domingo, 28 de agosto de 2022

CINESCÓPIO #12: SAMARITANO


Estaríamos diante do melhor filme de 2022?


Pois bem, já que vocês toparam a ideia, resolvi assistir Samaritano, novo filme de Sylvester Stallone. Deixei minhas impressões abaixo e espero que apreciem o texto. 

FICHA TÉCNICA

Elenco: Sylvester Stallone, Dascha Polanco, Javon Walton, Natacha Karam, Martin Starr, Pilou Asbaek
Diretor: Julius Avery
Fotografia: David Ungaro
Roteiro: Bragi F. Shut
Onde Assistir: Amazon Prime

Sinopse: Sam é um garoto de 13 anos que mora em Granite City com sua mãe. Ele é obcecado com a possibilidade do herói Samaritano, que morreu em batalha com seu irmão Nêmesis, ainda estar vivo e descobre um mundo novo de possibilidades quando percebe estar certo ao ver que seu vizinho Joe Smith é o homem que esteve procurando.


CRÍTICA

Num filme em que você conta com Sylvester Stallone como produtor, se você conhece o mínimo da sua filmografia, é fácil saber o que vai encontrar. Talvez este não seja o problema, afinal, o ator/diretor/roteirista/garanhão italiano projeta filmes para a sua bolha de fãs desde que ganhou notoriedade com Rocky Balboa. É justo, afinal, se você paga as contas sempre cozinhando feijão com arroz, por que querer incrementar?

O grande “senão” de Samaritano, na verdade, passa pela sua absurda preguiça. Desde o CGI artificial e inicial contando a história do herói homônimo e seu irmão vilão, alguns fundos verdes atrozes e o gráfico à lá PS4 no rosto rejuvenescido do Sly. Tudo isso é nitidamente limitado, afinal, foram apenas 40 milhões de dólares de orçamento (não se preocupe com este número porque vou citá-lo mais algumas vezes). É falso, é qualquer coisa, é fraco, é desperdício. Há feitos melhores em qualquer outra produção um pouco mais cheia de esmero e com menos orçamento. Distrito 9 foi feito com 30 milhões, teve muito mais efeitos, e até hoje impressiona com o resultado. Isto faz de Samaritano uma produção que nasce velha e vai ficando ainda mais anacrônica à medida que o longa metragem se desenrola.

As cenas de incêndio são irascíveis e a noção de simbologia se perde facilmente. As lutas demoram a convencer (e quando convencem, é tarde demais), o que é contraproducente já que o filme conta com roteirismos e história apressada para apresentar tudo o que você precisa saber para ver Joe Smith em cena. Afinal, é para isso que você vai assistir o longa, certo? Quem se importa com a vida difícil de uma criança de 13 anos num filme que conta com Sylvester Stallone como protagonista? Porque mostrar de maneira alongada a vida humilde das pessoas se temos um herói esperando seu momento de ser um herói? A história cria muita expectativa de si enquanto é sem muito conteúdo. Em suma, é um filme que se leva a sério demais sem elementos para tal e sem desenvolvimento necessário.

                           

Por isso mesmo o roteiro é tenebroso. As coisas não tem muitas explicações lógicas, enquanto tentam parecer orgânicas. As motivações não tem uma origem definida e é tudo “é porque é”. O filme até arranha algum paralelo da vida difícil do personagem-mirim e traça algumas suaves conjecturas indiretas sobre o escapismo dos super-heróis, mas ao confirmar que ele prossegue vivo, a situação, que poderia trazer algo de mais trabalhado, simplesmente é deixada de lado sem a menor vergonha e perde camadas. Pontos de interesse são jogados à revelia da inteligência do espectador. Uma hora os personagens que se gostam, se desgostam sem um motivo concatenado. Personagens sem vínculo algum de repente se aconselham, sorriem e tentam parecer muito próximos. A linha que liga sentimentos às suas causas e consequências são pouco trabalhadas e não dá pra criar empatia por qualquer um ali. A chance de você terminar o filme sem se lembrar do nome do menino é grande. Não que seja um filme poluído, mas é excessivamente autoindulgente, o que de certa forma o faz cheio de momentinhos voláteis e dispensáveis. Lembremos que o roteiro é de Bragi F. Shut (e posteriormente adaptado pelo mesmo), que já fez coisas ruins como dois filmes de Scape Room e Caça às Bruxas, então, não esperemos milagres mesmo que a esperança seja a última que morra em alguns casos.

Estes argumentos iniciais que citei culminam em um dos mais evidentes fracos do filme, que é a química entre os atores. Com personagens caricatos, não servem como paródia, mas sim como exacerbações. Tudo é (falsamente) expansivo aqui. Expressões, atitudes e relacionamentos. Cada ponto tenta ser importante dentro do núcleo, mas não serve ao todo. Isto afeta como Jason Walton dá vida a Sam, com pouco brilho e com uma relação sem vinculação emocional alguma com sua mãe, interpretada por Dascha Polanco. O mesmo posso dizer sobre o vilão de Pilou Asbaek e sua relação forçada com a personagem de Natacha Karam. Notem que não me prendo muito aos nomes dos personagens aqui e isto é proposital. Os nomes aqui, mesmo sendo repetidos à exaustão, pouco contam. Não marcam, não tem identidade. Eles não são nada além de ideias que servem de base para que o nome Samaritano, este sim importante, seja dito tantas vezes que enjoe e crie uma falsa simetria entre moralidade e apatia dos cidadãos de Granite City. Isto é tão evidente que basta apenas um discurso histérico do vilão Cyrus para que as pessoas ajam feito arruaceiros. Lembram daquele discurso sobre pessoas de bem não se dobrarem diante do mal em Cavaleiro Das Trevas de Nolan? Esqueça isso aqui. Aliás, já que estamos focando em coisas ruins do filme, vamos falar de Sylvester Stallone agora. Tome seu Rivotril.

Se por um lado eu defendo que artistas façam o que sabem, por outro não gosto de confundir isso com piloto automático ou indolência. Há atores e atrizes que fazem isso a vida toda e entregam um trabalho bom a maior parte das vezes. Vejam o exemplo de Joe Pesci, Arnold Schwarzenegger, Danny DeVitto e Sandra Bullock. A frequência da atuação é quase sempre muito parecida e ainda assim, há bons momentos. Tenho certeza que para muitos, o que Sylvester Stallone apresenta neste filme é o suficiente simplesmente pelo argumento de “ele sempre atuou assim”. De fato, o ator, raríssimas as vezes atuou fora dos contextos, mas o problema é que ele prossegue piorando na atuação. Posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes ele expressou emoções durante 1:42h de filme e ainda assim sobram dedos. O roteiro, nitidamente feito para parecer um filme do Sly com falas do Sly tem muitos momentos ruins com linhas de diálogos semelhantes com Falcão: O Campeão dos Campeões com frases de efeito oportunistas sempre que pode, só que de maneira menos crível. E sim, no caso dos longas de Stallone há momentos que isto cabe. E cito novamente a franquia Rocky que é recheada de momentos assim porque a história é, em sua síntese, movida por superações do protagonista (aliás, preciso reassistir o VI pois é um ótimo filme). No caso de Samaritano, a autoajuda está lá porque é um filme de Stallone e só. Incrivelmente, o único momento real de superação do jovem Sam acontece sem qualquer interferência moral do personagem-título. Sinceramente, é sabido que Sly se vale de personagens limitados porque, em tese, ele, igualmente limitado, tem presença suficiente e carisma construído através de personagens reativos (aqueles que precisam que algo aconteça para agir e resolver conflitos). Isto é o suficiente aqui? Depende. Você está disposto a reduzir sua experiência de filme a esse tipo de coisa? Se sim, vá em frente porque Samaritano pode lhe satisfazer. Se não, há outras coisas melhores para assistir porque nada do que está lá é novo, apenas reciclado e é possível até prever as viradas de roteiro se você prestar atenção em certas importâncias aqui e ali em comparação com os diálogos hiperbólicos que valorizam a importância do falecido herói.  

                          

Ainda assim, vamos ser justos, há pequenos momentos que são ok. As revelações são divertidas (ainda que previsibilíssimas), a fotografia usa bem as cores neutras para justificar um tom frio e chuvoso em um lugar chamado Granito (a correlação é tosca e evidente, mas é boa), mesmo todas as vezes que as cores fortes aparecem sejam um enorme fundo verde falso e limitadíssimo. O início de desenvolvimento é promissor, ainda que se perca depois de 20 minutos de filme.

Isto posto, Samaritano é um filme que se aproxima do patético tentando se levar a sério mas com atores engessados, um Sylvester Stallone que se diverte (afinal, é um filme com a visão dele. Burro se não se divertisse), um roteiro aparvoado cheio de facilitações narrativas e um final ridiculamente abrupto. Não convence, parece querer te mostrar o tempo todo como não é ruim e falha miseravelmente. Teria sido melhor se fosse mais violento? Duvido muito, porque os problemas estão além disso. Se aproxima do constrangedor. Não é, mas chega muito, mas muito perto. Todavia, é inegavel como Stallone ainda mexe com o imaginário coletivo, portanto veremos muitos fãs elogiando esta pequena atrocidade da sétima arte simplesmente pelo peso do nome do ator.

NOTA: 2,4

Então é isso. Espero que tenham gostado. 
Até a próxima. Abraços


SaitamaSenpai

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