que eu tive de passar, ao assistir ao filme, talvez já imagine qual cena eu estaria usando de exemplo quanto à isso. É uma cena realmente triste.
No fim das contas, A Caça não é apenas um filme que aborda um assunto polêmico, mas sim como o mesmo pode ser destrutivo justamente para quem, assumidamente, não fez nada. O que entra no assunto do fato das pessoas, a maioria delas, gostar de um consenso imediato, e necessitarem de um rapidamente. E se você entrar em dúvida sobre um assunto, especialmente um como esse, as pessoas já irão querer dizer que você está acobertando um monstro, ainda que esqueçam que alguns dos mais revoltantes provados prova por prova, sejam diferentes de um "Caso Lucas" que, precisa, como todos, ser levado a fundo, ser julgado, e provado para mostrar se, no fim das contas, aquilo tudo era só mesmo um mal entendido, ou não.


E até mesmo quando a situação se acalma sozinha e é "jogada para debaixo do tapete", o próprio filme deixa claro que, no fundo, NADA volta a ser realmente como era antes. Pois agora, o falsamente acusado será eternamente taxado como uma raposa, em uma matilha de lobos.
Por: Riptor

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