22H15
- Queiroz, você tá vivo?
- Argh, que pergunta mais idiota, o que você acha?, dizia o mesmo. Ele já havia acordado a esse nível, enquanto ambos estavam em celas diferentes.
- Onde é que estamos?
- Continua soando uma cadeia pra mim, de toda forma.
Ambos olhavam ao redor. Pareciam estar em um galpão escuro, com portas de metal fechando outros cantos do lugar. Mas aos poucos, elas também iriam se abrir.
- O que tá acontecendo aqui?
- Bem vindo ao clube que gostaria de saber, Marcos.
- Se isso for algum teste pra aturar essa sua cara, acho que já podem me reprovar.
- Ah se toca, tamo tudo na mesma m...
- Vocês me fazem relembrar, com péssimo gosto, um bando de maritacas barulhentas!
- Hey, você também tá aqui?
- É o que parece, brutamontes. Uma hora você está compartilhando a cela com seu irmão, na outr...
Antes que ele terminasse, a cela ao seu lado começou a se balançar ferozmente. Na verdade, aquela parecia mais uma jaula do que uma cela comum, para aguentar as batidas que lhe eram dadas.
- Quem ou que coisa que colocaram ai?!
- É uma ótima pergunta, que eu adoraria conferir pessoalmente.
- Ah......eu acho que você não iria se arrepender disso...ou talvez iria, mas já seria tarde demais!, dizia nas sombras quem estava ali, preso.
- Isso já está ficando mais interessante.
Nesse momento, todos viraram seus olhos para a outra cela, antes obscurecida. Tudo graças a uma certa iluminação que vinha com ela.
- Ah, ótimo, mais um.
- Alguém da cadeia decidiu que merecíamos uma reunião por bom comportamento?, ironizou. Ah, droga de luz...
- Eu ainda não entendo nada.
- Nessas horas é que devia aparecer alguém pra nos dar alguma satisfação.
- E você acha que eles devem explicações pra nós? Não me faça rir.
- Então me diz espertalhão, pra que nos tirar de lá, por nada?
- Eu sou péssimo com apostas.
Naquele momento, a ala da frente se abriu, enquanto uma sombra entrava através dela. Todos ficaram em silêncio, para ver aonde isso levaria.
- Eu noto que já parecem bem motivados a trocarem diálogos entre vocês.
- O que tá acontecendo aqui?
- Ah, claro. A pergunta mais feita por todos vocês. O que está acontecendo, aonde estão. Porque estão aqui. Imagino que já tenham suas suposições.
- Você é da polícia?
- Não, meu caro. Ainda que eu possa ter os meus meios, para lidar com algumas coisas deles.
- Então você deu um jeito de nos transferir pra cá.
- Exatamente.
- E o que você ganha fazendo isso?, indagou o outro. O responsável se aproximou lentamente um pouco, dando um pequeno sorriso.
- Você provavelmente não se importa em saber disso, e eu não vou te julgar. Mas, eu posso dizer que não tive um bom pai. Ele era arrogante. Todos os seus projetos falhos, eram sempre "culpa dos outros", porque no fundo, ele nunca iria admitir que não poderia fazer nada, sozinho, dizia. - O que sobrou para ele foi querer descontar seu fracasso em mim. Um dia, ele me trancou em um galpão abandonado, como esse que vocês estão. Estava chovendo, e o teto deixava a água passar através dos buracos. Ele dizia que eu devia “enfrentar a escuridão” durante a noite toda, se eu quisesse sair no dia seguinte.
- Uma provação.
- Exato. Ele queria se sentir menos inferior sabendo que eu também iria falhar, mas não aconteceu. Eu me tornei aquilo que ele apenas sonhou em ser. Talvez a única coisa correta que ele me ensinou, é que ninguém faz nada sem pensar em uma retribuição. Mas eu aprendi sozinho, que o fracasso é o que vai realmente te motivar a alcançar isso.
- E aonde a gente entra nisso?!
- Bem....todos vocês tem algo em comum. Um objetivo em comum, mas que falhou. E o motivo dessa falha, é o que fez vocês virem pra cá.
- Queiroz, ele tá falando d..
- Cala a b...
- Porque não deixa o seu colega ter o momento de expressar seu ponto de vista?
- ......
- Pode continuar, meu amigo. O que você dizia?
- .....Você diz o que fez a gente vir pra cá, né? De quem foi a culpa. Você tá falando daquele garoto.
- Estão vendo? As vezes, as pessoas mais inesperadas podem surpreender com seu entendimento.
- Queiroz, o que ele quis dizer com isso?
- Deixa ele continuar.
- Agradeço. Todos vocês vieram para cá em circunstâncias diferentes. Mas o motivo sempre girou em torno dele. Ele se sobressaiu em quase todos os cenários, com cada um de vocês.
- O que quer dizer com quase todos?
- O que quero dizer é que eu o vejo até como uma "ajuda" para mim, em algumas ocasiões. Mas, ele também pode ser um problema eventual, assim como já foi para vocês.
- Então você também quer se livrar dele?
- Basicamente. Só que ainda assim, eu não preciso fazer isso sozinho. Não, se temos o mesmo objetivo. Ele já venceu todos vocês. Mas será que faria isso diante de todos?
[Um deles abre um sorriso após pensar sobre isso] - Isso é algum tipo de financiamento?
- Se interpreta assim..., dizia, ao dar um pequeno sorriso de lado. - Todos vocês já experimentaram o fracasso. Mas assim como eu, vocês podem usar isso como a sua real motivação. Uma motivação conjunta....e destrutiva.
Nesse momento, todos trocaram olhares uns para os outros. Desta vez, cada um parecia convencido daquelas palavras, enquanto continuavam ouvindo.
- Eu vejo o fracasso em cada um de vocês. Mas que forma melhor de ver o fracasso, do que apenas uma pausa, antes da conquista. Então, o que vocês me dizem?, continuou aquele. Naquele momento, apenas observou as facetas de todos, enquanto já parecia tirar uma resposta com base nelas, antes de se virar para se retirar dali.
- Mas afinal, quem é você?, indagou um deles. A figura já iria se retirar dali, antes de fazer uma pequena pausa, sorrindo mais uma vez.
- A partir de agora, vocês terão as respostas. Até lá, só me sobra uma pergunta.
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