Um livro assombroso.
Ed e Lorraine Warren passaram décadas estudando casos sobrenaturais e auxiliando pessoas a se livrarem de entidades incômodas e até mesmo que ameaçassem a vida de famílias inteiras. E no post de hoje, vamos ver se Demonologistas é bom.
Ed e Lorraine Warren passaram décadas estudando casos sobrenaturais e auxiliando pessoas a se livrarem de entidades incômodas e até mesmo que ameaçassem a vida de famílias inteiras. E no post de hoje, vamos ver se Demonologistas é bom.
👻EDIÇÃO FÍSICA👻
Escrito por Gerald Brittle, foi lançado originalmente em 1980 nos EUA, a edição
da Editora Darkside saiu por aqui em 2016. Tem 272 páginas de pólen soft, capa
dura, acompanha um pequeno encarte com a foto da Anabelle original (que
sinceramente não sei o que a Darkside espera que eu faça com isso) e fita de
cetim embutida vermelho-sangue. Em seu miolo há 16 imagens referentes apenas ao
Caso Beckford – que não fariam a menor falta se fossem cortadas --, compiladas
em 11 páginas sequenciais.
Foram encontrados três erros de digitação. Pág. 70 (Ed
detalho o caso), 81 (seriíssimo), 181 (estaria dali! - faltou o "longe").
👻CRÍTICA👻
Ed & Lorraine Warren – Demonologistas é completamente
indeciso, não sabendo se quer ser informativo, terror, ou até mesmo documental.
Na dúvida, Brittle apela para um emaranhado disso tudo, o que resulta em algo
falho já que ele perde em substância ao não se aprofundar num gênero
específico.
Essa superficialidade no tom, naturalmente, por causa da
falta de direcionamento, resulta também em alguns pequenos vícios narrativos.
Repetições sobre a metodologia de entidades (os estágios de Infestação, Opressão
e Possessão são martelados o livro inteiro), ou a frase de Ed Warren “este é
meu trabalho”, até mesmo os casos formulaicos e com pouquíssimas variações
entre si são constantemente repetidas, perdendo em impacto de alguns pontos de
vista e dos relatos. No geral, depois de cem páginas, o livro é um looping
temporal de si mesmo. Obviamente, isto se torna enjoativo com o passar do
tempo. Importante dizer que não chega a cansar totalmente, mas depois de um
tempo fica fácil saber como um parágrafo vai ser desenvolvido e terminar, ou do
que o relato vai falar. E tudo isso, muitas vezes, é vagarosamente repetido, o
que não ajuda em nada na fluidez do texto.
O fato do livro ser de uma narrativa documental também é questionável.
A necessidade de tornar tudo extremamente explicado tira o peso que algumas
coisas podem ter. Ou seja, existe, sim, uma falta de timming da parte
de Gerald Brittle, o que empobrece bastante. Acaba-se, então, abraçando muito
mais a “urgência” das falas de Ed. Não me cabe falar sobre o que acredito ou
não dentro do universo fantasmagórico do casal, mas em alguns momentos o
alarmismo toma conta, ao mesmo tempo que é inegável certas verdades filosóficas
nas falas dele sobre viver a vida sem cair nas “facilidades” do ocultismo, mas
que se tornam genéricas em comparação a todo o trabalho de exaltar o lado ruim
do mesmo. Em termos comparativos, é possível até mesmo dizer que a moral final
se perde diante disto. Há um momento muito contraditório em que Ed Warren diz
que as pessoas estão tão focadas em conhecer o lado ruim do mundo espiritual
que se esquecem de do lado bom que as ajuda. Mas o próprio livro faz esse
trabalho, sendo desenvolvido todo na mesma parte ruim que Ed tenta desmerecer
ao seu desfecho.
Existe também uma certa predileção pelas falas de Ed Warren,
com alguns OFF’s substanciais de Lorraine. Enquanto o livro se presta a ser um
trabalho de comentários didáticos do casal, ela, que é alegadamente sensitiva e
tem mais contato com o oculto, pontua muito menos na obra se comparada ao
marido. Não chega a ser algo que incomode como um todo, mas dá a impressão que
o principal motor do casal, a que consegue confirmar de forma instintiva sobre
o que há ou não em uma determinada casa, fica de fora diversas vezes sem um
porquê.
Outro ponto negativo são os relatos. Quem conhece alguns
casos do casal (como eu, por exemplo), não vai se surpreender com rigorosamente
nada do que está escrito lá. Enquanto eu lia o livro, lembrei de uma vez ter
dito no Disqus que quem já viu um estudo dos Warren sobre entidades invadindo
uma casa, já viu todos. Essa sensação ficou ainda mais evidenciada com este
livro. Não surpreende e sequer impressiona. Por vezes deu sono. E isso também
vale para o terror do livro. É, no mínimo, mais do mesmo e que poucas vezes é
efetivo, raramente causando algum tipo de sensação. Se impressiona nesses
momentos espasmódicos, não passa disso. E neste ponto, cabe uma comparação. Se
Lugar Sombrio (baseado num dos casos dos Warren, publicado também pela Darkside),
tem algumas falhas estruturais, ele funciona muito melhor em causar certas
sensações que Demonologistas falha como pavor, insegurança e a já citada urgência.
As divisões de capítulos são complicadas. Alguns são para
relatar casos, outros que trazem o testemunho dos dois acabam se tornando
apresentação de casos. Então, essas confusões tornam o livro instável e pouco proveitoso
sob o ponto de vista literário-construtivo com a narrativa feita desta forma.
Mas há também coisas boas. As primeiras 90 páginas do livro
são ótimas e apresentam um dinamismo em suas apresentações. Boa parte das
inserções de Lorraine são bem funcionais e agregam bastante, por mais que elas
também se repitam em determinados momentos. Inclusive, a melhor frase do livro
vem dela: “Nunca encontrei um ateu numa
casa mal-assombrada”. A maneira como é mostrado os malefícios das tábuas
Ouija e como o mal se instala através da inocência além de carência e solidão, também
é um pouco chocante. Algumas informações também são boas e humanizam o casal.
Mostrando que não apenas eles são dedicados a ajudar os outros, mas como o
conhecimento que trazem consigo pesa como barreira em ter uma vida normal.
Isto posto, Ed & Lorraine Warren - Demonologistas é uma
obra, no geral, pobre e sem foco, com uma estrutura praticamente iniciante. A semiótica
é contraditória e mal realizada. Muito mais indicada ao afegão-médio, pode
agradar a quem tenha pouco ou nenhum contato com o legado dos Warren, mas
leitores mais habituados podem se sentir um tanto quanto deslocados das
intenções confusas que aqui se apresentam e da superficialidade. Não faz jus a
grandiosidade do trabalho humanista e praticamente gratuito -- eles pediam
apenas reembolsos de passagens e hospedagens -- que o casal Warren prestava (Ed
faleceu em 2006 e Lorraine em 2019), ainda assim pode ser um bom entretenimento
e, quem sabe, um pouco de informação também, dependendo do que você acredite.
👻Nota: 5,0
Espero que tenham gostado.
Boas leituras.
Saitama
Boas leituras.
Saitama
OBS: Imagens do post não estão no livro.
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