domingo, 8 de agosto de 2021

Esquadrão Suicida & o Valor do Absurdo

 

O Post a Seguir NÃO contém Spoilers 


Já não é novidade dizer que a DC Films sofreu (e ainda sente) as consequências de ter tentado alcançar a popularidade construída à conta-gotas pela Marvel Studios, na base de pulos de etapas, e decisões no mínimo, sem a devida revisão. Seja com Zack Snyder tendo seu arco original planejado sendo transformado em uma base para um universo cinematográfico no meio do caminho (a verdade mesmo é que isso não havia sido feito pra isso), o almejar de resultados astronômicos sem tempo, e como não poderia deixar de ser, as polêmicas e resultados precários, fruto justamente do desespero de executivos para agradar gregos e troianos que só resultaria no nascimento de produtos defeituosos, dirigidos por mãos de executivos incompetentes. Diria, que ainda teve pra completar, uma cobertura de soberba, afinal, "temos a Liga da Justiça, obviamente podemos fazer qualquer merd#, e os trouxas irão ver". A resposta, todo mundo viu.


Com isso, após ter o que deveria ser sua culminação sendo falha e, diferente da concorrente, implosiva, sobrou para o estúdio seguir o que já foi a sua resposta no passado: histórias por si só. O próprio constraste de bilheteria entre Liga da Justiça e Aquaman, lançado um pouco mais de 1 ano depois, meio que já deixou escancarado que o método tinha fundamento. Outro ponto, foi de jogar realmente na mão dos diretores, já que nunca houve um cabeça para impor organização ou comunicação, então "pega seu brinquedo, e vai brincar com ele no cantinho". Se por um lado é obviamente positivo, e rendeu, por outro, algumas aparadas em uns (não aquelas grotescas de antes) não teriam sido negativas pra ninguém. A clara barriga presente em Mulher-Maravilha 1984 (ou a faixa etária covarde de Aves de Rapina), são bons exemplos disso.

E a verdade é que O Esquadrão Suicida ressalta bem muitas dessas coisas. O primeiro filme, vítima de executivos (apesar que pode ser bem questionado se o corte original de David Ayer realmente daria algum jeito em algo aqui) foi entregue como se fosse um videoclipe de 2 horas, apelando para músicas pop para (tentar) não ser totalmente esquecível, e soando que queria ser é Guardiões da Galáxia, ao invés de seu próprio título. Por ironia do destino, o responsável justamente pela base de comparações mais bem sucedida (James Gunn) viria a ser contratado para dirigir o "ou vai ou racha" para esta equipe de vilões, contanto que tivesse a tão falada liberdade criativa para isso. E felizmente ele teve, na hora de emendar esse seu brinquedo, então quebrado.


Um bando de descartáveis, sendo jogados no fogo para limpar o trabalho sujo, e quem sabe ao fim do dia, tendo uma redução nas suas penas como recompensa. O conceito básico do que é o Esquadrão Suicida, que continua o mesmíssimo, mas que se beneficia nessas horas justamente, do que não se teve no anterior: personalidade. Goste você ou não de James Gunn, é inegável que o diretor sempre carregou isso nos seus filmes. O mesmo já não pode ser dito de Ayer, que até pouco tempo atrás aliás, proclamava a versão cinema do primeiro filme como a sua, antes de querer entrar na onda de quem teve um caso similar, mas totalmente distinto, ao mesmo tempo. Ele pelo jeito, ainda vai viver do slogan de "fui o roteirista de Dia de Treinamento". 

Com isso em mente, Gunn sabe realmente se aproveitar desse Esquadrão, como a sua chance de ouro de resgatar totalmente seu estilo pré-Guardiões. E quem conhece sua carreira, sabe que muito disso, é por conta da faixa etária. Seja a violência catártica com clima de filme B (o filme em pouco tempo já reitera o porque precisava dessa faixa), humor escrachado & politicamente incorreto, além das cores caricatas, que já soam como se alguém tivesse pego páginas de um quadrinho velho dos anos 80, mascasse, e então cuspisse na tela (não atoa, esse filme tem inspiração justamente na fase clássica de John Ostrander), ao invés da vibe Novos 52 do filme passado. Vindo de Gunn, também é válido mencionar a trilha sonora que, diferente do filme anterior, realmente se encaixa de forma mais orgânica ao longo da trama, ainda que também não chegue a ser como em Guardiões, onde ela era praticamente um personagem por si só.

A base para o sucesso desse filme, é isso, unido ao fato de outra boa execução do diretor. Ainda que demonstre extrema facilidade em descartar personagens realmente como se fosse Amanda Waller apertando um mero botão, o que faz com que os momentos de ação tenham de fato risco para todos ali (cerca de um terço da equipe consegue chegar no clímax), Gunn ainda consegue desenvolver os personagens, para que você se importe com eles, para então ressaltar na próxima cena, o que ele mesmo usou com muita ênfase no marketing. "Não se apegue" (há pelo menos uma morte em especial), que eu realmente não esperava que ele iria fazer! E é isso, afinal, que é ser parte da famigerada Força-Tarefa X: se você faz parte dela, sua mãe mentiu, ao dizer que você era "especial". 

"Cuidado, garoto, eu sou perigosa!"

Falando dos membros do time espeficamente, sem entrar em spoilers. Rick Flag, de fato, passa a sua devida vibe de líder dessa vez (se vê claramente que Joel Kinnaman está mais a vontade no papel), além do bônus de seu visual puxado para o clássico, e saindo daquele militar genérico. A Arlequina de Margot Robbie está maravilhosa ela já é por natureza, mas você entendeu e de longe, tem nesse filme a sua melhor participação no 'DCEU' (carismática, insana, engraçada), e o melhor, consegue ter seus momentos de brilho, sem que outro personagem seja ofuscado ou deixado de lado por conta disso. Esse filme é, em primeiro lugar, do Esquadrão como um todo.

O Sanguinário foi provavelmente o personagem que mais me deixou feliz, pra ser sincero. Eu particularmente acho o Idris Elba um ator subestimado, então foi ótimo ver ele tendo destaque como uma dos corações desse filme (até mesmo a relação dele com a filha) não é um mero repeteco do arco do Pistoleiro. É realmente um personagem com carisma, e não um tapa buraco, porque o Will Smith estava com a agenda ocupada. A Caça-Ratos de Daniela Melchior também é legal (é ela de fato que carrega um arco um pouco mais dramático) e o Tubarão-Rei do sempre grande Sylvester Stallone, como não poderia deixar de ser, rouba cenas para si, e sendo um ótimo exemplo de como abraçar o estúpido dos quadrinhos, pode ser excelente, desde que você saiba o que está fazendo. E quanto ao Pacificador do John Cena (afinal, ele vai ganhar uma série, como você já deve saber) prefiro não comentar muito aqui, mas ele também é um bom personagem.


Inclusive tem um ponto, que eu vi sendo levantado em uma crítica do Plano Crítico, que eu acho justo mencionar aqui. Esse filme é mesmo 'inovador' ou algo assim, como uns inclusive estão usando como uma das bases para elogios (merecidos) a produção? Eh, não. Dentro da franquia que pertence, é claramente um filme fora da caixinha, que tem orgulho de exaltar isso. Mas não é como se fosse a primeira vez, que você viu uma comédia de super-heróis nesse nibe, ou algo com tom mais satírico com o gênero (o próprio James Gunn fez anteriormente Super nesse sentido). E juntando com um ponto meu, dentro do contexto recente, esse filme nada mais é do que mais uma cria de Deadpool (no sentido de: é um filme de quadrinhos R, que conseguiu ser) justamente porque alguém mostrou pra estúdio, que se poderia ganhar rios de dinheiro com este tipo de filme, mesmo com uma faixa etária alta. Logan pôde ser do jeito que foi por causa daquele filme (Coringa), e da mesma forma, de forma deficiente, Aves de Rapina (e de forma puramente mal executada), o último Hellboy. Quem sabe um texto sobre essa 'Síndrome de Deadpool', possa ser pertinente no futuro, mas obviamente, esse Esquadrão entra muito bem para a fila das boas crias disso. O filme realmente precisa da faixa etária que tem, e dá motivo para uso (além do fato disso ser parte da cerne dos personagens escolhidos), nesse caso. Com certeza não seria a mesma coisa, caso ele fosse PG13.

Também pesa para certas exaltações nesse sentido, que o DCnauta sabe que há sempre um sentimento que parece que todo filme que a DC lança, será um teste de fogo. Sempre tem de ser "O Filme" para a internet, e memes do tipo "agora a DC lançou um filme bom" (até chegar naquele que nem tanto) ainda que tenham seu exagero, ressaltam que ainda está ocorrendo a passos para frente e para trás, a fase de tentar criar uma base de confiança com o público, prova está que a concorrência já passou definitivamente, já vai fazer 10 anos. O DCnauta sabe disso, e o melhor que pode fazer sempre, é dar apoio às decisões com miolos que a Warner faz com a editora. Já aceitaram que o universo compartilhado aqui morreu por enquanto no famigerado novembro de 2017, por exemplo. A base pra DC hoje, e o que é pra ela se preocupar mesmo, é continuar no geral fazendo simplesmente, isso: lançar filmes bons. O que conseguir a mais por consequência disso depois, é o velho efeito de causa, e consequência. 

No fim das contas, O Esquadrão Suicida é realmente um ótimo resultado das consequências do pior (e do melhor) que a DC teve de presenciar em seu ramo cinematográfico. Ainda que sem uma organização 100% na franquia no momento, o novo filme da equipe de vilões mostra que realmente quando a liberdade criativa é dada, em especial a alguém que sabe se aproveitar disso como um todo, os personagens desse universo demonstram que as altas variáveis na DC Films nunca tiveram a ver com o potencial dos mesmos. Sempre teve a haver, com bastidores conturbados, e direcionamentos ignorantes, de executivos que sempre subestimaram o real potencial presente em sua mãos. Muitos deles, que ainda tão lá dentro, diga-se de passagem, achando que todo mundo esqueceu do que fizeram.

 

James Gunn entrega aqui o que já fez com os próprios Guardiões da Galáxia, ao fazer você se importar com um bando de 'losers', ainda que igualmente ressalte nesse caso, que você não devia fazer isso, já que são todos rolos de papel higiênico, para a chefia lá de cima. É espalhafatoso, é exagerado, é cafona, e sempre quer ressaltar isso na sua cara (e é justamente por isso) que é ótimo. Porque não há receita melhor para a DC, do que aquela de simplesmente deixar seus personagens serem, o que sempre foram.


Nesse caso, você esperava mesmo outra coisa de um bando de criminosos, comandados por uma mulher sem escrúpulos, que são jogados em uma ilha comandada por um ditador, para enfrentar uma estrela do mar alienígena gigante? Isso que eu diria, que é insanidade.



Então é isso gente, espero que tenham gostado. Até a próxima!

Por: Riptor

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