terça-feira, 9 de junho de 2020

O que Aconteceu com Joe Johnston? - Parte 2

O Pico do Auge



* Atenção: O texto a seguir reflete unicamente à opinião de quem o Escreve. Esteja ciente disso

Eae,como vai? Aqui estamos com a segunda parte de "O que Aconteceu com Joe Johnston?". Gostaria de agradecer novamente ao feedback que recebi lá na primeira parte, e vi que o povo gostou mesmo. Então, bora lá.

Na primeira parte, vimos um pouco da  trajetória de Johnston antes de virar, verdadeiramente, um diretor de cinema (e como ele teve sorte ao já lançar um clássico), em sua primeira investida na cadeira de comando com Querida, Encolhi as Crianças, da Disney. Em contrapartida, financeiramente falando, The Rocketeer e Pagemaster já não haviam tido a mesma sorte (e nosso diretor sabia que,se deixasse isso como estava),Hollywood não tardaria em achar que sua febre com seu primeiro filme teria sido "apenas um golpe de sorte".

E com isso em mente, em dezembro de 1995, Johnston (dessa vez em parceria com a Sony Pictures) lançava o que seria, sem dúvida nenhuma, seu maior clássico. E por consequência, o seu melhor filme: Jumanji (baseado na obra literária de Chris Van Allsburg) e estrelado pelo clássico Robin Williams, que já tinha uma carreira consolidada a essa altura. Mas como vimos, Pagemaster também tinha uma estrela conhecida como protagonista, e isso não evitou que ele flopasse. A esse nível do campeonato, Johnston sabia bem qual era seu forte: fantasia (e sabia também que teria de fazer mais dessa vez),se quisesse que sua carreira com filmes de aventura não sofresse um tiro por causa de resultados financeiros.

E esse filme, é um bom exemplo de que, as vezes, uma pressão pode ser o que um profissional precisa para entregar o seu melhor: assim como no livro (e assim como nosso diretor já nos presentou), Jumanji apresentou um novo conceito fantasioso, mas igualmente perigoso: um misterioso tabuleiro mágico na verdade um tabuleiro de algum tipo de magia negra né, mas ok que, ao ser jogado seu jogo, precisa ser terminado, para só assim as vítimas estarem à salvo não apenas de plantas carnívoras, debandadas de rinocerontes, macacos ou mesmo de um leão. Mas também, de um astuto caçador de gente (Van Pelt),que sabe muito bem quem deve caçar. Sabendo de toda essa merda (sem dúvida porque sentiu na pele), eis que o filme começa em 1869, quando duas pessoas estão enterrando o tabuleiro na esperança de que ninguém nunca mais o encontre – e caso isso aconteça, que "Deus tenha piedade de suas almas".
E é claro que alguém acha essa merda, e é claro que quem decide jogar isso são crianças (uma é sugada para dentro do jogo),e ele acaba nunca sendo terminado. Anos depois, outra dupla de crianças acaba abrindo o poder do tabuleiro, e agora cabe a eles (e aos antigos jogadores, o que inclui Alan, personagem de Williams) terminaram isso antes que seja tarde demais.

🦁 Mas Porque Funciona?

E felizmente, o filme se aproveita muito bem da sua premissa,por m fatores: o estilo clássico e aventureiro de Johnston se encaixa perfeitamente com o longa (até por seu material de origem, muito bem extraído) também ter esse mesmo clima  fantasioso e absurdo, que se junta ainda à química entre Williams (sempre muito bem em comédias e filmes do tipo) com as então crianças (Kirsten Dunst & Bradley Pierce) que é funcional desde a primeira cena, assim como com Bonnie Hunt, como a garota traumatizada por ter visto seu amigo ser sugado para o tabuleiro, e que agora (já adulta) teria quase superado isso...até ver o mesmo em carne & osso.
Mas acima de humor, aventura e perigos, Jumanji também foi um passo maior que Joe Johnston deu de fato quando o assunto é trabalhar com o drama dos seus personagens. Acima do fantástico (e dos problemas daquele tabuleiro),se pode ver ainda outro, bem mais comum, e que você, quem sabe, já passou: os filhos tendo de lidar com sentimentos mal resolvidos dos pais (como no caso de Bonnie, uma menina que cresceu ouvindo que era louca), ou no próprio protagonista de Williams, que via o pai como excessivamente autoritário, mas que acaba sentindo sua falta ao sair do jogo,e ver que ele já não estava mais lá.
Falando nisso, é curioso notar que o ator do pai de Alan (Jonathan Hyde),também interpretou,no mesmo filme, o caçador. Há até uma teoria interessante sobre isso: o Caçador seria na verdade uma manifestação dos medos de Alan (já que segundo ela, o Jumanji evocaria Van Pelt na forma da pessoa que o jogador mais temia), e que no caso de Alan, era o próprio o pai - isso até explicaria porque Van Pelt, se você reparar, solta durante o filme as MESMAS críticas que o pai dele fazia. Ainda assim, ninguém da produção (o que inclui Johnston) confirmou a mesma.

E além disso, o diretor também flertou com Jumanji outro segmento, que ele posteriormente tentaria à sorte: o thriller (porque convenhamos, o filme pode ser até pra família e tal),mas aquela cena do Leão no piano é, no mínimo,tensa. E a trilha sonora, também ajuda o filme em muito, ainda mais pra esse tipo de momento.
Ainda assim,nem tudo é perfeito: convenhamos que infelizmente, parte do CGI do filme envelheceu mal (existem cenas que você vê que certos animais são praticamente bonecões de CGI), isso sem falar especificamente daqueles macacos (que já eram bizonhos) que destroem a cozinha. Por outro lado, os efeitos práticos (como uns que ele usou na cena do leão mesmo) ainda são bem convincentes, e são ótimos para que aquela fantasia ainda pareça palpável de alguma forma...mas a cena da debandada ainda é phoda.

Em outras palavras, o 1° Jumanji é, pra mim, a síntese do que é um filme de Joe Johnston: ainda que com um CGI meio datado em algumas partes, o filme (25 anos depois) continua muito divertido, com uma direção ótima de se acompanhar, com suas devidas tensões, problemas (no bom sentido) em seus personagens,e com um elenco que funciona perfeitamente entre si. Hora, um filme de aventura com o Robin Williams (que continua fazendo falta não só no cinema, mas como no mundo) nunca envelhece mal.
E o resultado, desde o lançamento, deu resultado para o diretor: Jumanji teve uma recepção melhor da crítica em comparação à Pagemaster (e o fator astro em alta deu resultado dessa vez), já que o filme arrecadou quase 263 milhões, contra um orçamento de 65 (e assim como aconteceu com Rocketeer),o criador da franquia (o citado Van Allsburg), também aprovou a adaptação, apesar das mudanças em relação ao livro,além do fato do longa não ser em sua visão tão "peculiar" quanto sua obra: "O filme é fiel em reproduzir o nível de caos que advém de ter um animal da selva em sua casa. É um bom filme".

E assim, Johnston enfim dava ao cinema a resposta que precisava dar: "Eu dei certo, porque eu tenho jeito". E assim,a Era de Ouro do mesmo nos anos 90 atingia seu ponto máximo.
Mas ainda que Johnston pudesse,se quisesse, terminar a década com um sucesso de público desses, ele queria mais. E mostrou, ao trabalhar  com a Universal em 99, que tinha mais uma cartada na manga,antes de pularmos de época (no que seria o seu filme mais premiado),quando falamos de crítica.
O Céu de Outubro, que foi produzido por Charles Gordon (produtor que se envolveu no meio em sucessos da época como K-9 - Um Policial Bom Pra Cachorro),e Duro de Matar 2, além do clássico Campo dos Sonhos,lançado ainda no final da década de 80, quando Johnston ainda lançava Querida, Encolhi as Crianças. E em seu elenco, tínhamos o (ainda franzino) Jake Gyllenhaal, acompanhado de Laura Dern, já na boca do povo graças ao estouro de Jurassic Park. 
Mas dessa vez, não estávamos falando de uma comédia,ou um filme de aventura: October Sky era a entrada de Joe Johnston verdadeiramente no drama (e um passo que sempre é importante, ainda que para alguns arriscado) para um diretor. Mostrar sua versatilidade. E felizmente,nosso diretor tinha isso ao ter praticado um pouco em Jumanji.

Com a frase (sempre bem estampada pelas empresas) de "baseado em uma história real", Céu de Outubro acompanha o início (e a busca por um sonho) de Homer Hickman (Gyllenhaal), que um dia seria um engenheiro da NASA. Mas antes de começar sua vida profissional projetando naves ou treinando astronautas, o mesmo era um adolescente muito esforçado e inteligente (e que se impressiona tanto ao ver à então União Soviética lançar o primeiro satélite da história, em outubro de 1957) que ele decide  construir seu próprio foguete,com a ajuda de seus amigos e de sua professora (Dern). Por outro lado,o pai de Homer, incapaz de compreender o entusiasmo do filho, não o apoia (ainda que isso não diminua o entusiasmo do mesmo) de ir atrás do que acredita, ao mesmo tempo que precisa passar por problemas comuns de um jovem.

🚀 Você é o seu Próprio Céu (e o seu Próprio Limite) 
Todos nós temos sonhos, dos mais variados formatos. Alguns quem sabe "bobos", que podem ser considerados exagerados, enquanto que outros parecem "simples",mas incrivelmente gratificantes para quem o sonha. O Céu de Outubro é um filme justamente sobre isso: o quanto você realmente acredita não só no seu sonho, mas no seu próprio desejo (o seu Monte Everest), e que necessitarão, em determinados momentos, de decisões decisivas, e de importantes opções de escolha que faremos em nossas vidas. Ser conduzido por outras pessoas ou fatores alheios para seus objetivos, ouvindo seus conselhos (e vendo as opções em seus momentos da vida) não é errado,desde que você saiba os filtrar,já que quem sabe o quer, sempre deve ser você. É a sua vida. Os seus sonhos.

Sonhos, que infelizmente, muitas vezes são esquecidos pelos seus próprios sonhadores, que até por isso, acham que quem não fez isso, está perdendo seu próprio tempo (inegavelmente o grande dono desse tipo de descrição no filme é o próprio pai de Hickman),interpretado por Chris Cooper. Um homem duro, autoritário, e que no máximo sonha que o filho tome seu lugar como administrador e chefe de uma mineradora de carvão, e que acaba sendo um bom destaque no sentido de atuação, ao lado do próprio Gyllenhaal, que já mostrava seu potencial de que poderia ser um grande ator no futuro. Dito e feito.
Mas um outro ponto legal de se ver desse filme é como Joe Johnston entendeu que, ainda que fosse seu primeiro filme fora de sua área de conforto, ele não precisava, necessariamente, fazer algo fora da curva para chamar a atenção (que ele com certeza já tinha de volta): October Sky é aquela clássica história de superação, ainda que o mundo taque meteoros e satélites contra você. Ele tem seu humor (os momentos de superação, os fracassos de seu personagem) e, enfim, a sua volta por cima. E,acima de tudo, mostra como pode ser satisfatório ver que sua luta em busca do que acredita não é uma besteira: é, simplesmente, uma amostra de que você não quer ser mais um no mundo.

O resultado não poderia ter sido outro: Céu de Outubro foi aclamado pela crítica (e levou para casa 3 prêmios),na forma do OCIC Award para Joe Johnston durante o Ajijic International Film Festival de 1999, o Critics 'Choice Movie Awards de Melhor Filme para a Família pela Broadcast Film Critics Association (em 2000) e um Humanitas Prize 1999 pela categoria de "filmes em destaque". E ainda que não tenha ganhado nada,o próprio Jake Gyllenhaal foi indicado em 3 prêmios pelo filme: o Teen Choice Awards (de Melhor Nova Estrela de Cinema Masculino), o YoungStar Awards (de Melhor Ator Jovem/Performance em um Filme Dramático) e o Young Artist Awards, onde foi indicado na categoria de Melhor Ator Jovem. 
Apesar disso,é fato que o filme (financeiramente falando) não fez tanto barulho assim: ele arrecadou quase 38 milhões,contra um orçamento de 25 (um resultado fraco),principalmente se compararmos isso aos 260 milhões que Jumanji havia feito 4 anos antes (mas em contrapartida), o diretor tinha dessa vez como "escudo" justamente à parte crítica do filme, que fazia dele assim ainda um nome bastante popular. E como eu já deixei claro aqui, ainda que eu considere Jumanji ainda o melhor filme de sua carreira,Johnston não estaria errado de se aproveitar dessa sua  'proteção' merecida, já que seu 5° filme é realmente digno de nota.
No fim das contas, vimos aqui a superação (necessária não com seus fãs, mas com a máquina que mexe Hollywood) de Joe Johnston para continuar sendo um diretor de destaque no meio. Um sucesso de bilheteria,e um sucesso de crítica, que ainda mostrou que o diretor poderia brincar muito bem fora de seu terreno favorito,ao fechar uma década em ascensão. 

No entanto, como o título sugere, essa "série" de postagens não foi feita meramente para relembrar glórias do diretor. Afinal,1999 marca o fim da Era de Ouro de nosso contador de histórias fantásticas, que teria de agora enfrentar o seu maior pesar, não apenas na forma de crítica,ou de bilheteria. Pesar este, que ainda infelizmente o assombraria até os dias de hoje. 
OS ANOS 2000
Mas isso,veremos na próxima parte. Até a próxima!

Por: Riptor 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...