Você já imaginou o que aconteceria se Sr. & Sra. Smith tivesse um filho com Pequenos Espiões? Bem, eu também não (mas eis que alguém decidiu mostrar ao mundo), o mais próximo que teríamos dessa resposta, na forma de Spy x Family. Baseado na obra de Tatsuya Endo (que começou a ser publicada em 2019), o anime se tornou rapidamente uma febre, e um dos grandes destaques da nova leva de 2022. Até por isso, é no mínimo difícil que a esse nível do campeonato, alguém que acompanha sobre esses assuntos, não ao menos tenha ouvido falar sobre esse aqui. Mas, estamos aqui pra isso, não é mesmo? Será que esse mereceu de fato todo esse alarde?
Mas antes de mais nada, é bom ressaltar: diferente dos outros animes que eu já comentei aqui, Spy x Family teve a sua temporada de estreia dividida em 2 partes. Com isso, esse post se concentrará na 1° Parte (que engloba 12 episódios), já que no momento que ele foi feito, a 2° Parte (englobando os 13 episódios restantes) ainda estava sendo lançada.
Na trama, acompanhamos Twilight (um espião considerado um verdadeiro exemplo dentro da chamada WISE), organização do qual o mesmo é conectado, como parte dos esforços para impedir uma potencial guerra envolvendo os países Westalis e Ostania, por parte de extremistas. Em sua última missão recebida, o mesmo é encarregado de investigar o político Donovan Desmond, através de uma infiltração na escola do seu filho, na forma da prestigiosa Eden Academy. Mas para isso, o espião terá de se envolver em algo muito mais complexo, até mesmo para ele: se casar, ter um filho e, com isso, uma família para manter as aparências, se quiser ter sucesso.
Com isso (agora sobre o nome de 'Loid Forger'), ele rapidamente apadrinha Anya, uma órfã para papel de uma filha de seis anos, e possível estudante na Eden, além de acabar fazendo um acordo com Yor Briar como sua esposa, uma funcionária de escritório distraída que também precisa de um parceiro falso para impressionar seus colegas. Mas é claro, que as coisas não poderiam ser tão fáceis assim, já que não demora nada para ser demonstrado que Twilight não é o único com seus próprios segredos: Yor é na verdade uma assassina, onde casar-se também cria para ela um disfarce perfeito para continuar seus serviços, enquanto que Anya não é exatamente uma menina comum, e sim um produto de experiências secretas, que lhe permite ler as mentes das pessoas. Até por conta disso, ela logicamente descobre a verdade envolvendo seus pais adotivos, mas decide simplesmente não contar a verdade, após ficar deslumbrada com isso. O que acontece a seguir, é digno de ser dito abaixo:
• E eu nem estou sendo irônico dessa vez
Por mais que haja essa questão da missão, e de garantia da paz entre 2 nações, isso acaba sendo apenas um pano de fundo para o real alvo do anime: ser uma comédia. Você já viu o 'modo normal' desse tipo de história inúmeras vezes, o que faz com que os envolvidos saibam se aproveitar ao invés disso de uma dinâmica que é, sem dúvidas, o que faz com que isso não pareça simplesmente derivativo. Todos os 3 dessa família de mentirinha tem o que ganhar com sua união, e mesmo com segredos à parte, isso resulta de fato num trabalho em equipe em nome de manter as aparências dos Forgers, mesmo em situações onde seria bem difícil disso ocorrer, em situações normais. Aliás, essa questão é outro elemento bem usado aqui.
Acho que o melhor exemplo que posso dar, sem entrar muito a fundo também para evitar spoilers, é quando Loid decide pedir Yor em casamento...em meio à uma fuga de ambos de inimigos armados do próprio Twilight (que, vale dizer, se diz ser um psicólogo) e que aqueles eram 'clientes' dele. No meio disso, a própria Yor (sempre se demonstrando simpática e contida) demonstra então suas habilidades de combate para se defender, dizendo que tinha aprendido isso 'em um curso'. Especialmente no primeiro caso, um cenário absurdo para alguém comum acreditar na desculpa dada, mas que entra na grande questão: ambos estão tão focados em seus objetivos, e em preservar os próprios segredos (e tendo o que ganhar mantendo aquilo), que acabam 'aceitando' essas desculpas mesmo assim, por um bem maior. Com isso, o próprio anime ganha a justificativa perfeita para poder brincar com situações como essa, sem se preocupar se o público poderá questionar se os próprios personagens não questionam o que está acontecendo. No fim do dia, primeiro as aparências, depois as desculpas. Brilhante.
E naturalmente que os próprios protagonistas tem um papel fundamental para que casos como esse funcionem. Loid segue de início a linha típica de espião frio, focado em realizar sua tão cobiçada missão, mas que acaba se encontrando pela primeira vez em muito tempo, em um cenário imprevisível de ser simplesmente um marido e, em especial, pai. Como o próprio diz à si mesmo, ele nunca se viu tendo uma família, e ainda que de fato sua missão seja o que o guia essencialmente, aos poucos vemos o personagem de fato demonstrando um apreço por aquilo. Yor, naturalmente mais simpática, também passa pelo mesmo processo, onde mesmo uma assassina desde muito jovem, se vê de fato sem jeito e envergonhada com coisas 'simples', como certos comentários dela simplesmente não ter arrumado até então alguém, por parte das colegas de emprego (oi, Camilla). Ao mesmo tempo, ela se mostra uma mãe dedicada, disposta a de fato fazer o que pode para defender sua família improvisada. E coloque bastante ênfase nisso.
As Muitas Faces de Anya |
E é claro, que não podemos esquecer dela, que não foi adotada somente por um espião, mas rapidamente pela própria internet: Anya Forger. O que dizer (sendo que eu mesmo), fui começar a assistir esse anime, justamente por causa dessa coisinha. Mas de fato, além do próprio modelo de personagem fofinha, a garotinha telepata pode ser considerada o coração de Spy x Family. Ainda que com uma ciência não totalmente exata da real realidade envolvendo seus pais, Anya se mostra disposta a ajudar Loid (como planejado) com seus objetivos, ainda que isso muitas vezes não aconteça com muito sucesso, o que gera grande parte do humor da história. Estamos falando literalmente de uma criança de 6 anos na verdade menos que isso, numa mentira para que o próprio Loid a adotasse simplesmente querendo ser uma criança, após ter sido criada simplesmente para ser uma cobaia de laboratório. A personagem até mesmo protagoniza um dos momentos onde a obra demonstra sua também presente porcentagem de drama, envolvendo sua verdadeira mãe, e ao mesmo tempo, seu real papel naquele trio, além de missões e interesses à parte: mantê-los juntos.
Como se não bastasse, alguns personagens secundários também conseguem o seu espaço, como Franky (amigo e informante de Loid), o exigente professor da Eden Academy, Henry Henderson (apresentado com o bom exagero incorporado) e o irmão mais novo de Yor, Yuri, que também acaba tendo seus próprios segredos guardados revelados ao público, o que naturalmente gera mais confusões à vista para essa família. A animação, fruto da parceria entre WIT Studio (Vinland Saga) e CloverWorks (Fairy Tail) é ótima, assim como a trilha sonora, que se adequa bem as situações que se encontra. Por fim, a dublagem, sem nada a reclamar (e destacando como não poderia deixar de ser) o próprio trio protagonista, com as vozes de Guilherme Marques, Maíra Paris, e Nina Carvalho.
No fim das contas, a 1° Parte de Spy x Family entrega justamente o básico que, nem por menos mérito, explica simplesmente o seu sucesso. Sem grandes megalomanias, sem personagens super poderosos, ou coisas do gênero: simplesmente uma história leve & divertida, e que mais importante do que isso, conta com carisma ao seu redor. E que apesar de tensões de países, espiões e assassinos, é em primeiro lugar sobre uma família disfuncional que, mesmo feita à toque de caixa por um de seus próprios membros, parece que foi de fato feita para ser assim.
Afinal, tudo pela missão, certo?
Então é isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!
Por: Riptor
Nenhum comentário:
Postar um comentário