Sabe aqueles projetos que são anunciados sem grande alarde, mas que de repente por alguma coisa (como um trailer), acabam te interessando? Esse foi o meu caso com '65'. Postei o trailer na época aqui com certa surpresa, quando percebi que ao invés do batido "ficção científica com aliens", alguém teve a idéia de fazer algo que eu já queria que ocorresse: porque não fazer um filme de terror/suspense com dinossauros? Melhor, porque não fazer mais filmes com dinossauros? Afinal, isso também nunca sai de moda.
Com isso em mente, para quem possa ter esquecido ou não visto, temos uma premissa simples, mas que seria eficaz: Mills (interpretado por Adam Driver) é um piloto que aceita uma expedição espacial de dois anos para ganhar dinheiro para ajudar a tratar a doença de sua filha, mas algo dá errado (obviamente), e ele acaba parando em uma Terra pré-histórica, juntamente com Koa (Ariana Greenblatt), uma menina que não fala sua língua, e que foi junto com ele a única sobrevivente do acidente da nave. Agora, a dupla precisa chegar a outro ponto daquele lugar para chegar a nave reserva de resgate, para assim conseguirem voltar para casa.
Como vocês podem ver, nada de realmente novo: filme de sobrevivência, com personagem estando em um local isolado e perigoso, acompanhado de outro personagem que ele precisa proteger, com ambos tendo de cooperar juntos se quiserem viver. E não teria nada de errado com isso, afinal, as vezes melhor um simples arroz com feijão bem feito, do que algo maior e problemático. Ou ao menos era assim que a dupla de roteiristas Scott Beck & Bryan Woods, impulsionados em Hollywood após o sucesso de 'Um Lugar Silencioso', poderiam ter pensado ao estarem agora também na direção. Eu até poderia avisar que eu vou acabar soltando pequenos spoilers, aqui, mas a verdade é que 65 é um filme que não tem muito a esconder, e nada que realmente possa fazer você se importar tanto. Então dito isso, eu já avisei de toda forma.
Você pode ter reparado que quando eu falei da sinopse, eu não citei "viagem no tempo", certo? Afinal, se estamos com um protagonista com uma nave futurista, caindo em uma Terra pré-histórica, é lógico pensar que essa seria a justificativa....mas não. O protagonista vive em outro planeta, até aí nada de muito estranho, a tal expedição dele duraria 2 anos...o que faz com que ele chegue e caia na Terra, exatamente a 65 milhões de anos. Ou seja, o filme meio que estampa de forma bem evidente que a civilização do protagonista com certeza não é humana. Ai você pensa: "Bom, acho que seria bom explorar isso então".
E essa seria a resposta do filme, seguida de um "isso não interessa". Ai eu te pergunto: pra que complicar, se é pra ser "tanto faz"? Você podia usar a desculpa de que ele é mesmo do futuro então, tem um erro na nave, ou sei lá, um buraco de minhoca, transporta ele pro passado...sabe, acho que o pessoal que queria ver esse filme não ia ligar muito pra essa parte, mas por algum motivo, a dupla de roteiristas quis fazer algo que nem eles quiseram trabalhar em cima. O máximo desse ponto são alguns flashbacks envolvendo a filha do protagonista, mas é um negócio realmente tão tanto faz, que é o mesmo que nada.
Adam Driver está claramente deslocado aqui. A culpa não é nem dele, vale dizer, já que ele leva o filme a sério, e tenta trabalhar com o que tem disponível. Talvez o problema seja realmente que seu personagem aqui poderia ser qualquer um em seu lugar, que não faria diferença, já que o filme parece não ter tempo suficiente para fazer você se importar com ele, com sua sobrevivência, e com seu drama envolvendo sua filha. Alguém poderia dizer que a duração de 1H30 pesaria nisso, e talvez, mas quando você lembra que o primeiro Um Lugar Silencioso (roteirizado por uma dupla Beck & Woods mais inspirada) tinha exatamente essa duração, não há muita desculpa. Além disso, a presença de Koa, que basicamente só serve para colocar o personagem de Driver em apuros, a não ser em uma cena justamente nos finalmentes, fez apenas com que eu pensasse que a personagem de Greenblatt nem precisaria estar nesse filme. Afinal, ela não acrescenta em absolutamente nada, e a própria dinâmica de comunicação por ela não falar a mesma língua que Mills, logo é deixada em segundo plano.
Mas ok, vamos ao que você deve realmente estar querendo saber, principalmente se já sabe como eu sou: e os dinossauros? Bom, antes de mais nada, é justo dizer que esse não é um Jurassic World da vida (ou seja, um blockbuster), tanto é que foi produzido com base em um orçamento de "apenas" US$ 45 milhões. Logo, não é justo tentar fazer alguma comparação direta...o que também não significa que você deve se sustentar apenas nisso. Diretores de terror/suspense estão acostumados a trabalhar com orçamentos mais modestos, e aqueles que se destacam conseguem fazer isso não ser uma desvantagem. Novamente, mas é inevitável não mencionar o trabalho mais famoso da dupla de roteiristas envolvida, quando você lembra que Um Lugar Silencioso foi produzido com apenas US$ 17 milhões. Passos, sombras macabras, pegadas, sons, alguma coisa embaçada se aproximando, pequenos vislumbres de dentes, garras, olhos e, quando finalmente for necessário, a aparição inteira. Muitas vezes a maior de um bom suspense é justamente não saber exatamente o que está ali, do que ter uma idéia real logo de cara. Afinal, temos medo justamente do que não conhecemos. Nesse caso, são dinossauros, mas qual tipo? Como eles são? O que é prudente fazer em determinada situação? Ou o melhor seria não fazer nada?
O máximo que 65 "possui" disso, é proporcionado por um jumpscare rápido. Não há construção de tensão, não há realmente medo que os envolvidos aqui poderiam se orgulhar. Igual a um fóssil, há apenas vestígios do que deviam ser essas tentativas, mas que quando aparecem em tela, você vê apenas isso (e pode ter certeza), que orçamento não é a desculpa. Ao menos, o CGI (ainda que com ressalvas mais para o final) é decente, quando as criaturas aparecem, ainda que eu também tenha de dizer um ponto quanto à isso. Ao invés do subtítulo brasileiro de 'Ameaça Pré-Histórica', esse filme podia se chamar '65: Show de Horrores'.
Se alguém puder me dizer o que deveria ser isso, eu agradeço |
"Mas como assim Riptor, você não falou que o CGI não era ruim". Eu não estou falando de horror de CGI, e sim que tirando 2 espécimes, e uns Pterossauros (desculpe estragar sua infância, mas Pterossauros não são dinossauros), não há dinossauros aqui, e sim alguma outra coisa. O que seriam ums dos primeiros inimigos mesmo (da imagem um pouco mais acima desse post), parecem crocodilos estranhos, há também algum erro evolutivo que faria Charles Darwin se revirar do túmulo, e que parece um dinossauro híbrido de Jurassic World (mas obviamente sem a justificativa de modificação genética), e o que era pra ser um T-Rex. E sinceramente, o Tiranossauro de 65 deve ser a maior aberração envolvendo dinossauros que eu vejo em um filme em anos, só faltava ele estar correndo atrás do Adam Driver com a cauda arrastando no chão, como em um filme com dinossauros dos anos 40. E antes que eu me esqueça, claro, tem o fator meteoro em rota de colisão iminente, que é apresentado lá pros finalmentes, e é completamente anti-climático.
No fim das contas, 65 é um filme que começa, tem alguma coisa no meio, e então termina da mesma forma que começou, com o público olhando pro céu. O que poderia ser um bom filme de sobrevivência simples, e um suspense interessante, encabeçado por um ator que claramente merecia mais do lhe foi realmente dado, é ao fim do dia um longa que complica o que não precisava complicar (sendo que na prática isso não faz diferença nenhuma), e que não constrói nada mais para se sustentar além do fato já usado no marketing, e nem isso chega perto de ser o suficiente para mascarar que alguém aqui teve realmente uma ótima idéia. Mas como diria o bom & velho ditado, de boas idéias o inferno está lotado.
Por: Riptor
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