- Sim Tia, já resolvi.
- Obrigado Pedro. Bem, você me disse que não teria aula hoje, então pode ser que eu ainda precise de uma ajuda sua mais tarde.
- Se for o caso, é só chamar, que o pai resolve.
- [Riso] você e suas tentativas de gírias. Só não vai se atrasar.
Já era o período da tarde indo para a noite naquele momento. Pedro havia resolvido alguns pedidos feito por sua tia, antes de estar como se encontrava no dia anterior, sem grandes preocupações, e novamente trajado. Dirigiu sua atenção a continuar seu caminho, enquanto atendia outra ligação, agora de Michael.
- Ah professor, como vai?
- Bem, dentro do possível. Pensei em entrar em contato agora, já que não o fiz durante o dia da excursão.
- Ah sim. Ouvi dizer que o senhor iria com a gente, mas houve alguma coisa?
- Na verdade, não. A faculdade chegou a me indicar para acompanhar a turma, mas eu me vi tendo de recusar.
- Se não for incômodo, poderia me dizer porque?
- Não se preocupe com isso, Pedro. Digamos...que eu não sou um grande entusiasta daquela empresa, em alguns pontos. Nada demais.
- Entendo.
- Ainda assim, imagino que tenha sido divertido.
- Ah sim, foi interessante. Eu…
(0:04)
- Ah, acho que vamos ter de continuar essa conversa depois
- É o que eu estou pensando?
- Se você pensou numa aranha, acertou na mosca.
Assim, o Homem-Aranha se dirigiu ao local de origem do barulho dos alarmes. As pessoas presentes já haviam se retirado rapidamente, e não demoraria para ele notar o motivo.
- Não creio, o zoológico já reabriu da reforma, e eu não tô sabendo?
- Ai está você, dizia Rino. O mesmo continuava desferindo golpes contra os carros estacionados ao seu redor.
- Hey, você nem sabe se essa gente tem seguro cara! Que tal se focar no seu outro hobby?
- Hum..[riso]. Você?
- Pelo visto vai ser o jeito. Na verdade, curioso em como você escapou, sem nenhuma reportagem sobre. Não é como se um cara grande como você fosse sutil.
- Sutileza não é forte do Rino mesmo, dizia ele, ao bater violentamente contra um táxi.
- Realmente, até voltou com a armadura de transformer. Pelo visto você se sup..erou.
[Pedro] - Ah, Marcos, que coisa...
- Há quanto tempo, não acha?, dizia o Escorpião, ao estar posicionado em uma parede próxima a Rino.
- Talvez dê pra imaginar como o Rino escapou agora.
- Isso seria um elogio?
- Não chega a tanto.
- De toda forma, eu não vim aqui por isso [ele coloca sua cauda para frente]. Digamos que eu consegui alguns ajustes, pra hoje.
- Muito bem, dois contra um. Só acho que o Beto vai ficar triste com você grandão, pensei que vocês fossem uma dupla inseparável e....
- O q..
[Rino sorri] - Ele não parece triste pra mim.
[Mysterio] - Não diga isso, brutamontes, você sabe como nosso amigo Aranha nos conhece. Até porque, eu ficaria realmente triste se ficasse de fora disso.
Nesse momento, Pedro já se sentia inquieto. Não tirava seu olhar de nenhum deles, mas ainda não pretendia fazer algum movimento. Ele precisava ter uma idéia de mais alguma coisa antes de fazer isso, enquanto ouvia atentamente ao redor.
- .......Acho que você ainda não conseguiu controlar o barulho das faíscas, Max.
- É, acho que eu ainda preciso treinar, respondeu Electro de forma sarcástica. O vilão saiu das sombras do outro canto dali, ao se juntar aos outros.
- Acho que já podemos ir pra parte onde eu chuto os traseiros de vocês, e levo vocês quatro de volta pra cela.
[Marcos] - Você disse....quatro?
- Ah qualé, chega de joguinhos, eu..
Nesse momento, Pedro ouviu um barulho de uma arma recarregando. Seu olhar se virou lentamente para onde ele tinha vindo, em cima de um prédio próximo. Lá se encontrava o motivo, posicionado, e com o mesmo em sua mira.
- Kraven
'Eu posso não ver o seu rosto, garoto. Mas consigo imaginar o que está se passando na sua cabeça. O seu tom de voz se alterou, não foi?', pensava o caçador em sua mente. 'A agressividade é um sistema natural da presa para aliviar a própria tensão. Não seria diferente agora. Ah, olhando assim, por essa mira, você nesse estado, no alvo....parece tão fácil'.
'Mas se fosse, nenhum de nós ainda estaria aqui'.
Ao contrário dos outros, Kraven não tentou provocar o herói naquele momento. Seus olhos estavam devidamente fixados nele, enquanto seus pensamentos sobre a situação borbulhavam em sua mente. Talvez apenas a sua presença ali, já dizia mais do que sua boca poderia.
- .................A..Argh......Ah?
Um barulho de arranhões prevaleceu naquele momento. Pedro se virou incomodado, focando sua visão em um beco escuro. O barulho continuava em uma frequência menor, enquanto alguém arranhava uma das paredes obscurecidas. Isso se "alguém", fosse um termo certo para se dizer.
- .......Todos eles podem estar há um tempo sem te ver, Aranha. Mas eu diria que eu com certeza estou com mais conversa pra por em dia, não acha?
- ..............Você....
- Eu esperava um pouco mais de entusiasmo da sua parte ao me rever. Mas tudo bem, não é como se eu não imaginasse que deve estar sendo...
- Um momento e tanto.
O herói ficou em silêncio naquele momento, se atentando em especial agora naquele que considerava sua prioridade - mesmo em meio aos outros do qual sabia bem o que podiam fazer.
- Não imaginava que estava propenso a fazer parcerias, Lagarto.
- As vezes, você tem de se adaptar. Além do mais, não vejo surpresa nisso.
- Eu não estou me referindo a ele, e você sabe disso.
- Ainda ressentido por aquilo? Não é como se fosse culpa sua. É assim que a seleção natural funciona.
- Uma coisa como você mais do que todos deveria estar em uma jaula com as chaves jogadas fora.
- [Sorriso] além do mais, eu fiz um enorme favor a ele. Muito diferente de você.
Naquele instante, um helicóptero passou voando por cima de todos, destacando o início da chegada da mídia ao local. Pedro nesse momento aproveitou a distração momentânea para mandar uma mensagem, antes de voltar a posição.
- Se vocês estavam esperando a plateia pra continuarem, tenho uma ótima notícia.
[Max sorri] - Caso eles atrapalhem, eu vou adorar dar um jeito nel...
[Lagarto] - Você não vai "dar um jeito" coisa nenhuma.
- E desde quando você foi taxado como o líder da equipe seu...
Nesse momento, o Lagarto pegou o pescoço de Max, o apertando fortemente na frente de Pedro e dos outros.
- Você deveria saber o que foi falado sobre isso. Mas se for para refrescar a sua memória, Max...talvez eu possa pegar esse cargo, declarou ele, ao solta-lo em seguida. Electro ficou em silêncio, enquanto recuperava o ar. - Mas nosso colega aqui tocou num ponto importante, herói. Ouvi dizer que você já teve umas boas ajudas nesse meio tempo.
- Aonde quer chegar com isso?
- Se com o herói dá certo, porque não tentar de verdade?
- .....Já pensou em um nome, por acaso?
- [Riso]....ah, é mesmo. Não é um time sem um nome, não é? Pensei sobre. Mas não fui eu que tive a idéia, para ser justo.
- Acho que é o seu celular.
[Fernanda] - Ah, é o Pedro. Deixa eu...
"Ligue a TV! Não posso explicar ag.."
Nesse momento, Fernanda rapidamente se dirigiu até a TV, a ligando para ver o noticiário. Não demorou para que ela entendesse.
- Meu...
- Tudo bem, filha?
- Ah, sim pai! Eu só me lembrei que preciso fazer uma coisa fora. Eu só vou buscar algo no meu quarto.
- Ah, tudo bem então.
"Eu preferia quando você me tirava de enrascadas, não o contrário..."
[Pedro] - Você ainda diz que fez um favor a ele. Como aquilo seria um favor?!
- Você vendeu a ele algo que não aconteceria. Eu arranquei essa esperança, deixando que ele visse o que mais importava a ele uma última vez. O que aconteceu depois, ele já não teria de ver.
- ......[O herói só respondia a afirmação com um olhar de raiva]
- Promessas não cumpridas, são tão dolorosas quantos atos, herói. Você deveria saber disso.
- Cala essa boca.
- Na verdade, eu admiro que você ainda consegue manter o seu bom humor típico, como mostrou no início. Mesmo depois daquilo.
- Arg...
- Você consegue dormir toda a noite de consciência limpa, afinal?
- Cala a boca!
- ........Ah, claro que consegue. Você é o herói no fim da história. Independente se salvou ou não quem precisava.
Nesse momento, o herói decidiu avançar com raiva para cima de seu oponente - apenas para ser disparado para outro canto pela sua cauda. O Lagarto apenas se virou em seguida.
- Enfim um pouco de atitude. Vamos continuar a partir daqui. E lembrem-se do que foi falado, rapazes.
- A...
[Marcos] - Não me decepcione querendo facilitar as coisas dessa vez.
O Homem-Aranha revidou a provocação desviando dos golpes, antes de acertar uma sequência. No entanto, o Escorpião consegue responder a isso ao disparar uma substância no chão aonde ele está.
- Mas o q..[antes que o herói termine, o Escorpião o agarra pela cintura com sua cauda].
- Eu bem que disse que consegui uns ajustes, não foi?
- AGH!
Nesse momento, o vilão o gira de um lado para o outro, antes de dispara-lo com toda a sua força. O herói ainda se desvia de um golpe no chão pouco tempo depois, evitando ser atingido por um disparo da cauda do inimigo, que tenta novamente. Desta vez, Pedro segura a cauda para evitar que ela o acerte.
- Arg...a...
Antes que o herói pudesse fazer algum outro movimento, Rino entrou em disparada no meio do confronto, chutando o mesmo para lá. O Escorpião se contenta em sorrir ao ver o golpe.
[Rino] - Acho que já podemos ir pra parte onde eu chuto o seu traseiro.
- Ah...
[Alvo localizado. Preparando disparo em 3, 2, 1...]
[Pedro] - Você só pode tá de brincadeira
[Rino] - Boom!
Pedro rapidamente escapa dali para evitar o disparo do míssil, que causa uma grande explosão ao redor. Ainda que eles não fossem uma novidade para Rino, o herói não poderia deixar de notar que eles pareciam muito mais destrutivos desta vez.
- HAHA! Olha pra isso. Pena que são limitados por disparo. Mas ainda são bem divertidos.
- Ah...[Pedro tentava recuperar o ar, enquanto olhava para Rino]
- Precisando de uma pausa?! HAHAHA!
- Aonde você conseguiu isso Aleksei?, dizia ele, ao se posicionar novamente.
- Eu poderia te dizer, mas não é da sua conta! [Preparando disparo em 3...2...1]
- Ah
Desta vez, o Homem-Aranha vai em direção ao míssil. Com o auxílio de suas teias, ele pega o disparo para o jogar para longe dali, evitando mais destruição, enquanto o míssil explode sozinho no céu.
[Tempo de recarga exigido. Tente novamente mais tarde]
[Rino] - Quase tudo que é bom dura pouco mesmo.
- A paz dessa cidade conta pra você?
- Hehe. NÃO!
Naquele momento, Rino se disparou novamente sobre o herói, que consegue desviar passando por cima do mesmo. Ele tenta novamente o mesmo movimento, na esperança de ter um adversário a menos, mas o vilão consegue ser mais rápido, o jogando para cima com seu chifre, antes de acerta-lo contra uma parede. Pedro se levanta, enquanto já percebe os rasgos em seu traje. O herói fez mais um avanço para revidar, desviando do adversário, porém:
[Beto] - Surpresa!
- O qu..
[Rino] - ARGH!
Naquele instante, Mysterio utilizou de suas ilusões para surpreender o herói, o fazendo "aparecer" de repente em sua frente. Rino, enquanto isso, se aproveitou para o pegar pelo pescoço.
- A...
Antes que o herói pudesse reagir, Rino o disparou novamente contra um poste. O Homem-Aranha se levantou, mas agora ele teria de lidar com mais alguém.
- .....
[Beto] - Vamos começar, Aranha?
- Eu não vou cair nessa de novo, Beto.
- Será mesmo?, dizia ele. Naquele momento, múltiplos Mysterios apareciam ao redor, formando um círculo ao redor de Pedro.
- Os outros ao menos tinham um pouco de coragem de virem logo de...
Naquele segundo, o Homem-Aranha levou um soco, o derrubando no chão.
- Ah..
- Você dizia "um pouco de coragem de virem logo de cara"? Pois bem, aqui está o que você queria. A questão é...
- Ora seu...
O herói até tentou atacar aquele que havia o atingido, mas em vão: o máximo que conseguiu foi acertar uma parede, ao notar que aquilo era uma ilusão.
- Qual de nós que está na sua frente, você deve combater?
- ......
- Você queria encorajar a si mesmo me chamando de covarde, só por causa de um truque básico. Não é como se isso fosse roubo, muito menos novidade pra você. Mas não é este o ponto dessa vez.
- Ah, me solta!, dizia o herói. Naquele momento, dois Mysterios o seguravam pelos braços, enquanto outro aparecia em sua frente.
- Você me disse que não iria cair nessa de novo.
- Arg! [Nesse momento, o Homem-Aranha se soltou, socando os dois Mysterios]. Parecia óbvio que, desta vez, aquele que estava em sua frente seria fácil demais para ser o real.
- E eu não vou [ele coloca a mão sobre aquela cabeça de aquário], enquanto vê a mesma a atravessando.
- Oh, meus parabéns.
O Homem-Aranha rapidamente percebeu alguém vindo atrás dele, e o socou. Porém, não era o verdadeiro.
- Mas o..
Desta vez, o Mysterio que a mão do herói havia atravessado o atingiu com força, ainda que Pedro tenha conseguido se manter de pé por um pouco mais de tempo.
- ...Você....
- Ah, isso?, ele provocou, ao passar sua mão por dentro de seu capacete. - Entenda, a posse de conhecimento de algo não mata o senso do mistério.
- Sempre pode haver mais Mysterio [naquele momento, ele o soca novamente], o derrubando no chão. O vilão some na própria névoa ilusória em seguida, enquanto Pedro tenta se recuperar.
- ......A...
Pedro tenta se levantar, mas não consegue. A névoa de Mysterio parecia ter um efeito sobre ele, enquanto vozes sem sentido aparente percorriam os seus ouvidos. Olhando para cima, tudo que via era uma névoa verde ainda mais encorpada. Olhando para o lado, sombras podiam ser vistas de longe, antes de começarem a dar risos profundos. Ele poderia saber que aquilo não era real - mas nem por isso o atormentava menos.
- ........A.......ah....
Pedro tentou fechar os olhos para se acalmar. Seu batimento cardíaco estava mais acelerado, e seu corpo, um pouco trêmulo. Seu temor não estava naquilo que ele testemunhava, mas sim, naquilo que ele não podia ver. Naquele momento, as sombras risonhas se dissiparam em meio a névoa, enquanto ele se levantava para notar em sua frente uma sombra familiar.
- ....F..
[Fernanda] - Céus, o que houve com você?, dizia ela, ao se aproximar. Ela colocou uma das mãos no seu ombro, enquanto demonstrava um sorriso contido.
- ......
- O que foi, o gato comeu a sua língua? XD
- .....Você....não é real.
Naquele momento, Fernanda colocou as duas mãos sobre a cabeça de Pedro, enquanto continuava sorrindo.
- ....Será mesmo....Homem-Aranha?
- V...
Naquele momento, um sorriso mais inescrupuloso ficou evidente naquele rosto. Da mesma forma, os olhos de Fernanda começaram a brilhar como faíscas. Pedro começou a sentir uma dor enorme, enquanto a névoa era dissipada, revelando quem realmente estava ali com ele.
- ARGHHHHH!.....A......A....
- Acho que isso sem dúvidas é bem real, não acha?, dizia Electro, antes de joga-lo de volta no chão.
- Ah, vamos lá, levanta! Eu não quero ficar com a parte mais chata.
- Ah...
- Precisa de uma ajuda aí? [Ele dá um chute no estômago do mesmo].
- Ah..ah..AH....
- Nada que um ânimo não resolva, não é mesmo? [Riso].
- .....
- Se te serve de consolo, eu não vou te matar, mesmo que eu quisesse. Porque se fosse pra eu fazer isso, eu há teria fritado o seu cérebro agorinha.
- [Riso] Tá sendo um momento e tanto pra você, não é? Intenso...e ainda não terminou, você pode imaginar.
- Ah...hum....[apesar do cansaço], Pedro tenta se recompor.
- Dizem que depois da tempestade sempre vem uma calmaria. Mas não sei dizer se isso se encaixa pra você.
- Hum...
- Ah, esse olhar....talvez já fique mais interessante agora.
O Homem-Aranha avançou mais uma vez, apesar de tudo. Desta vez, ele decidiu se focar mais em desviar do que em contra-atacar, enquanto pensava em uma estratégia melhor. Em um movimento eficaz, ele conseguiu desviar de um dos golpes de Electro, antes de faze-lo cair no chão.
- Até que você foi bem, Max. Na próxima eu penso em...
- Ah
- O q...
Antes que pudesse reagir, o herói se viu sendo puxado por uma das pernas por Electro, através de um chicote elétrico. O vilão rapidamente o disparou contra o chão novamente.
- Ah...essa é nova.
- Hehehe [nesse momento, Electro uniu os dois punhos], enquanto intensificava a sua carga de energia. Seus punhos e seus olhos saltavam mais faíscas do que poderia ser contado, enquanto ele continuava com seu sorriso.
- No fundo é uma pena que eu tenha de dividir. Mas ainda assim, eu vou gostar disso. Eu vou gostar demais!
- Max, n...
Antes que o herói pudesse fazer mais alguma coisa, Electro disparou sua carga dobrada de energia diretamente no chão, jogando o adversário para dentro de uma casa. O impacto também afetou a energia de parte daquela área, resultando em um apagão, além de impactar a mídia que sobrevoava o local, fazendo com que eles precisassem se retirar por segurança.
- Arg....
- Até mais ver, Aranha, respondeu de forma sarcástica Max, antes de sumir pelos fios dos postes. Pedro saiu da onde estava, enquanto imaginava o que viria a seguir.
- Ah...ah....por eliminação...
Naquele momento, o herói ouviu algo correndo rapidamente por um dos telhados, parecendo entrar dentro da casa. Ele ficou ali, esperando por um movimento do lado de fora, até decidir entrar novamente, apesar dos riscos.
- ....Hum...uh....
Pedro continuava andando a passos lentos para dentro da residência. Sua respiração entregava seu desgaste, bem como seu olhar desconfiado, a sua preocupação. Após dar mais alguns passos, ele parou bem no meio do que seria a sala.
- ..........Unh..uhm.......
O silêncio continuava predominando, interrompido apenas pela respiração do garoto. Um misto de sentimentos corria pela sua cabeça, ele queria resolver aquilo de uma vez. Mas ao mesmo tempo, ele sabia que apenas daria a deixa para aquilo continuar. A paciência nunca foi mais exigida do que naquele momento.
- Hum.....hum...
Com base nisso, Pedro conseguiu ouvir novamente os barulhos no telhado da casa. Ele ficou em silêncio, seus olhos e ouvidos se virando lentamente conforme ele continuava a estalar a madeira, de forma mais lenta, até ouvir um barulho novamente no lado de dentro. O som evidenciava alguém descendo.
- .....
- ......Arg...
O herói naquela hora caiu de joelhos, mesmo sabendo que não devia. Sua respiração ofegante continuava, enquanto seu suor navegava por de baixo de seu traje abatido. Naquele momento, o seu próximo oponente se aproximava.
- Situação familiar?, perguntava Kraven. O herói apenas respondeu levantando a cabeça, ao olhar para o mesmo. Sabia aonde ele queria chegar com isso.
- Não raras vezes, ir em busca do que se quer constitui um ato de sobrevivência, e não apenas uma questão de escolha. Isso faz parte do nosso instinto, dizia ele. - Por qual outro motivo você ainda entraria aqui, com tamanha desvantagem?
- ......
- Quer saber a minha opinião? Você não continua isso porque não teme a situação. Eu vejo nos seus olhos, a dúvida, e a angústia. De quem você acreditava que não poderia dar esse sentimento novamente. Mas isso não é suficiente pra te fazer correr.
O caçador se ajoelhou na frente do herói, que continuava o observando em silêncio.
- As pessoas que abraçam seu instinto, a sua necessidade. Elas são sobreviventes. Como eu e você.
- .....Aonde quer chegar com isso?
- Eu aprendi a não te subestimar, mesmo em uma situação feito essa. Eu já estive nessa sua posição, há nem tanto tempo. Eu reconheço dignidade em um adversário, quando vejo. Bem como alguém que encontrou seu significado. Honra.
- Eu encontrei dignidade, não nas cidades, mas na selva. Eu encontrei honra, não no civilizado, mas no primitivo. Eu encontrei moralidade, eu encontrei significado -- com animais. Talvez seu nome faça cada vez mais sentido pra mim, mesmo que você não tenha pensado nisso.
Kraven se levantou naquele momento, enquanto se afastava um pouco, ainda de costas. - Por isso, quero algo justo. Se levante quando sentir as próprias pernas de novo, e então vamos continuar com isso.
Pedro sabia que tinha que dar uma resposta, por mais desafiador que isso fosse naquele momento. Seus resmungos de dor ficavam evidentes, enquanto ele lentamente se levantava, se segurando na parede de atrás. Simplesmente avançar dessa vez não seria algo lógico a esse nível. Erguendo um dos braços, ele tentaria outra coisa. Assim, o Homem-Aranha disparou uma de suas teias contra o adversário, precisamente em sua lança, na esperança de desarma-lo de um de seus equipamentos. No entanto, Kraven reagiu igualmente rápido: ao se virar para frente, sua lança rapidamente cortou o disparo de teia, antes que ele a disparasse em direção ao herói, que desviou por um triz. Pedro se locomoveu para trás em seguida, ao arrancar a lança da parede, antes de aponta-la para ele.
- O que pensa que vai fazer com isso?
[Pedro] - Porque não chega mais perto e descobre?!
Kraven demonstrou um sorriso tímido, quase debochado, ao ouvir aquilo. Ele então avançou contra o herói, que tentou acerta-lo com a lança, apenas para vê-la sendo tomada. O caçador, no entanto, fez questão de quebra-la, enquanto a jogava no chão, antes de se locomover para estar pelas costas de seu adversário. O próximo avanço direcionou ambos para tentativas de golpes falhos, mas com acertos brutais quando aconteciam. O Homem-Aranha tentou empurra-lo para uma das janelas, através de um soco por de baixo de seu queixo, mas o adversário ainda reagiu lhe dando um agressivo soco em seu rosto, o levando ao chão.
Naquele momento, Pedro já não estava mais pensando tanto para agir, e se direcionou novamente para a lança quebrada, ao pegar a parte que continha justamente a ponta afiada. Quando o caçador se aproximou novamente, o herói tentou avançar violentamente contra ele com a arma branca, enquanto ele desviava de todos os golpes. Todavia, na última tentativa, Kraven segurou seu último golpe ao pega-lo pelo antebraço, enquanto observava seu olhar agressivo.
- Arg....argh...
- O que acha que iria acontecer, se você tivesse acertado?
- .......[Mesmo com seu golpe segurado, Pedro ainda continuou pressionando a ponta da lança], acertando suavemente a pele de seu adversário, enquanto via um pequeno rasgo de sangue caindo.
- Você já não estava pensado nisso, não é? Ou talvez, só não estivesse se importando mais.
- .........
- Então é isso que o Homem-Aranha faz, se alguém conseguisse pressioná-lo o suficiente?
- ...........
- Bom, eu acho que não, acredite. Quem esteja de baixo dessa máscara, talvez...
Pedro deixou seu esforço se esvair enquanto ouvia aquilo. Ainda que seu olhar não tivesse se desfocado, sua mente começou a questionar o que ele mesmo pretendia fazer no calor do momento.
- Não ache que eu esteja te impedindo de mudar de ideia. Mas decisões como essa garoto, são sempre caminhos sem volta. Uma vez atravessados, você já não poderá fingir que nunca o fez.
- Argh....argh....ahhhmm....argh..
- Espero que esse conselho te faça pensar nisso, dizia ele. O mesmo arrancou a lâmina da mão do herói, antes de enfia-la na sua perna. Pedro só conseguia reagir suspirando de dor, antes que Kraven a arrancasse novamente.
- Arg...ah..argh [Pedro, de alguma forma], ainda se levantou. Para sua surpresa, o caçador não reagiu de outra forma, se não jogando algo para conter seu sangramento na perna.
- .....Porque tá fazendo essa..arg..
- Isso não deveria estar no script, mas esse vai ser o nosso segredinho, dizia ele, ao se aproximar.
- Boa sorte. Vai precisar.
Dizendo isso, Kraven se retirou por uma das janelas, deixando o herói sozinho. A esse nível do campeonato, todavia, ele já sabia quem enfrentaria a partir de agora. Ou melhor, o que.
- ...Ah...arg..ah! Ah...hum....
"Eu não tô com a vantagem...ainda assim ele vai querer ir por esse caminho. Sem brechas...."
Pedro se retirou dali com cautela. O cenário era desfavorável, mas suas opções não era muitas - ao contrário de suas questões sobre tudo isso. O local se encontrava escuro, enquanto ele conseguia ouvir apenas os seus passos. Pelo menos por algum tempo. Ele pausou seus pés, enquanto olhava para o escuro à sua frente. Quando decidiu se virar, dois olhos amarelos agora o observavam, enquanto aquela cabeça virava sutilmente de lado, parecendo um animal curioso. Não poderia ser outra coisa.
Pedro sentia um misto de sentimentos. A raiva já não era aquilo que predominava, mas talvez fosse a sua própria angústia. Aqueles olhos sumiram tão logo como apareceram, enquanto se podia ouvir os barulhos de algo escalando as paredes. Pedro suspirava, enquanto tentava colocar a cabeça no lugar.
- .....
- Eu também acho que você não precisa tentar falar, garoto. Algo me diz que você já falou demais.
- ....Porque não vem aqui ao invés de se esconder?
- [Riso].....tem certeza que eu estou me escondendo? Ainda que eu tenha feito isso por um bom tempo...teeempo demaisss. Mas nós dois já demos um jeito no elo fraco, não é?
- ....O Connors não era fraco. Se fosse, você não precisaria estar se vangloriando disso. E diferente do que você possa tentar fazer com a minha cabeça, não existe "nós" nisso. Eu e você sentimos...coisas completamente diferentes...sobre o que VOCÊ fez.
- ....Devia ser nessa parte que eu sinto uma dor na consciência? [Riso], exclamava o mesmo, enquanto uma luz voltava a acender. - Eu sempre busquei ser livre. Até que eu consegui...e sabendo que não perderia isso de novo.
- E pra isso, só havia um jeito. Poderia, eu talvez poderia ter feito pior se eu quisesse. Não tente me vender como alguém tão frio, Aranha....Connors agora tem sua família e paz, ao mesmo tempo. A paz da morte. Para ele, a morte da sua alma. Para a esposa e o filho, a de alma e corpo.
- ......
- Pense, Aranha. Ele não precisou assistir nada daquilo, quando eu comecei. O filho nem viu o que quebrou o pescoço dele....não pude garantir tanta suavidade para a esposa, mas...o que vale é a intenção, não é?
- .....Você é doente.
- Oh, não, garoto. Eu nunca estive tão bem. Tão....completo. Porque desde aquele dia. Pela primeira vez....só existe única e exclusivamente...O Lagarto!
Com essa frase, o réptil desapareceu entre as áreas ainda escuras daquele ponto. Pedro ficou em alerta mais uma vez, concentrado em ouvir qualquer movimento. Mas o próximo veio por cima do mesmo, com o vilão usando sua cauda para puxa-lo pelo pescoço.
- Arg...
- Algumas pessoas pagam caro por não saberem quando parar. Afinal de contas...
- Ah...
- Quem salva o Homem-Aranha, quando nem ele consegue s...
Antes que o vilão terminasse, o Homem-Aranha disparou, com muita dificuldade, uma rajada de teia direto em seus olhos, fazendo com que ele o soltasse.
- Argh...ARGHH!
- Hum...modo animal completo? [Ironia] Bem, algo já me dizia que você já falou demais me...
O Lagarto rapidamente se lançou sobre o mesmo, mas errou por um triz. O herói se recompôs, antes de decidir se deslocar dali, apesar de tudo que seu corpo já estava tentando processar, enquanto se escondia no processo.
- Hum....
- Pode correr, mas não pode se esconder, garoto. Eu sinto o cheiro do seu sangue...então facilite pra você mesmo!
- .......
- ..........
- .......
- Depois não diga que eu não avisei!
Nesse instante, o Lagarto achou aonde o herói estava escondido, enquanto tentava entrar pela abertura presente. Para a sorte de Pedro, o vilão escamoso acabou se prendendo em meio as suas tentativas contínuas de abocanha-lo, enquanto ele se retirava dali por outra abertura.
- Ah...[suspiro]...ah?....
- ...Nada mal, Aranha, dizia ele para si mesmo, enquanto observava ao redor. Estava relativamente perto de um monte, que se encontrava próximo de uma praia que já lhe era familiar - ainda que em momentos muito mais oportunos.
- ......
- Algo me diz que as coisas estiveram agitadas, declarou uma voz. Ela aparentava um tom abafado, como se estivesse sendo falada por alguém com uma máscara no rosto. Pedro nesse momento apenas virou o pescoço, tentando observar.
- .....
- Relaxa, eu só quero conversar, dizia o dono daquela voz, enquanto saia da onde estava. Seu visual era peculiar, usando de fato uma espécie de máscara sobre seu rosto, enquanto andava um pouco, com as mãos erguidas.
- Eu..eu te conheço?
- Eu conheço você. Quer dizer, quem não conhece o Homem-Aranha?
- ...[Suspiro]
- Parece que você lutou com uns seis caras diferentes, não? Impressionante que ainda consegue ficar de pé.
- ....Eu...não achei que iria tão longe. Quer dizer, o que eu teria de lidar.
- Hum....nós nunca sabemos que cadeia de eventos colocamos em movimento enquanto realizamos nossas tarefas diárias, garoto.
- ...O que você quer dizer com isso?
- Bom, você é o herói, e eles os caras maus. O herói bate nos caras maus, os caras maus batem de volta [ele se aproxima] e então você manda eles pra cadeia.
- ...
- E então, o ciclo se repete, se eles saírem. Mas...as vezes, podemos ter uma pequena variável.
- Cara, do que você tá falan...
Antes que Pedro terminasse, aquela figura o socou direto em seu estômago, gerando em seu corpo uma reação quase instantânea ao cair de joelhos. Sua visão estava impactada, mas ele não pôde deixar de notar os seus outros adversários bem atrás daquela cena - apenas observando.
- Como eu dizia...podemos ter uma variável. E ela acontece, quando aquele cara que ficou preso, decide que desta vez vai priorizar não como ele vai fugir. Não. Mas sim como ele pode bater.
- COMO ELE PODE BATER MAIS FORTE![naquele instante, ele desfere um soco direto no rosto do herói], que cai no chão. Os outros continuam observando.
- Ah...vocês aí estão vendo? Sem diminuições, rapazes, esse garoto é uma verdadeira rocha! [ele dá um pontapé no estômago do mesmo].
- AGH...
- Qualquer outro se sentindo como um João Bobo estaria suplicando, ou mesmo com os olhos fechados! [ele dá o mesmo golpe novamente], antes de levanta-lo de joelhos.
- A...
- Mas você não é qualquer outro, não é? Não faz seu tipo...
- ....
- O Homem-Aranha sempre aguenta. O Homem-Aranha sempre aguenta tudo que dão pra ele, não é mesmo? [Ele desfere outro golpe direto em seu rosto].
- E É POR ISSO MESMO....senhores...que eu não me preocupo se eu tô indo forte demais. Todos vocês devem ter trocado piadas com ele, e afins. Mas não se esqueçam.
- [Cospe sangue]....
- Aquilo ali. Ele derrotou você, você, você, você também, você é claro, e não vamos esquecer você...mas, nessas circunstâncias?
[Fernanda] - Ah, Pedro, cadê você...
O herói ainda tentava se arrastar, antes de ser puxado por aquele que o espancou, o levando para mais perto da ponta daquele morro, seguido pelos outros vilões.
- Nós nos vestimos, aparecemos, e estragamos tudo. Os resultados desses erros aparecem por meses...talvez mais. Inspire um pouco de amianto em um local de trabalho, e um dia você pega um câncer de pulmão. Mande um homem pra cadeia, e verá o que ele pode se tornar depois que sair.
- Mas quando você acerta..
- Ah...
[Fernanda] - ...Isso é do..Pedro...
- Vamos, eu acredito que quer levantar, olhem o que eu falei.
- ...Arg..
- ...Ah...
Pedro se levantou novamente, mesmo assim. Agora na ponta do morro, ele olhava de volta para aquele adversário, enquanto tentava levantar um dos braços para desferir um soco.
- .....Ah..
- Não confunda coragem com estupidez. Até porque eu já sei qual você é.
- .....
- Olha, ao contrário deles...acredite, não é pessoal. Nah.
- .....
- Pra falar a verdade, não somos tão diferentes assim. Você me parece um bom rapaz, dizia ele. O mesmo se agachou para estar na mesma altura do mesmo, enquanto levantava sua cabeça cansada.
- Oh, não, dê uma olhada. Uma boa e longa olhada.
- .....É fácil pra você quer..
- Oh, desculpe, vou adivinhar. "É fácil pra você querer minha atenção, depois que outros já fizeram a maior parte do trabalho". Um covarde oportunista, hum? É isso que você tá pensando agora não é?
- .......
- Nem sempre atacar quando a oportunidade se apresenta esconde falta de caráter, herói. Demonstra é muito senso. Um general sábio só luta uma guerra que pode vencer.
- ....
- Você tem convicção, eu admiro isso. Lutando por tudo...mesmo quando o mundo tenta fazer você escolher. Mas quando esses momentos chegam...
- Você sempre tem de escolher. E nem todos estão dispostos a isso.
- .....
- Você quer fazer o certo. Mesmo que isso custe mais do que você jamais vai receber. Nobre. Inspirador...quase fantasioso, em um mundo como esse.
[Fernanda] - Ah...Pedro, dizia ela, ao já vê-lo em seu campo de visão. Ela só tivera aquela prévia do que estava acontecendo pela TV, mas não importava - ela iria do mesmo jeito. Mas não sem antes ser notada por um deles, que dizia sutilmente para si mesmo. - Eu cuido disso....
- Mas a verdade é que as pessoas sempre precisam acreditar que quando abrirem os olhos no próximo dia, haverá um motivo para crer que as coisas serão melhores. Alguns mais do que outros. Mas ainda assim, um sentimento mútuo.
- .....
- Eu compartilho da sua vontade de proporcionar as pessoas esse sentimento esperançoso.
- ...Então porque...tá fazendo isso?
Naquele momento, a figura se aproximou de seu ouvido, antes de continuar a falar, com certa tranquilidade em sua voz.
- Porque até a esperança tem um preço, garoto. Não um preço monetário. Um preço, que você decide se pode pagar. E algo me diz, que é nesse exato ponto, que somos diferentes. Então, acho melhor resolvermos isso...Pedro.
- .............
Pedro naquele momento estava simplesmente congelado. Seus olhos se encontravam arregalados, seu corpo sutilmente tremia, bem como o suor voltando a descer pelo seu corpo, entregavam sua reação ao ouvir seu nome sendo dito por aquele homem. Ele não conseguia tirar seus olhos dele, não depois de ouvir tal coisa.
- ....Co..
- Oh, isso? Há sempre um jeito de descobrir. Sempre um jeito...mas não se preocupe. Eu bem sei o que poderia acontecer, se algum daqueles indivíduos ali descobrisse esse nome...acho que a sua tia não iria gostar de ter algum deles como visita, por exemplo. Não, com certeza não...
- .......
- Eu não sou um sádico, Pedro. Eu não faço isso por vingança, ou porque é divertido, ou mesmo por meros incentivos financeiros em um país miserável como esse.
[Fernanda] - Ah, eu vou chegar a..
- .....Quem diabos é v...
- ......
[Fernanda] - .....
- ......Argh...
- Eu sou o desejo de questionar. O desejo de fazer. O desejo de querer sair do lugar comum. Pois se há realmente algo que o mundo exige. Isso, é evolução.
- .......Você.....
Naquele momento, Pedro sentiu rapidamente uma lâmina que penetrou muito além de seu traje, enquanto seu sangue começava a escorrer pela mesma. Mesmo aquilo não o fez deixar de, ao menos tentar, processar quem estava ali na sua frente. A Gata Negra, apenas pode assistir ao golpe, enquanto aquele dizia suas últimas palavras ao herói, em voz baixa.
- .....
- Bem, já facilitei pra nós dois. Eu continuo de agora em diante o que você começou. E todos que você conhece, continuaram são e salvos. Afinal de contas...porque fazer algo tão gratuito com quem nunca seria um problema?
- ....A...
- E antes que eu me esqueça....se você quer mudar o mundo, Homem-Aranha. Você tem de estar disposto a ser aquele que toma as decisões mais difíceis.
- ...Ah...a..
- Só é uma pena que você descobriu isso muito tarde, dizia ele, antes de retirar a lâmina logo em seguida. Em um último movimento, ele simplesmente empurrou o herói levemente - fazendo com que ele caísse diretamente na água do mar abaixo. Fernanda, em choque, só pôde reagir indo para baixo em sua busca, enquanto o outro se voltava para o grupo de vilões que o esperavam.
[Escorpião] - Bem, e agora?
- Vocês brincaram com o que queriam, eu consegui o que eu precisava.
- Algo me diz que estamos todos na mesma página a partir de agora.
- Ah P....ah, dane-se!
Naquele momento, Fernanda se jogou na água na tentativa de alcançar Pedro. Aquele ato talvez não fosse tão difícil assim - mas seu justificado desespero obviamente contribuía para a tensão em torno disso. Diante de tal esforço, ela finalmente o alcançou, levando-o de volta para a praia.
- Ah....ufa. A gente dá um jeito nisso, dizia ela, antes de se focar em estancar aquele ferimento.
- Olha, eu sei que não é o melhor momento, mas quem era aquele cara? Eu pelo menos não lembro.
- Pedro?
- Ah, eu sei, você não levou só uma porrada hoje, mas hey, vai ficar tudo bem...a gente sempre consegue, lembra?, ela dizia, ao acariciar seu rosto. Mas desta vez, parecia que havia algo de errado.
- .....Pedro?
- Ah, já entendi...ha-ha, muito engraçado, tá querendo me imitar naquela vez que você é que tava nesse papel, né? Boa...
- Pedro
- Pedro, é sério agora.
- Pedro, eu tô falando sério, chega disso.
- Pedro, EU...
Pedro não respondia. Fernanda já começava a ficar visivelmente alterada diante disso.
- .....[Suspiro de raiva] olha pra mim...
- Pedro, é bom você abrir a porra desses olhos ou falar alguma coisa que seja, porque se não...
- .......
- .........Porque você tá fazendo isso?
- ...............Para.....
- EU DISSSE PRA PARAR COM ESSA GRAÇA, SEU MULEQUE IMBECIL, ABRE ESSA PORRA DE OLHOS!!!!
- Ah...uhum......., suspirava ela, ao agarrar e puxar Pedro para perto dela, com raiva.
- .....Escuta aqui....se você não abrir esses olhos agora, eu vou realmente te dar um motivo pra não acordar mais, agora PELO AMOR DE DEUS, FALA ALGUMA COISA, ABRE ESSES MALDITOS......
- ........Abre esses olhos....por favor...
Gritar. Ameaçar. Pedir. Implorar. Fernanda fez tudo isso. Porém, não obteve uma resposta. Pedro se mantinha em silêncio, pálido, com os lábios azuis e a respiração, se havia alguma, fraca. Fernanda se ajoelhou ao lado dele, com os olhos ainda tentando se conter, enquanto buscava uma resposta. Ou talvez, apenas qualquer outra resposta, que não fosse aquela.
- .....Não...Não, você não faria uma brincadeira com isso...eu sei que não, eu não devia ter dito aquilo, só...
As mãos de Fernanda tremiam. Em uma resposta rápida, tentou fazer respiração boca a boca, com a dor no peito apertando como se fosse ela naquela situação. Porém, cada tentativa parecia inútil. E a praia, agora se tornava um espectador, assistindo cada minuto de uma cena angustiosa. Os minutos se arrastavam, bem como os braços, eventualmente cansados, daquela garota. Atos esses que não recebiam outra resposta, que não fosse o perturbador, silêncio.
- ........Não....não desse jeito...
A raiva agora queimava dentro dela, como um combustível para continuar aquilo. Como se ela quisesse que parte de seu próprio ar fosse arrancado de seus pulmões naquele momento. Suas mãos ainda tremiam, enquanto ela tentava desesperadamente, seus dedos se entrelaçando, pressionando com força. Sua voz, agora suplicante, não escondia seu pavor. O som indiferente da água, agora parecia zombar dela.
- .....E..u..não......po-rque desse jeito?, dizia ela, com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela continuava olhando para ele. Mas agora, ela não sabia mais onde a raiva começava, e nem onde sua angústia terminava. Um grito, que misturava tudo isso, agora podia ser ouvido rapidamente.
- ...........[respiração pesada]...
Fernanda não sabia mais como reagir. Seu misto de sentimentos aflorados, a direcionou para uma única resposta. Ela se aproximou de Pedro, enquanto o abraçava com a força que ainda tinha em seus braços, acariciando suavemente o seu cabelo, ainda sujo de areia. Ela encostou sua testa na dele, seus cabelos molhados grudados em seu rosto, antes de aconchegar sua cabeça em seu ombro.
- .......D-esculpa....
Talvez para algumas pessoas, minhas próximas palavras soem contraditórias. Em outros termos, hipócritas. Tem gente que se incomoda de como eu falo, ou de quem eu falo, mas isso nunca me abalou. Sou um homem de palavras fortes, e isso eu não nego. Você, como telespectador, não é obrigado a me ouvir, nem mesmo agora. Mas o verdadeiro hipócrita que me acusam, seria aquele que tratasse esse assunto, como qualquer coisa. Nenhum caso como esse é qualquer coisa.
E diferente do que alguns comentários poderiam me acusar quanto a esse assunto, e eu sei que vão...eu não sinto felicidade com tais acontecimentos. Não desse jeito. Não nessas circunstâncias. Jamais.
Confesso, pessoalmente, que quase sempre não compartilhei da visão de que deveríamos ter um indivíduo como esse, por ai. Dizendo que queria ajudar. Resolvendo o meu, o seu, alguns dos nossos problemas. Sua abordagem muitas vezes beirava o limite da legalidade, e suas ações nem sempre refletiam o que eu poderia chamar realmente de justiça.
[Ele demonstra um leve nó na garganta]
No entanto. É inegável que ele fez coisas que poucos teriam coragem, ou talvez juízo, de fazer. Poderíamos questionar sua identidade, até hoje misteriosa, ou mesmo imaginar, o que ele poderia realmente querer fazendo isso tudo. Mas suas incursões pela cidade, enfrentando criminosos, aparentemente sem medo de ser julgado por alguns, ou mesmo por um ou outro da mídia...e isso me inclui, é claro...isso tudo, sem dúvida, gerou um impacto. E, quem diria, se tornou um símbolo de resistência para muitos. Um lembrete de que por mais normalizado que possa nos soar a cada dia, nenhum de nós realmente acredita que abaixar a cabeça para a escória que se esconde nas esquinas, é a solução para isso, porque jamais será. Jamais.
Agora, a única questão que eu levanto: quem assume esse 'barco' agora? As mesmas confirmações desse ato, também nos mostram um reagrupamento, e até mesmo, alguém que todos se perguntam quem é ou, melhor, o que significa? Eu, temo que seja o indício de que estejamos vendo um novo movimento muito mais audacioso e perigoso. Um movimento, agora em mãos ainda mais desconhecidas. E, ao que tudo indica, muito mais sombrias.
Eu disse que essa seria minha única questão, mas pensando em tudo que falei agora, eu tenho uma pergunta ainda mais pertinente: o que a prefeitura de São Paulo vai fazer agora? Qual será a resposta da nossa cidade a isso que nós estamos vendo no telão atrás de mim? Onde estará a linha entre a justiça e o caos completo? O que nos espera...sem a sua presença?
São perguntas que, por enquanto, não têm respostas claras.
[Ele dá uma pausa, olhando pensativo para a tela por um momento, antes de continuar]
Aqui é J.J. Jaime. Continuaremos acompanhando os desdobramentos dessa situação. Voltaremos com mais informações assim que elas surgirem. E para você meu amigo e minha amiga que chegou agora aqui, sem saber o que ocorre nessa manhã agora cheia de questionamentos...
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